RAMALHO LEITE
(publicado em A União)
Este jornal tem brindado seus leitores com a memória de paraibanos que passaram por sua direção e/ou pela redação e até oficinas. Dei a minha contribuição. No ultimo domingo foi a vez do quase conterrâneo Rubens Nóbrega, jornalista e escritor mas, sobretudo, aluno dessa centenária universidade fundada no governo de Álvaro Machado (1893) e que vem sobrevivendo até os nossos dias. Não vou aqui rememorar suas lembranças, destacada em pagina dupla do nosso estimado primeiro e único jornal impresso. Escolhi o que me chamou a atenção, para preencher esse espaço que me concedem toda semana.
Acolhido em A União no governo de Ivan Bichara, o memorialista e romancista de Baixa do Mel e Historias da Gente, aproveitou para revelar alguns aspectos do governo e do seu comandante. Destaquei a abordagem mais suave, objeto de comentários chistosos de populares ou mesmo de políticos amigos, algumas vezes não atendidos. Considerou Rubens o governo de Ivan “em banho maria”, daí o apelido que lhe deram de “tarde fria” e continuou: “Inclusive diziam que Ivan Bichara adorava assistir o Zorro, então ele encerrava o expediente assim de 4 horas, porque ia para casa para ver o seriado. Mas Ivan era um intelectual, um homem cordato…”
Essa história do Zorro eu conheço de perto. O deputado Edvaldo Motta já se preparava para deixar Ivan Bichara e seu governo e votar na oposição, em Humberto Lucena para senador, contrariado, como muitos, inclusive eu, pela não escolha de Antônio Mariz para governador indireto. Marcou audiência com o chefe do executivo e foi para o Palácio esperá-lo. Por volta das cinco horas da tarde, depois de cumprida sua soneca diária, o governador chega para cumprir o compromisso com o deputado. O deputado foi atendido mas saiu irritado com a demora. Chegando de volta à Assembleia, perguntado qual a justificativa do governador para o atraso, respondeu:
– Ele me justificou: O Zorro hoje tava como nunca!
Daí surgiu essa história de que o governador não perdia um episódio do Zorro. Tudo astúcia de Edvaldo Motta que vem sendo repetido até hoje. Acredito que Ivan Bichara nunca viu o Zorro.
Por oportuno, lembro que o epíteto de “tarde fria” dado ao governador Bichara é atribuído a Mario Santa Cruz que, apesar de irmão do Jojoca-José Santa Cruz, humorista de prestigio nacional, gastou sua verve pelas ruas e praças de João Pessoa. Das suas tiradas satíricas ninguém escapou, até João Agripino foi contemplado quando anunciou muitas indústrias que demoravam a chegar:
– Essas industrias de Joao vão nos matar. Eita poluição da gota!
Bradava Santa Cruz para os aficionados do gamão do Cabo Branco.
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