opinião

CAMPANHA ELEITORAL

6 de outubro de 2024

Por GILBERTO CARNEIRO
LEMBRO-ME da minha infância em época de eleições. Era sempre uma festa. Morava na roça e ia sempre à Vila para prestigiar os comícios que, naquela época, se transformavam em showmícios com várias atrações musicais gratuitas. De quatro em quatro anos, nas eleições municipais, a rotina dos moradores se transformava e os jovens adoravam o movimento, as resenhas.
O tempo passou, vieram as redes sociais, os showmícios foram proibidos numa lógica correta de combate ao abuso do poder econômico. No entanto, sob o ponto de vista da espontaneidade e originalidade, as redes sociais tiraram o brilho das campanhas eleitorais. O que se vê hoje são pessoas ostentando bandeiras numa expressão de desanimo que denuncia o constrangimento que sentem por estar ali para manterem um emprego ou uma mincharia que o candidato lhes paga.
Participar de.atividades de campanha eleitoral  tornou-se um ato de obrigação, não um movimento espontâneo como as pessoas se envolvia. Os próprios candidatos parecem não estar nem um pouco à vontade nas caminhadas e bandeiradas nos semáforos das cidades, salvo os que tem uma identificação próxima com os.militantes e, isso é mais comum no campo da esquerda.
Mesmo nos guias eleitorais e debates, plataformas que os candidatos sempre procuraram preservar investindo na contratação de bons profissionais responsáveis pelo marketing de cada campanha, a seriedade e a ambiência propícia para apresentação das boas ideias estão sendo substituídas por verdadeiros embates no estilo UFC, desnaturando a intenção da legislação eleitoral que é transformar esses espaços em palcos de debate e de ideias propositivas.
Na maior cidade da América Latina o nível está abaixo do esgoto. Em um dos debates o candidato Pablo Marçal, do PRTB, apresentou um laudo sobre uma internação de Guilherme Boulos, do PSol, por uso de cocaína. Era tudo mentira, uma farsa. Áudios de interceptações telefônicas sobre ameaças a testemunhas e ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) serviram de base para que a Justiça de São Paulo determinasse a prisão do biomédico Luiz Teixeira da Silva, dono da clínica responsável pelo falso laudo.
Em João Pessoa os três candidatos opositores ao atual prefeito Cicero Lucena deram uma entrevista coletiva denunciando o envolvimento da gestão do prefeito, que é apoiado pelo atual governador João Azevedo, com traficantes de drogas. Não era uma mentira, Não era uma farsa. Poucos dias depois se revelou o que denunciavam, o.envolvimento do governo com facões criminosas em um movimento violento de aliciamento de eleitores na comunidade São José e no Alto do Mateus.
Sinto saudades daquela época em que as eleições se transformavam em um ambiente festivo, um momento própício para a diversão, os debates e as brigas inocentes. O tempo passou, o mundo mudou, as pessoas mudaram e as eleições acabaram por se tornar um ambiente extremamente perigoso e desprovido de emoções, criatividade e originalidade.
No entanto, apesar dos pesares,  continua sendo a maior festa democrática do mundo e, hoje, é dia de votar, de comparecer às urnas e fazer sua escolha de voto consciente, lembrando que pode votar tranquilo pois o voto é sigiloso e as urnas eletrônicas são seguras. Salvo se espontaneamente você revelar seu voto, ninguém vai saber em quem você votou, ninguém, mesmo que esteja sob pressão de facções criminosas.

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