Sem categoria

Da nova série “Os Campeões da Informação” : Abmael Morais, o pequeno grande homem

24 de novembro de 2018

Considero Abmael Morais um dos jornalistas mais inspirados que já militaram na Paraíba. Vindo do Rio Grande do Norte, aqui fez nome e muitos amigos. Editou jornais, escreveu livros e viveu a vida intensamente, sem se prender a conveniências, ou ao jugo de governos ou governantes. Baixinho, feioso, banguela, escondia-se por trás de imenso bigode e ocultava os olhos sob vistosos óculos fundos de garrafa. Mas supria as deficiências físicas com um atrevimento que intimidava os arrogantes. Morreu novo, mas viveu o bastante para sair desta vida sem lamentações. Viveu como quis, fez o que quis. Era um anarquista.

Fui assim perfilado por ele num de seus livros: “A sua história é vulgar…” Abmael perdeu o emprego em A União porque peitou o governador Burity num artigo em que exigia aumento salarial. Dirigiu-se ao governador: “Bura, no meu você não bota não”.

Trabalhávamos juntos, na década de 1980, em A União, ambos enfrentando as vacas magras. Eu morando na periferia e Abmael, que jamais perdeu a pose, numa bela casa de quatro águas, em Manaíra. Ele era assim: morria mas não deixava de luxar. Cobrador que o procurasse tinha que pedir licença para fazer a cobrança, senão não era atendido. Como aconteceu naquela vez, no Drive-In da Epitácio Pessoa. O pendura lá nas nuvens e Abmael, no seu gin com tônica, já ia na décima lapada quando o garçon o interpelou: “Jornalista, e o pendura?”. Abmael o olhou com aquele ar superior, determinando: “Traga os meus vales”. Animado, o moço foi ao bar e voltou com uma maçaroca de papéis. Abmael olhou um por um, mandou o garçon somar. Feita a soma, pediu o total, assinou embaixo e ordenou: “Agora está tudo atualizado. Leve isso e bote embaixo da conta de hoje”.

Numa sexta-feira de um setembro de 1984, saímos eu, Abmael, Chico Pinto e Jackson Bandeira pelos bares da cidade. Éramos transportados no Chevette hacht de Abmael, 15 anos de uso, 10 anos de emplacamento atrasado, um horror. A tertúlia etílica começou pelas 10 horas, no Grande Ponto de Seu João. Depois do meio dia, continuamos no Drive-in da Epitácio e, quando o sol se pôs, descemos até a praia, em busca da saideira.

Perto do Elite Bar, em Tambaú, nos deparamos com a blitz da Polícia Militar. Um soldado grandão, com jeito de brabo, mandou-nos parar, aproximou-se e pediu a carteira de motorista para dele ouvir: “Tenho isso, não”. “Os documentos do carro”, pediu o brutamontes. “Também não tenho”, respondeu Abmael. “Então, o carro está preso”, comunicou o PM e ordenou que descêssemos.

Descemos e o soldado, depressa, entrou no carro a fim de levá-lo. Foi aí que surgiu a autoridade de Abmael: “Peraí, cadê sua carteira?”, interpelou. “Tenho não”, respondeu o soldado. “Então o carro não sai”, decidiu Abi, mandando que Chico Pinto ficasse na frente do veículo para impedir-lhe a partida. Veio o cabo da patrulha, que se inteirou do acontecido e ele próprio se dispôs a guiar o carro. “Cadê a carteira?”, voltou a exigir Abmael. O cabo não a tinha. O carro não sairia, então. Veio sargento e, por último, o tenente. Ninguém tinha carteira. E gerou-se o impasse.

“Nós somos autoridades!”, tentou, ainda, intimidar o oficial. E Abmael irredutível: “Sem carteira, não tem autoridade que leve o carro”. A essa altura uma plateia considerável se formara ao redor do Chevette e dos protagonistas. Tinha até torcida. Os policiais viram-se no mato sem cachorro. Se prendessem Abmael e os acompanhantes, haveria repercussão. O jeito foi chamar Pedro Adelson, Secretário de Segurança, que saiu da Granja de Wilson Braga diretamente para Tambaú a fim de pacificar os ânimos. O secretário ali chegou, mandou a polícia se recolher, pediu desculpas a Abmael e aos demais. E nós continuamos em busca do Elite para tomar a última, que durou o resto da noite.

Você pode gostar também

3 Comentários

  • Reply anonimo 24 de novembro de 2018 at 10:44

    A Repórter paraibana Hévilla Wanderley Fernandes, foi escolhida pela Agência Pública(www.apublica.org) e Oxfam, para fazer reportagem sobre a volta da fome no brasil. Oitenta profissionais de 15 estados foram selecionados.
    veja o link abaixo> https://apublica.org/2018/10/microbolsas-conheca-os-reporteres-selecionados-para-investigar-a-volta-da-fome/

  • Reply anonimo 24 de novembro de 2018 at 11:10

    Noticias em alguns portais recentes dão conta que o Ministério Publico de Minas Gerais pede a Justiça Mineira que o senador eleito deputado Aécio Neves devolva ONZE MILHÕES DE REAIS aos cofres mineiros referente a vôos não justificados.
    Essa situação em muito me lembra os R$ 4.695.105,00( quatro milhões , seiscentos e noventa e cinco mil, cento e cinco reais) pagos pela então Governador da Paraíba entre os anos de 2007 e 2008 e janeiro /2009 , à Sociedade de Taxi Aéreo Werston Ltda, de Recife-PE.
    Vale salientar que no ano seguinte 2009, quando o sucessor governador José Maranhão assumiu o governo gastou durante todo o ano R$ 255.911,00(duzentos e cincoenta e cinco mil, novecentos e onze reais).
    Essa diferença deve ser porque o Governador Zé Maranhão é piloto e tem o seu próprio avião. Bom para os cofres da Paraíba pequenina.
    Não estou aqui querendo dizer que essas despesas são injustificáveis, longe de mim. Apenas para lembrar a mente dos paraibanos que tem a memória curta.
    as despesas estão disponíveis no SAGRES para consulta e estão apropriadas na CASA CIVIL DO GOVERNADOR.

  • Reply lenilson 24 de novembro de 2018 at 17:39

    Lembro de uma vez no Grande Ponto, Abmael incomodado com o som alto do carro de um dos clientes foi lá e desligou. O sujeitou não gostou, foi tomar satisfação, mas quando viu o tamanho de gente que era Abmael acabou por não fazer nada. Ficou foi rindo da coragem dele.

  • Deixar uma resposta

    Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.