Esperei 66 anos da minha vida para ver um entrevistador do Ibope, mas hoje eu vi. E bem pertinho da minha casa. O sujeito é normal, tem duas pernas, duas mãos, fala português e, creia, é gentil.
Me pegou na saída do prédio e perguntou se eu podia perder alguns minutos do meu precioso tempo com ele. Quis dizer que não, pensei que fosse um vendedor de cuecas igual àquele que me abordou no Paraguai.
O paraguaio me jogou na caixa dos peitos um pacote de cuecas, eu disse que não queria, ele baixou o preço, continuei não querendo, ele insistiu e eu tive que apelar:
-Meu amigo, eu ando no osso, não uso cueca.
O rapaz da pesquisa, felizmente, não era vendedor. Tratava-se de um representante de um instituto de pes quisa que queria saber das minhas preferências eleitorais.
Não preciso dizer que fiquei sem fala, emocionado. Finalmente, depois de tanta espera, de tanta descrença, de tanta canseira, eu tinha diante dos meus belos olhos castanhos a figura de um pesquisador.
Acabara de perder a virgindade. A última, a derradeira.
Pelas perguntas que me fez, notei que ele tinha uma queda por Daniela Ribeiro. Perguntou o que achava da possibilidade da bela filha de Enivaldo disputar uma cadeira de senadora, se ela se daria melhor se figurasse na chapa de João Azevedo, de Lucélio, de Lígia ou de Zé Maranhão, em quem eu votaria para governador, quais os meus dois nomes para o Senado e quem eu não votaria, de jeito nenhum, para o Senado da República.
Respondi a todas as perguntas sem pestanejar, mas, claro, não declinarei aqui as minhas respostas. Elas que sirvam de embasamento para os donos da pesquisa.
Terminada a entrevista, o rapaz agradeceu e foi embora. E eu fiquei ali parado, abestado, feito um menino que ganhou pela primeira vez seu pirulito de açúcar.
E pelo que vi hoje, não custa avisar aos candidatos e ao distinto público: Se preparem que vem a primeira pesquisa por aí.
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