Ninguém entendeu a minha gargalhada, nem a mulher. Mas ela tinha sentido. Diante de coisas absurdas você ou gargalha ou chora. Como eu não sei chorar, gargalhei.
Negócio seguinte: Fui ao supermercado com a minha patroa e, ao parar diante da vitrine que oferecia carne bovina, avistei, em destaque, um anúncio onde aparecia um quilo de bucho por 29 reais. Bucho de boi nunca teve preço, sempre foi tratado como o primo pobre das carnes nobres. Pois agora ele está chique, rico, primorosamente elitizado. E só chega pra boca de quem pode.
Até me lembrei daquele tempo de infância lá no sertão, quando o bucho era jogado fora para alimentar os urubus. Os meninos pobres pegavam os excluídos, lavavam-nos nas águas sujas da Lagoa da Perdição e levavam para casa. Ali as mães preparavam quitutes primorosos, que eram comidos de boca cheia pela meninada e pelos não meninos.
Fosse hoje, os meninos pobres daquele tempo seriam meninos de elite. Estariam adquirindo bucho a preço de dólar, coisa de se ver com os olhos e lamber com a testa. Ou então não estariam adquirindo nem isso, teriam perdido o direito de enganar o bucho com o bucho desprezado do boi, ou do bode, ou do porco, ou da galinha de capoeira.
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