O coronel Sílvio carregava as marcas do terrorismo numa das mãos e por isso comandava o Regimento à distância. O sub comandante, tenente coronel Rocha, ficava mais perto dos recrutas. A bomba que destroçou a mão do coronel Sílvio ficara famosa, a imprensa falou, todo mundo falou, aconteceu nos Guararapes, em dia de embarque.
O coronel ia embarcar, mas antes de entrar no avião a maleta explodiu. Alguns dedos de uma de suas mãos foram-se com o estrondo. Em meio ao corre-corre a Polícia do Exército entrou em ação e prendeu muita gente. E matou outro tanto.
O coronel se recuperou do trauma, voltou à ativa, mas não conseguia se enturmar. Os recrutas viam a sua figura lá longe, na sacada do comando, imaginando que se tratava de algum ser superior, acima deles pelo menos ele era, tão distante estava com a sua farda cheia de medalhas e estrelas.
O sub- comandante era diferente. Baixinho, gordinho, irritado, dava ordens gritando e ninguém se atrevia a contraria-lo. Usava óculos redondos, pequenos demais para sua cara cheia, e, quando andava, mancava de uma perna.
A ele cabia passar as ordens após o hasteamento da bandeira. Nesse momento solene, pregava o amor à Pátria acima de qualquer coisa e o ódio aos comunistas, a quem chamava de párias.
Os comandantes das Companhias o tratavam com o maior respeito. Perfilavam-se, batiam continência e só saiam da posição de sentido quando o coronel Rocha mandava.
A 5ª Cia de Infantaria, onde Tuta foi engajado, era comandada pelo Tenente Miranda, um simpático primeiro tenente do sul, dono de vistoso bigode preto e de um porte que se fazia respeitar somente pela presença.
O comando da Cia era dele e de dois tenentes R 2: Tenente Gomes e Tenente Sampaio. Gomes, um galegão de 1.90 metros, preparava o físico da rapaziada. Também dava aulas e ensinava a manusear armas. Ao tenente Sampaio cabia botar a turma em forma e a tirar três ou quatro por semana do quartel para cuidarem de sua granja particular.
Quem ia com o tenente Sampaio queria continuar indo. E quem não tinha a sorte da escolha, implorava pela oportunidade de andar no seu opala e tomar cerveja com ele ao término da missão particular.
Os companheiros do sertanejo ficaram em Cias diferentes: Osman e Ademar, que sabiam dirigir, foram escolhidos para a garagem. Benami e Ernani, músicos, tornaram-se corneteiros do Regimento. Quem não tinha profissão, fazia ordem unida, tirava guarda e recolhia a merda dos companheiros.
A melhor coisa que acontecia aos recrutas era ajudar no rancho, principalmente nas madrugadas, passando manteiga nos pães que seriam comidos pelos soldados e graduados no dia seguinte.
Muitos aproveitavam para encher baguetes inteiras com manteiga e depois as levavam em suas bolsas para os quartinhos alugados nas imediações de Socorro. Ali, guardavam a manteiga em depósitos e passavam a semana inteira usando-a para fritar ovos, sardinhas e mortadelas.
Tirar guarda era o maior dos castigos, principalmente em se tratando da guarda do portão principal do quartel. Cada um tirava uma hora de plantão por duas de sono. E o sono era em cima de colchões cheios de percevejos, que mordiam e deixavam a pele vermelha e caroçuda.
O pior é que, ao sair da guarda, o soldado tinha que correr ao banheiro, se lavar, fazer a barba, engraxar o coturno e vestir a farda, que deveria estar engomada com o vinco aparecendo, sob pena de sofrer castigo. O sargento Honório tinha o hábito de passar uma lã de algodão no queixo de cada recruta. Se o algodão enganchasse num cotoco de cabelo, a punição acontecia ali mesmo, na frente dos outros, com vinte apoios de frente e um bocado de nomes feios.
2 Comentários
Também servi o glorioso Exército Brasileiro. Tudo que acontece na caserna é igual ao descrito no texto. A única coisa que não bate que achei é o tempo de Sentinela em Serviço. O correto é duas horas de serviço/guarda por quatro de sono. No mais, todo o texto primeira de luxo! !!!!
Oxente Tião e porquê você não contou “ontes”?