CARTA AOS AVÓS

 

Por Gilberto Carneiro

É TEMPO de paz, de amor. E nesta data em que festejamos o nascimento de Jesus Cristo, nada mais sublime que o amor dos avós para simbolizar a beleza do NATAL.

ELES são figuras enigmáticas. Geralmente possuem um baú, não necessariamente um baú, poderá ser a gaveta secreta do guarda-roupa, a caixa hermeticamente fechada escondida em algum local do quarto; não importa, sempre arrumam um jeito de guardar os seus segredos.

NA minha infância, tentava descobrir os segredos dos meus, mas sempre me frustrava porque nada encontrava. Um dia me lembrei da arca que ficava na venda do meu avô. Era uma canastra de madeira com tampa, envolvida sob vários cobertores para disfarçar sua presença. Então, sorrateiro, acompanhei os passos do meu avô e quando saiu para o quintal deixando a porta da mercearia aberta vi ali a oportunidade de bisbilhotar.

A SENSAÇÃO quando encontrei a caixinha foi de êxtase. Fiquei por alguns minutos torturando minha ansiedade imaginando o que continha lá dentro. Seria ouro, um mapa, um testamento? Quando finalmente a abrir demorei algum tempo para acreditar no que saltava à frente dos meus olhos. Eram cartas, correspondências e bilhetes amarelados pelo tempo escritos por minha avó, por meu pai, pelos irmãos do meu pai e netos, e também por mim: sim, as minhas cartas estavam lá guardadas, as cartas despretensiosas que lhe remetia da cidade no período escolar.

EU nunca esqueci aquele dia e compreendi naquele momento a importância dos avós em nossas vidas. Tento modestamente passar esta mensagem para as minhas filhas, para que compreendam a importância e vivam a presença dos avós, enquanto os têm. Infelizmente só tive oportunidade de conviver com um dos meus avós, os demais morreram quando eu ainda não entendia a importância deles em minha vida.

NÃO sei se sabem, mas os animais não conhecem os avós, diferente do que acontece com os seres humanos que vivem tempo suficiente para passar informações de uma geração a outra. “Na casa dos avós é sempre domingo”, já ouviram isso? O nascimento de um neto oferece a oportunidade de inaugurar um novo tipo de relacionamento, mas traz também um tipo especial de responsabilidade. Não é fácil apoiar e ajudar os filhos sem oprimi-los. Assim, a arte de ser avós consiste, antes de tudo, na arte de ser pais de filhos adultos, o que requer uma delicada relação devido a interferência do mundo digital nas vidas dos jovens de hoje.

E COMO é prazeroso quem ainda possui o privilégio de poder conviver com os avós. Outro dia estávamos todos na casa dos meus sogros, avós das minhas filhas, e quando minha esposa encontrou uma caixa que sua mãe guardava a sete chaves me lembrei do baú do meu avô. Na caixa da minha sogra não havia cartas, mas estava repleta de perfumes raros, sabonetes de flagrâncias maravilhosas e até daqueles vidrinhos com shampoo e condicionador que os hotéis entregam como brinde aos hóspedes. Sabe por quê isso? Porque são altruístas, estão sempre preocupados com os outros, com o futuro, e muitas vezes esquecem de viver o presente e à própria vida. Exatamente por isso, acumulam tudo, guardam não por egoísmo ou por mesquinhez, mas para servir aos outros, não propriamente a eles.

LOGO, louvo a Deus por minhas filhas ainda conviverem com os avós maternos e a avó paterna, minha mãe , e por terem vivido uma fase com o meu avô paterno, meu pai. Como é Natal, faço um pedido a Papai Noel, peço que todos os jovens tenham oportunidades de conviver com os avós, mas além disto que saibam reapeitá-los e valorizá-los, e assim possam amanhã ser os avós de hoje, nutrindo pelos seus netos o mesmo amor, a mesma deferência, o mesmo zelo que receberam dos seus avós.

É TEMPO de Natal, é o século dos avós! FELIZ NATAL!