RAMALHO LEITE
Como diria o Martinho Moreira Franco, o trocadilho é horrível, mas irresistível. Ayrton Senna saiu de cena, há vinte e cinco anos, na curva de Tamburello, no circuito Ímola de Formula 1, em San Marino, Itália, a primeiro de maio de 1994. Dizem que os americanos do norte costumam testar a memória de seus próximos, indagando onde estavam quando de um acontecimento importante. Assim, se pergunta: onde você estava quando Kennedy foi morto? E no 11 de setembro? Antes que algum americano me pergunte, na hora do acidente de Ayrton Senna eu estava em um hotel de Salvador, a espera de uma segunda feira de trabalho no interior da Bahia. Como diretor do Banco do Nordeste, atendera a convite do então deputado Aroldo Cedraz para testemunhar a assinatura de contratos do banco com associações e cooperativa s, na cidade de Ourolândia. Com a TV ligada na prova, assisti, ao vivo, o acidente e, na minha mente, conclui que fora fatal. Quarenta minutos depois, o mundo recebia a confirmação: o jovem brasileiro, tricampeão da formula um, saiu da vida para entrar, definitivamente, na história do esporte mundial.
Até hoje as versões sobre as causas do acidente queimam os neurônios dos especialistas. Comecemos com o ânimo do piloto. Amargava, Ayton Senna, alguns contratempos. Um novato chamado Michael Schumacher já conseguira duas vitórias naquela temporada e Ayrton, apesar de tricampeão, não somara nenhum ponto. Aliás, com o brasileiro fora, o alemão conquistou o título mundial. Por outro lado, a bruxa andava à solta na pista de Ímola. Nos treinamentos, dois acidentes e um deles fatal. Na sexta feira, Rubens Barrichello foi gravemente ferido e no sábado, perdeu a vida o austríaco Roland Ratzenberger. Na mesma curva que ceifou a vida de Ayton Senna já se espatifara o carro de Nelson Piquet anos antes.
A pista não era das melhores. Cheia de ondulações, exigia que o veículo ficasse “grudado” ao asfalto e, essas ondulações facilitavam as derrapagens. Ayrton, que vinha comendo poeira dos seus concorrentes, esperava dias melhores, agora montado na Williams. Todavia, esses bólidos estavam difíceis de guiar pois, a “equipe ainda estava se adaptando à proibição do uso do sistema de suspensão eletrônica”, segundo Flavio Gomes, da ESPN Brasil.
Há o registro de que Ayrton mandara aumentar a coluna da direção para que ficasse o volante mais próximo dele. Essa coluna teria quebrado e provocado o acidente. Consultando-se, porém, os dados da telemetria, que contém as informações enviadas pelos sistemas eletrônicos do veículo, contatou-se que “havia força sendo aplicada na coluna da direção”, o que seria a prova de que esta não quebrou antes do impacto. Outra teoria bota a culpa nos pneus: na primeira volta da prova, houve um acidente e os carros tiveram que deslocar-se mais devagar. Com isso, os pneus esfriaram e perderam pressão. Ficando o carro mais baixo, pode ter desestabilizado a aerodinâmica, perdendo a aderência da Wlliams com a pista, explicam os investigadores.
Aylton se despediu no domingo. Na segunda feira logo cedo, em um pequeno avião nos dirigimos ao interior da Bahia. A partir do campo de pouso, era uma festa. Carros de som anunciavam a presença do deputado e do diretor do banco. Os interessados nos pequenos empréstimos faziam fila no posto de atendimento situado na própria feira, onde garrotes, porcos e galinhas se misturavam à espera dos seus donos, devidamente financiados pelo banco. Por onde passei, não ouvi qualquer referência à morte de Senna. Parece que estávamos em outro país.
Terminamos essa excursão na cidade de Jacobina onde uma grande comitiva esperava o deputado e o diretor do banco. Em um restaurante local, ambos recebemos homenagens e, mais uma vez, não ouvi qualquer referência à morte de Senna, o assunto que, naquela segunda feira, ganhava as primeiras páginas de todos os jornais do mundo. Os baianos estavam mais preocupados em financiar suas lavouras e seus pequenos negócios. O certo é que, depois desse episódio, nunca mais perdi meu tempo vendo uma corrida de formula um. Gostava mesmo era de ver Ayrton Senna agitando a bandeira nacional após cada vitória.(Pará lembrar os 29 anos de sua morte)
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