Marcos Pires
Mesmo os meios de transporte, tipo automóveis, motos e bicicletas, só se movem se o ser humano provocar o movimento. Não é comum alguém constatar que alguma coisa se move sozinha. Vá lá, o controle remoto da TV é uma exceção. Não é incomum deixa-lo num lado da cama e encontra-lo na mesa de cabeceira. Porém é só isso. Moveis rangerem de madrugada e bolinhas de gude baterem no chão do apartamento do seu vizinho de cima são coisas do além, e nessa seara eu não entro; é a área de mãe Leca. E foi exatamente ela que deu a prova definitiva de que documentos se movem sozinhos, sim.
Estávamos voltando de uma viagem ao exterior onde a futura avó de Luiza aproveitou a participação na Maratona de Paris e lotou quatro grandes malas com mimos para a neta que será muito bem vinda em agosto. Obvio que a consequência era uma infinidade de notas e faturas que dariam direito ao tal tax-free; ou seja, a devolução do imposto pago. Como toda boa cartomante, mãe Leca é fissurada em dinheiro. Para se ter uma ideia, nosso voo estava marcado para as 5 da tarde, chegamos ao aeroporto ao meio dia. Teria que dar tempo de resgatar a grana. Ela era a primeira da fila e o funcionário nos atendeu gentilmente, carimbou aquela montanha de papeis e indicou o local onde a grana lhe seria entregue. Tudo certo? Não, simplesmente o passaporte dela sumiu, eclipsou-se, virou ilusão.
Ah, queridos leitores, as malas já despachadas, uma fila enorme de gente atrás de nós também querendo receber seus caraminguás e o danado do passaporte nem tchans. Haja procurar, muita gente ajudando e nada. Claro que não poderíamos embarcar sem o passaporte da sensitiva, que nessas horas perdeu todo seu poder de adivinhação. De volta ao balcão da empresa aérea contei o que acontecera e o gentil homem disse que teríamos de ficar mais dois dias lá, já que o consulado brasileiro só abriria na segunda feira para emissão de um novo documento. Com presteza determinou que nossas malas nos fossem devolvidas e quando eu, muito “satisfeito”, empilhava os quatro monstruosos volumes em dois carrinhos, eis que mãe Leca simplesmente me abraçou pelas costas, deu um cheiro em meu cangote e disse: “- Lindinho, achei o passaporte, estava na minha bolsa”. Até hoje ela não sabe explicar como um passaporte perdido criou asas e foi parar dentro daquela bolsa.
O pior de tudo é que fui contar essa história a algumas amigas e todas garantiram ter acontecido algo semelhante com elas, seja com chaves de automóveis, pulseiras, anéis e até um improvável violoncelo.
Será que os objetos só criam seus próprios movimentos quando estão na possas mulheres graças aos seus encantos ou isso é um pensamento machista meu?
1 Comentário
Só para dizer que estava na Europa.