Tá certo, Caixa D`água não tinha título de doutor, não frequentou universidade, tampouco foi agraciado com a imortalidade da Academia, mas nem por isso merecia o abandono a que o relegaram na velha praça Aristides Lobo, da cidade antiga, onde, num passado não muito distante, foi homenageado com uma estátua de corpo inteiro no mesmo local que, em vida, plantou sua imagem de boêmio e poeta das noites indormidas.
Quem vai à cidade baixa se depara com uma pracinha onde pululam os fotógrafos lambe lambe e as putas cadavéricas à cata de moedas. Logo após o grupo Tomás Mindelo, Caixa D água monta guerra, olha os passantes e aponta para o futuro. Disse Caixa, mas disse-o mal. O que restou dele. Lhe roubaram quase tudo, até a pasta.
Ficou o resto de estátua e o amontoado de lixo a denunciar o descaso, o abandono, a falta de sensibilidade e o desrespeito a quem tanto falou do amor pela Cidade das Acácias.
Quem botou a estátua de Manoel José de Lima no local onde está até hoje foi o então prefeito Ricardo Coutinho, a quem não se pode culpar pelo que fizeram dela depois.
Aqui um poema do abandonado poeta de branco:
SE AS NOITES ENVELHECESSEM
Manoel Caixa D’Água¹
Se as noites envelhecessem,
se os meus olhos cegassem,
se as fantasmas danças
em blocos de neve
para que me ensinassem o caminho
por onde eu caminhei.
A cidade sem porta, as ruas brancas de
minha infância
que não voltam mais.
Se minha mãe se abruma,
se o mar geme,
se os mortos não voltam mais,
se as matas silenciosas
não recebem visitas,
se as folhas caem,
se os navios param,
se o vento norte
apagou a lanterna,
eu tinha nas minhas mãos somente sonhos.
1 Comentário
Eterno Caixa D água. Saudades…….