opinião

Como é difícil cuidar!!!

18 de abril de 2020

 

POR MÁRCIA LUCENA

Aqui em Conde, uma cidade turística, que quadriplica o número de habitantes nos finais de semanas e feriados, fizemos, durante a semana santa, barreiras sanitárias, para termos uma ideia mais precisa de como estava a compreensão e o comportamento das pessoas em tempos de pandemia e de isolamento social e planejar as ações de forma mais embasada, com dados concretos.
Compramos termômetros especiais, que medem a temperatura a distância, treinamos a equipe e fomos a luta!
Para nossa surpresa, as pessoas ignoraram o drama que o planeta está vivendo e chegaram ao Conde vindas de vários lugares diferentes, aos montes! Aqui fizeram festas, churrascos, foram as praias, foram aos rios… muita gente ligando pedindo a guarda por causa de som alto e aglomerações.
Dentre essas pessoas que entraram no município durante a semana santa, mais de 200 estavam com a temperatura alterada. Pessoas com febre, que vieram e passaram o feriado aqui, circulando, como se estivessem de férias.
Temos uma população muito vulnerável em Conde. Segundo os dados do CADUNICO, temos 15 mil pessoas vivendo em extrema pobreza, resultado de muitos anos de desamparo e falta de políticas públicas.
Unir essas duas informações – a vulnerabilidade da população nativa e o volume de pessoas de fora chegando ao município- dados apresentados pela secretaria de saúde e guarda municipal, responsáveis pelas barreiras sanitárias, nos assustou e pensamos, juntamente com o Comitê de Crise, numa ação emergencial, considerando que esse final de semana também será longo devido ao feriado do dia 21.
Organizamos as barreiras de contenção visando impedir a entrada de turistas e visitantes como forma de conter a chegada do vírus em nossa cidade com especificidades tão delicadas. A luta do mundo tem sido pra desacelerar a curva de contágio. A nossa é retardar ao máximo a onda de contágios a fim de poder ter chance de tratamento e cura.
Divulgamos amplamente as barreiras nas tvs e mídias sociais e hoje começamos o trabalho.
Tivemos a ampla aprovação da população que se sentiu protegida e cuidada. Muitos agradecimentos explícitos nas mídias sociais. Tivemos o apoio de uma parte considerável da imprensa que aplaudiu a nossa atitude e deu uma boa cobertura.
Hoje, recebemos em casa um oficial de justiça com uma ordem judicial suspendendo as barreiras.
Ordem judicial se cumpre! Vamos recorrer, mas evidentemente que acataremos com todo respeito a decisão da justiça.
Queria apenas deixar claro que não agimos de forma impulsiva ou amadora. Estamos nos dedicando profundamente, de forma planejada e avaliada pelo Comitê de Crise diariamente e temos os dados, e mais que isso, temos o conhecimento profundo da população, das características do território e do movimento das pessoas nesse território, seus hábitos e comportamentos.
Sabemos o que estamos fazendo.
Não somos donos da verdade.
O MPPB também sabe o que está fazendo e o poder judiciário também. Confio no discernimento desses poderes e no conhecimento que têm sobre o tema, sobre a cidade e sobre a população.
Só estou querendo reafirmar que a nossa decisão foi no sentido de salvar vidas evitando que a contaminação aqui se transforme na forma comunitária de contágio, e permaneça no contágio pessoa-pessoa, pois sei dos nossos limites e sei que não daremos conta, não temos hospitais ou leitos que possam acolher as pessoas.
A decisão da justiça de suspender as barreiras permitirá que a partir de amanhã a cidade esteja lotada! Pode ter certeza!
Não somos os únicos! Várias cidades no Brasil adotaram essa medida: Tancredo Neves na Bahia, Ramilândia no Paraná, Mariana em Minas Gerais, Teresópolis no Rio de Janeiro, 22 cidades no Ceará, entre outros. Estudamos muito antes de escolher essE caminho, que na verdade se articula com vários projetos que estamos desenvolvendo com foco no cuidado.
Esperamos que nós, moradores do Conde, possamos estar a salvo quando esse feriadão passar, para que juntos possamos vencer mais essa dificuldade e retornar ao convívio social, restabelecendo a normalidade de nossa querida cidade.

Você pode gostar também

1 Comentário

  • Reply Angela 18 de abril de 2020 at 08:11

    Quem acionou o judiciário?
    Comerciantes ou proprietários de imóveis na praia?
    É bom a população saber o(s) nome(s) de quem dar tão pouco valor às vidas deles!

  • Deixar uma resposta

    Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.