Marcos Pires
Tudo começou quando encontrei Milton Nascimento no elevador do flat onde moro. Era lá que se hospedavam os famosos quando vinham fazer shows aqui. Meus amigos da recepção avisaram que ele estava saindo e eu fabriquei uma “coincidência”. Fiz uma cara de surpresa, cumprimentei-o e engatei uma conversa que tinha tudo pra dar errado: “- Ô Milton, muito tempo que queria lhe agradecer por ter salvo minha vida”. Ele não entendeu nada, mas sua cara de espanto me autorizou a continuar a enrolada: “-É que eu fiz o caminho de Santiago de Compostela e depois de 400 quilômetros a pé, num frio terrível, estava a ponto de desistir quando ouvi pelo rádio tua música Coração de estudante. Aquilo me revigorou e eu consegui terminar os setecentos quilômetros”.
Parecia uma injeção de adrenalina no meu ídolo. Conversamos muito e a partir de então eu usei bastante esse truque. Certa vez eu estava com mãe Leca no restaurante do aeroporto de Brasília quando entrou Lobão. Não tive dúvida, fui lá e engatei a conversa do caminho de Santiago, só que citei “Chove lá fora”, música dele. Isso ocorreu outras vezes, até um dia em que eu e mãe Leca estávamos embarcando para Lisboa no aeroporto do Recife e ela me mostrou um baixinho com uma alta e bela morena sentados próximos: “- Olha só, é Zezé”. Ora, Zezé que eu conhecia era aquele da cabeleira, mas ela me explicou que se tratava de um famoso cantor sertanejo e pediu pelo amor de Deus para que eu fizesse o mesmo truque de aproximação dos famosos.
Como bom e obediente marido soltei o verbo e fui maravilhosamente atendido pelo tal Zezé, que me convidou a sentar, me serviu do uísque que tomava, apresentou a morenaça como sua nova namorada e em seguida me perguntou: “- Maravilha. Mas me diz uma coisa; qual foi a minha musica que animou você?”. Ah, leitores queridos, mentira tem perna curta mas dá cada chute na barriga da gente… . Eu não sabia nenhuma música dele! Estava fora de cogitação cantar “Olha a cabelereira do Zezé”, né? Imediatamente derramei um pouco de uísque na roupa e pedi desculpas; teria que ir ao banheiro. Morto de vergonha pedi ao garçom que me citasse uma música do tal Zezé e ele me disse um trecho. Voltei do banheiro eufórico, sentei e comecei a cantar para meu novo amigo de infância: “Vamos pegar o primeiro avião rumo à felicidade…”. Ele me interrompeu: “- Peregrino, essa aí é de Leandro e Leonardo. A nossa é É o amor”.
Ah garçom filho de uma ronquifuça… .
Sem Comentários