As primeiras do dia

Em outros tempos, o vinho já teria descido de goela abaixo como desce a água da Cachoeira do Roncador em demanda de Pirpirituba. Mas os tempos são outros, os costumes mudaram, a pandemia encostou todo mundo na parede e desafiou: “Saia pro bar se for macho!” Como eu não sou, fico aqui escondido, sem botar nem mesmo a ponta do nariz pro lado de fora, como se fosse o fugitivo da polícia que se esconde dela para se livrar da cadeia.

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E ainda por cima com a proibição ditada pela vacina. Quem tomou, não bebe. E eu tomei. Vou tomar a segunda dose dia 16 e depois da segunda, ainda vem mais 15 dias de castigo. Um castigo bom, um castigo para me permitir viver sem intubação, sem ficar na fila de espera dos hospitais e sem ser enterrado às escondidas, longe de todos, principalmente da família.

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Mas eu falava de outros tempos. E lá estávamos nós na casa do velho Cabral, no Ernani Sátyro, derrubando um botijão de cinco litros de Carreteiro, de Sangue de Boi ou de Frei Damião, o bicho gelado descendo de goela abaixo, enquanto da cozinha vinha o cheiro gostoso do peixe no fogo, do bredo no coco, do pirão de farinha feito com caldo de cioba.

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Indo mais longe no tempo, Zé Carnaíba aparece no alto da ladeira carregando a enfieira de traíras gordas pescadas nas águas escuras do Açude Velho com seu anzol de ferro pregado na vara comprida de frejorge com a linha grossa comprada a metro na loja de João França. Traíras que Dona Emília preparava com leite de gado e que, de tão gostosas, iam pra barriga com espinha e tudo.

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Num tempo em que a gente se lembrava do sofrimento de Jesus apenas na sexta-feira, dia do seu sacrifício.O almoço demorava, era jejum forçado, nem banho era permitido para não quebrar o jejum. Dia em que até as raparigas de Estrela botavam cadeado nos seus mistérios para impedir o pecado.

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Sofrimento que era compensado no sábado de aleluia, sábado de festejar a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo com muito forró, cachaça e namoros nos escondidos dos becos. E ao mesmo tempo em que se festejava a ida de Jesus ao céu, matava-se com festa o Judas traidor, que amanhecia o dia pendurado num pau de agave e era derrubado com tiros de espingardas e bombas colocadas no seu bucho cheio de confeitos, pirulitos e caramelos, que voavam pelo chão para alegria da meninada que nada entendia e a tudo festejava.

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Tem muito figurão curtindo a semana santa no brejo de Bananeiras. Um verdadeiro lockdown turístico.

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Falar em Bananeiras, morreu o delegado da cidade, Ricardo Rolim.

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De covid.

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A ajuda da Prefeitura de João Pessoa aos artistas está sendo criticada nas redes sociais. Cada artista vai receber 600 reais em duas prestações de 300. Não dá nem pra comprar o peixe da semana santa.

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O delegado Miguel Lucena completa daqui a seis meses o tempo para se aposentar.

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Ele ainda não sabe se pendura a chuteira ou se espera mais um pouco.

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Opções não lhe faltam. Bem relacionado em Brasília, pode voltar ao jornalismo, pode advogar ou virar escritor.

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É o fraco!

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Falar em escritor, aguardem o próximo livro de contos de Aldo Lopes. Li um dos contos, fabuloso, incrível, bom demais.

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A Anvisa negou autorização para importação de 3 milhões de doses da vacina Covachin.

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A burocracia atrapalhando a essa altura do campeonato é um absurdo.

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Esse povo da Anvisa precisa entender que na situação atual, até pingo de colírio serve.

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Ou chá de quebra pedra.

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Ou reza de mulher desdentada.

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E eu paro por aqui.