Por Flávio Lúcio
Mesmo para aqueles acostumados às traições da política, surpreendeu a brevidade com que o atual governador João Azevedo deixou de lado os escrúpulos para romper com o antecessor, Ricardo Coutinho, que foi o principal responsável pela consagradora vitória de 2018, obtida em primeiro turno.
Porque, convenhamos, onze meses depois de tomar posse no cargo de governador é tempo breve demais para um rompimento político, mesmo considerando os padrões de lealdade com compromissos da maioria dos que fazem política. E e isso se considerarmos apenas o tempo que levou para oficialização do rompimento, porque os movimentos do governador e seu grupo eram evidente demais para não deixar dúvidas do que estava em curso.
Na nota que tornou público o rompimento, João Azevedo insiste na pueril justificativa de que rompeu com Ricardo Coutinho por conta da dissolução do Diretório Estadual do PSB.
É absolutamente incompreensível para qualquer cidadão, sobretudo para os que votaram em João Azevedo, que alguém como ele, que recebeu um mandato de governador sem muito esforço, apenas a obrigação de, como candidato, viajar pelo estado, participar de comícios e gravar programas de TV, negue a quem foi o principal responsável por sua eleição, apoio para que se tornasse presidente do PSB.
Principalmente depois do sacrifício que Ricardo Coutinho fez ao recusar uma eleição quase certa para o Senado unicamente para ajudar a eleger João Azevedo para o governo.
E não foi só isso. Ricardo Coutinho foi o responsável por toda a articulação, pela montagem do palanque, pelo discurso de campanha e pela transferência de prestígio para um candidato que era absolutamente desconhecido da amplíssima maioria dos paraibanos.
Na nota, João Azevedo chega a chamar de “golpe”, de “ato de força” a indicação de Ricardo Coutinho para presidir uma comissão provisória composta por nove membros, dos quais quatro, incluindo o próprio João Azevedo, eram ligados à novíssima corrente política da Paraíba, o azevedismo.
E Ricardo na presidência do PSB provocou, segundo a nota do governador, um “incômodo” de tal ordem que “mais cedo ou mais tarde” o levaria a anunciar o rompimento.
Isso dito por alguém que nunca manifestou publicamente qualquer interesse pela vida partidária. E nem internamente, segundo ficamos sabendo após ler a nota que o PSB lançou como resposta. Assim, João Azevedo sai do partido que o elegeu governador “em busca da democracia perdida,” ou seja, em busca de um partido que possa mandar à vontade.
Reconheçamos que isso é argumento de coronel da política! Achar que ter o cargo de maior poder político da Paraíba lhe dá o direito de mandar no partido a qual é filiado, só aceitando nele permanecer se tiver o controle do mesmo, é fruto de uma mentalidade mandonista, absolutamente incompatível com os tempos de renovação que a política paraibana viveu nos últimos anos.
E esse fato parece ser inalcançável para Azevedo: a principal explicação para que alguém com sua origem um dia se sonhasse em ser governador, alguém nascido em Cruz das Armas, que não herdou da família os votos que o povo paraibano nele depositou, esta ligada ao fato de que a Paraíba estava farta de coronéis, dos donos do poder.
E para decepção da Paraíba, no cargo João Azevedo trai não apenas Ricardo Coutinho e o partido que o elegeu, mas essas expectativas de que a o povo paraibano continuaria se livrando de velhas práticas, que agora prometem voltar com força ao centro do poder político em nosso estado.
João Azevedo ainda diz na nota que que a condição para que o “diálogo [fosse] restabelecido” e a “ordem verdadeiramente democrática voltasse a predominar no PSB paraibano” seria o retorno da “ordem” anterior, na qual Edvaldo Rosas voltaria à presidência do partido.
Acho que ninguém, nem o próprio Edvaldo Rosas, sabia da dedicação canina que o atual governador passou a ter por Edivaldo Rosas, que sempre foi um burocrata do partido – Edvaldo, ressalte-se, que é hoje Secretário de Articulação Política de João Azevedo. Assim como João Azevedo, Edvaldo Rosas foi um dos tantos que viraram as costas ao ex-governador em troca de cargos no atual governo.
João Azevedo reclama no nota, sem se pergunta a respeito dos motivos, que, “ironicamente”, as maiores críticas ao seu governo “não vieram da oposição”, mas de “membros do nosso próprio partido”, como se o governador esperasse que a resposta a seus atos de traição, que agora se concretizam, fosse o silêncio.
Nesse ponto da nota, especialmente, João Azevedo mostra o tamanho de sua fraqueza ao dizer que sabia de “boicotes e sabotagens” no governo, mas não nomeia de quem, quais, onde e quando, e mesmo tendo tomado conhecimento, permitiu que continuassem a acontecer.
Se isso realmente aconteceu, temos aqui um crime de responsabilidade assumido publicamente, porque ter conhecimento de que “sabotagens” estavam em curso e não tomar providências é um crime contra a administração pública.
Impressiona, por fim, o tom de “vítima” que um governador adota para atacar alguém como Ricardo Coutinho, o que é mais um traço a revelar a pequenez do homem que assumiu o governo da Paraíba.
Enquanto João Azevedo dispõe de toda a máquina do estado para atacar o ex-governador – inclusive financiando, com recursos da Secom, blogs que o atacam cotidianamente o – Ricardo Coutinho dispõe apenas de sua liderança política e de sua autoridade moral. E o fato de não se ajoelhar diante do novo “coronel” para preservar espaços no atual governo, aumentam ainda mais, aos olhos do povo, a estatura política de Ricardo Coutinho.
João Azevedo encerra hoje um capítulo de sua vida política. E a última frase da nota que o PSB divulgou logo após a confirmação da saída do atual governador dos quadros do partido resume bem como a direção do partido, principalmente Ricardo Coutinho, concebem o passo que João Azevedo anunciou hoje:
“A política ama a traição, mas abomina o traidor”.
Eis o fantasma que acompanhará João Azevedo pelos próximos três anos. Isso se ele conseguir terminar o mandato
10 Comentários
Definindo o ato: traição, ingratidão, deslealdade, fraqueza de caráter e ambição. Tô indignada.
Que decepção! É triste quando uma pessoa se embriaga com o poder. Já dizia minha vó! Quem se junta com porcos…farelos come. Tenho pena desse rapaz quando a caneta começar a falhar. Haja tinta.!Parou de escrever o bicho come. Ainda mais quando a carcaça é molinha.e rosada..
Muita traição desse João
Revoltado e envergonhado por Ricardo ter apoiado esse João
Ricardo errou, vacilou e o João nós enganou.
João, se prepara para o o esquecimento da população, isso não se faz
Não sou poeta, sou apenas um cidadão com a revolta em meu coração, por ter votado nesse tal João.
A VOCÊ, RICARDO, MINHA ETERNA GRATIDÃO. TRAICAO JAMAIS. CONTINUE CONTANDO COM MINHA FAMILIA E MINHA MILITANCIA. AOS NAVEGANTES , NAO SOU FUNCIONÁRIO PUBLICO. APOIO O MAIOR PROJETO POLÍTICO IMPLANTADO NA PB.
Realmente, uma atitude incompreensível! Esquecer aquele que lhe deu a mão por tanto tempo e que sempre foi uma referência de trabalho. Se dedicar a um projeto não é fácil. É para poucos. Não, não estou falando de Ricardo para João, mas de João para Ricardo. Ricardo sempre foi um líder e assim poderia ser comportar, sabendo reconhecer sucessores e deixando que eles também possam dar sua contribuição, com luz própria. Infelizmente, a Paraíba perde com essa cisão e Ricardo, com certeza, fica menor.
Que os diga, Adriano Galdino, Hervásio Bezerra e Ricardo Barbosa! Os 3 piores traidores!! Mas, 2022, num instante chega.
Lenin Moreno da Paraíba.
Uma decisão infeliz, acredito eu! Mas a lei do retorno é implacável, não Bastião?!
A gratidão é a memória do coração (Para Francisco) Quem não tem gratidão não tem coração com memória.É mal agradecido.Ingrato.O tempo não perdoa,aguardem.
O maior inimigo de um político não está entre seus adversários e sim entre os seus aliados principalmente quando ele está no poder.Essa Sacanagem desse João Azevedo vai ficar na história da Paraíba.