Imagem Google, meramente ilustrativa
Miguezim foi obrigado a parar o café da manhã para atender a chamada. Do outro lado da linha uma voz melosa o convidava para uma avaliação grátis na clínica de Doutor Everaldo, o mais comentado e divulgado dentista de Curral Novo.
– Venha que é de graça, com direito a quitutes e manjares -, insistiu a moça.
Pensando nos quitutes e na gratuidade do serviço, Miguezim nem se deu ao trabalho de avisar na repartição. Foi direto. Na entrada, duas recepcionistas ricamente vestidas, cabelos produzidos, lábios carnudos, dentes perfeitos a enfeitar sorrisos de anjos, o receberam. E de logo o encaminharam ao doutor.
Que o mandou a sentar na belíssima cadeira giratória de avaliações. O doutor mexeu nos dentes, apertou as bochechas, avaliou a face, pontuou com um lápis lugares passíveis de mexidas científicas, fez anotações finais num papel com cara de orçamento, em seguida convidou a levantar da cadeira e experimentar os quitutes da casa.
Foi aí onde Miguel tirou o bucho do atraso. Comeu rabo de tatu, pastel açucarado, rocambole de goiaba, empadinhas de vários sabores, bebeu suco, experimentou um iogurte de umbu, depois lavou com café pingado no leite e, com um palito no canto da boca, foi mandado pelo cientista ao setor de orçamento para destrinchar os escritos.
Na sala orçamentária, uma deslumbrante morena de belas carnes e peitos arfantes o acomodou em fofa poltrona, olhou o papel e deu a notícia:
– Olhe, doutor, aqui está dizendo que seus dentes serão renovados, os vazios preenchidos e, para coroar a transformação, todo o seu rosto será reformado. O senhor vai voltar a ser menino. E tudo na base da promoção: R$ 64 mil.
Miguezim pulou da cadeira, deu um danou-se, soltou um “viuge”, seguiu em marcha batida para a porta de saída e de lá se despediu: “Moça, gastar R$ 64 mil com uma chapa, só se eu estivesse viçando “.
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Aí takamulesta!