Memórias

As primeiras do dia

10 de novembro de 2020

Carneiro Arnaud foi o único candidato apoiado pelo Governo do Estado que se elegeu prefeito de João Pessoa, embora Marcus Odilon, o seu adversário nas eleições de 1985, morresse jurando que tomaram a sua eleição no transporte das urnas dos locais de votação para o Clube Astréa, onde se deu a apuração.

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Carneiro recebia o apoio do governador Wilson Braga, enquanto Odilon era apoiado pelo deputado Tarcisio Burity.

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Foi uma campanha muito bonita, com grandes comícios e incontáveis passeatas.

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A partir daí, nunca mais o Governo do Estado conseguiu eleger um prefeito.

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Em 89 Braga foi o prefeito eleito, em oposição ao Governo de Tarcisio Burity.

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Quatro anos depois, Lúcia Braga seria a favorita, mas como cassaram suas pretensões, ela escolheu Chico Franca para substitui-la. Franca derrotou, fragorosamente, o candidato  do então PMDB de Mariz e Maranhão, Delosmar Mendonça.

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Foi aí que apareceu Cícero Lucena, ex-governador e ex-ministro, que entrou na disputa para ser eleito prefeito, sendo reeleito quatro anos depois. O governador era Zé Maranhão e Cícero era o candidato dos Cunha Lima.

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Na eleição seguinte,Cícero apresentou, como seu candidato, o hoje deputado federal Ruy Carneiro. Naquele tempo Ruy e Cícero eram amigos. O governador do Estado era Cássio Cunha Lima, que também apoiou Ruy Carneiro. Ricardo Coutinho, que saíra do PT porque o PT lhe negara legenda para disputar a Prefeitura, entrou no PSB para ser o candidato da oposição. Ganhou de Ruy. E ganhou de lapada.

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Quatro anos depois, ainda no Governo Cássio, Ricardo enfrentou o candidato João Gonçalves, indicado pelos tucanos “para cuidar da gente”. João perdeu feio e acusou os seus apoiadores de tê-lo jogado na fogueira.

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A essa altura do campeonato, o governador Cássio Cunha Lima fora cassado pela Justiça Eleitoral e Zé Maranhão, segundo colocado no pleito de 2006, voltava a ser governador pela terceira vez. Zé tentou a reeleição em 2010, mas foi derrotado por Ricardo Coutinho, que deixara a Prefeitura nas mãos de Luciano Agra, seu vice-prefeito.

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Agra queria ser o candidato a reeleição, como não conseguiu, apoiou o então petista Luciano Cartaxo. E Luciano se elegeu em segundo turno, derrotando o ex-prefeito Cícero Lucena.

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O candidato do PT teve 68,13% dos votos válidos (246.581 votos).
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O candidato Cícero Lucena (PSDB) obteve 115.369 votos, o que corresponde a 31,87% dos votos válidos.

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Nesse pleito, o Governo, então dirigido por Ricardo Coutinho,tentou eleger, sem êxito, a deputada Estela Bezerra, que sequer conseguiu ir para o segundo turno.

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Veio o pleito de 2016, Luciano Cartaxo , que trocou o PT pelo PSD, foi reeleito com 222.689 votos, o que corresponde a 59,67% dos votos válidos, contra 125.146 de Cida Ramos (PSB).

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Notem que, tanto em 2012 quanto em 2016 o governador do Estado era Ricardo Coutinho, duas vezes prefeito e duas vezes governador. Em 2016, inclusive, fora reeleito enfrentando Cássio Cunha Lima, tido e havido como o bicho papão da política. Pois ele, Ricardo, com toda sua popularidade, não conseguiu emplacar suas candidatas ao cargo de prefeito porque o povo de João Pessoa tem o hábito de não votar em candidato a prefeito apoiado pelo Governo do Estado.

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Mas a derrota mais fragorosa imposta por um candidato da oposição ao Governo do Estado em João Pessoa aconteceu na década de 60.

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O governador era Pedro Gondim, popular, querido e amado pelo povo da Paraíba. Respaldado nessa popularidade, Gondim lançou Robson Espínola para prefeito e sua eleição era tida como líquida e certa. Era tão certa a eleição de Robson Espínola que os caciques da oposição decidiram cruzar os braços. Era inútil remar contra a maré, diziam.

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Mas havia um vereador sem muito brilho e com muito atrevimento na jogada. Chamava-se Domingos Mendonça Neto. Filiado ao PSD, Domingos pediu a Ruy Carneiro a legenda para disputar a Prefeitura. Ruy deu a contragosto. Achava que Domingos não regulava bem do juízo. Como explicar tanto atrevimento?

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E começou a campanha. Robson, com a estrutura oficial e com o apoio declarado de Pedro Gondim, fazia uma campanha suntuosa. Grandes comícios recheados a shows pirotécnicos, moças lindas enfeitando os palanques, bandeiras desfraldadas e cantores renomados animando a moçada. E domingos a pé, sem apoio dos grandes do PSD, visitando as casas dos eleitores, entrando nas cozinhas, mexendo nas panelas, comendo cuscuz nas feiras livres, botando meninos catarrentos nos braços e fazendo passeatas noturnas.

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O resultado da eleição todos viram: Robson perdeu e Domingos Mendonça Neto se elegeu prefeito contra tudo e contra todos.

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É por isso que eu digo: O povo de João Pessoa não gosta de votar em candidato a prefeito apoiado pelo Governo do Estado.

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