opinião

Babi e Nandi: mais que uma rima, dois poetas na arte de viver e fazer arte!

11 de fevereiro de 2020

1BERTO DE ALMEIDA

A morte tá com a gota serena. Tá com os cachorros da molesta (sic). Ela Começou o ano com a fome do século passado. Nada dessa história poética do chico Buarque. Fome de anteontem é besteira. Ela está mesmo é com uma fome da gota serena. Repito. Doentia. Nunca vi – nem quero ver – a morte com tanta vontade de levar os meus. Sacanagem. Tanta gente que não conheço e outras que não faço questão de conhecer dando sopa por aí. Vai, mata a tua fome nesses.

 

 Lá vem o trem, meus amigos, se preparem, o Trem da Sete tá apressado para chegar na estação dela. E nem invente de pedir para ele diminuir a velocidade, com a tola alegação de que não tem hora pra chegar.  Perderá o seu tempo.   Um Ledo Ivo engano de quem assim pensa.   E nem vá – nem venha – com essa história de que esqueceu o chapéu no cabide da história, e que não pagou o fiado do bar da esquina.  Esqueça. Ele tem pressa.

 

 A morte não quer papo com quem ama a vida.   Tem inveja. Eu acho. Às vezes fico tão puto com ela que desejo ver a sua morte de fome de bala ou vicio antes do trinta. E não me perguntem o porquê de estabelecer esse limite de vida para ela.  Se o belchior tinha vinte e cinco anos de sonho – e de sangue – e de América do Sul, para a morte, trinta é o suficiente

 

Há muito a morte não merecia viver tanto, nenhuma dúvida.  Sentiram? Isso mesmo: ando cheio de vida e vazio de morte. Mas ela não está nem aí. Se não me pega, por enquanto, pega os meus melhores amigos. E, se não bastasse, vez em quando leva um meu.  A indesejada das gentes a cada dia mais indesejada fica.  A sua – dela – sanha avassaladora contra aqueles que amam a vida e a vida traduz, assim como os artistas, está passando do limite. Um dia morre um meu e ninguém percebe, no outro um nossos, e todos sentem a sua morte.

 

 Ufa!  Parece que a morte empombou de uma vez por todas com os nossos artistas queridos. Outro dia foi o Zé Crisólogo, e outro foi o Parrá. Outro, ainda, foi essa pessoa que é parte minha e que nunca em mim morrerá. Se era um artista? Para mim era mais do que isso, muito mais. Mas o deixemos em paz. Na paz dele. Na paz deles.

 

Dessa vez com um só bote q pegou dois dos nossos artistas de uma só foiçada. Ela pode até ser cega, mas a sua – dela, dela – faca é amolada. Não faz muito tempo o excelente xilogravador Nandi (Unhadeijara Lisboa) me escrevia para dizer que este MB era um de suas referências jaguaribenses, e que gostava da minha resistência em nome dessa república. Fiquei feliz. Éramos dois. Éramos três.  Lembrei-lhe na oportunidade do nosso Carlos Pereira, outro jaguaribenses arretado de bom.  Ele assentiu. Aquiesceu.

 

Forte como um touro, a morte não pegará Nandi tão cedo.  Tudo ilusão.  Sabia. Sei. Mas é que eu queria me iludir. Sei do soco mortal da indesejada. Sei que num piscar de olho, num peteleco com os seus dedos polegar e indicador somente ossos, ela manda um dos nossos de volta ao começo, ou antes disso.  Às vezes, puta e muito com a vida, como aconteceu agora, manda logo dois de uma vez.

 

 Babi (Abelardo Cavalcanti de Paiva) era frágil como um fio de aranha, diziam. Outra ilusão. Com apenas 0,15 de espessura, tão fino que se torna invisível a olho nu, esse fio é tão forte que consegue, numa teia com densidade mínima, parar um besouro voando em alta velocidade!

 

Assim era o meu baixista Babi Paiva, irmão gêmeo de outro apressado que foi morar noutra cidade, o Paulo Paiva, sem avisar aos amigos.   Um gêmeo da mesma barriga, apesar de nascidos em anos e dias diferentes. Magro e muito era o bom baixista. E como brilhava quando o seu baixo tocava!  E como ficava grande, enorme, quando seu baixo tocava!

 

Agora vem essa onça cujo nome não merece ser citado em festa onde a vida se faz presente, e leva esse artista para quem a música era o principal motivo de sua existência. Nandi e Babi. Ai se não fosse apenas uma rima, mas uma solução, diferente do Raimundo e o mundo do poeta! Uma solução para a permanência deles por mais uns dias – não muitos, nem precisava – por aqui, vestindo esta roupa que ainda visto e morando nessa República Independente de jaguaribe que eles gostavam tanto. Dois artistas. Dois seres humanos maravilhosos  

Requiescat in pace, Viva Nandi e Babi! A tua arte é longa!

(humbertodealmeida.com.br)

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2 Comentários

  • Reply Ana Paula 11 de fevereiro de 2020 at 19:19

    Parabéns, pela volta, 1berto! Sebastião Lucena, de quem sou leitora fiel, fez muito bem em trazê-lo para nós leitores do seu blog. 1berto escreve com penas e plumas. Sou fã dele. Eu conheci muito bem o Unhadeijara. Um grande artista e pessoa muito boa. O Babi ouvi falar ser também muito bom e gentleman. Ele era de JAGUARIBE, o mesmo bairro de 1berto?! Por fim, aínda tenho um pouquinho de dúvida: 1berto não é mesmo um pseudônimo?! Sim, consegui encontrar um livro seu! Presente! Muito boas suas histórias do tempo de jornal. Boa noite!

  • Reply Jarbas Mariz 11 de fevereiro de 2020 at 20:44

    Puxa vida……..
    Nandi sempre foi um amigo fiel as artes e amigos, falamos muito em meses passados.
    Agora Babi…… sempre teve comigo desde o conjunto Os Selenitas, levei pra tocar na banda com Zé Ramalho em shows em João Pessoa, depois na banda Catia de França e gravamos no Rio o disco dela Estilhaços, levei ele pro Pará quando lancei meu primeiro disco Transas do Futuro pra fazer shows comigo e foi ele que desenhou a capa do disco. Ficamos afastados por conta que vim morar aqui no sul.
    Grandes lembranças e hoje, grande tristeza….

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