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Da banalização à metodologia de estado

30 de maio de 2022

 

Por: Aldo Ribeiro – Economista e Progressista

 

Seis horas da manhã. O alarme do smartphone toca, e lá vamos nós pra mais uma jornada da infinita estrada das nossas vidas. Como de mau hábito, rapidamente zapeio as notícias do dia e segundos depois dou de cara com aquela cena horrorosa: um cidadão pobre, negro, esquizofrênico, trabalhador e pai de família sendo assassinado numa câmara de gás improvisada na frente de todos. Uma visão do inferno, literalmente. A pergunta que me faço, é como iniciar o dia com a saúde mental zerada em tempos da superexposição da internet? Impossível.

O fato é que o chumbo da sensação de impotência e descrença na raça humana derrubou o possível astral de um dia que tinha tudo pra ser bom.

Diante disso, me remeto sempre as mesmas reflexões: como chegamos até aqui? Porque perdemos nosso senso de justiça? Nossa capacidade de indignação?

Acontece que o tempo nos faz esquecer, o que nos trouxe até aqui. Já escrevi algo sobre o assunto e penso que a neurociência comportamental possa nos dar algumas respostas. Linkar cérebro, emoções e as externalidades do mundo. O assassinato de crianças nos EUA, o massacre na Vila Cruzeiro. A brutalidade das redes sociais. Os programas policiais entrando nas casas de cidadãos comuns. Nos tornamos uma sociedade cética, ao ponto de banalizar absurdos. E sem nos darmos conta, esse processo tornou-se método. Institucionalizamos absurdos, e tá tudo bem. Alguém ser morto à luz do dia trancado numa mala de carro sufocado numa espécie de câmara de gás? Qual problema? Acontece. Deve ter feito alguma coisa pra merecer tal castigo.

Percebam: o estado policialesco com requintes de crueldade é fruto do próprio estado. Sempre foi. Mas o aceleramento desse processo ocorre justamente porque a cultura e a matriz desse estado nada estável, vem de quem deveria plantar as sementes do equilíbrio e das políticas públicas que salvam vidas. Inclusive as vidas dos policiais. Em 2021, em média um policial cometeu suicídio a cada 11 dias. Entre 2015 e 2020, 137 cometeram o mesmo ato. Outros 4729 foram afastados por problemas psicológicos no mesmo período.

Agora, observem o outro lado da mesma moeda: a letalidade policial no Brasil é 5 vezes maior do que os EUA. Somente no RJ supera o número de casos americanos.

Junte tudo isso, e adicione um presidente que apoia tortura, incentiva o armamento de civis e prega um discurso falso e populista junto a categoria dos policiais. Pronto, temos um barril de pólvora com todos os elementos pra um estado de caos, onde na cabeça insana do lunático que senta na cadeira de presidente, seria o momento ideal pra uma espécie de “autogolpe”.

O triste episódio ocorrido com o Genivaldo de Jesus, infelizmente, é o reflexo de uma sociedade continuamente alimentada pelo ódio, processo esse que foi acelerado com a chegada da extrema-direita ao poder. Não nos resta outra alternativa, que não seja lutar. É repetitivo, mas é sempre bom ressaltar: precisamos urgentemente restabelecer o respeito as regras do jogo democrático. O respeito mútuo entre as instituições e a inclusão do povo no orçamento. A destruição pela qual passa o país, aumentou o abismo entre ricos e pobres. É fundamental pautar a economia e de como a vida do brasileiro comum piorou nesses últimos anos. Pautas de costumes é um pântano em que eles querem jogar, pelo deserto de ideias e realizações.

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1 Comentário

  • Reply José 30 de maio de 2022 at 17:00

    Este final de semana, Josias de Sousa, colunista do UOL, comentando sobre esse caso especulou que Genivaldo não teria sido morto se estivesse na motociata do presidento. https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2022/05/29/genivaldo-nao-teria-sido-assassinado-se-estivesse-em-motociata-de-bolsonaro.htm

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