Miguel Lucena
Passei o feriado com um olho nas manifestações e outro em Dom Quixote, do espanhol Miguel de Cervantes. Ora prestava atenção no discurso de Bolsonaro, esperando alguma novidade, que não veio, ora me perdia nas aventuras do fidalgo de meia idade que enfrentava um rebanho de ovelhas como se fosse um exército inimigo e moinhos de vento como se fossem gigantes perigosos.
Sancho Pança, o ajudante do fidalgo, montado em seu burro baixeiro, tentava mostrar ao mestre que ele estava enfiando a lança em moinhos, enquanto o nobre cavaleiro se espatifava no chão e tinha a arma esbagaçada pela força da hélice do cata-vento.
“Eu não vou ser preso!”, bradava o presidente. Ele sabe que tem imunidade formal e material. Não pode ser preso no exercício do mandato, nem que mate alguém. Pela Constituição, ele só poderá ser preso após ser afastado por meio de um processo de impeachment.
No maior romance de todos, Dom Quixote volta à razão, renuncia aos romances de cavalaria e deixa a seguinte mensagem: “Por isso costuma-se dizer que cada um é artífice da sua ventura, eu eu o fui da minha, mas não com a prudência necessária (…). Atrevi-me, fiz o que pude, derribaram-me, e, ainda que perdi a honra, não perdi nem posso perder a virtude de cumprir a minha palavra” (Parte II, Capítulo LXVI, página 576).
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