Cecílio Batista era um repórter investigativo. Quando um crime tinha jeito de insolúvel, Marcone Góes escalava Cecílio para investigar e o caso terminava solucionado. Ele ia fundo na investigação. E ao final de cada dia de trabalho, registrava tudo em O Norte, através de matéria especial degustada avidamente pelos leitores.
Mas ele era mais do que um simples repórter policial. Seu talento como humorista também se revelou através do imortal Zé da Silva, um personagem que aparecia escorado num poste do Ponto de Cem Réis ironizando os acontecimentos do dia.
Na unha de Zé da Silva não escapava o governador, o deputado, o padre, o sacristão ou o delegado. Fez besteira, Zé da Silva estava de olho para glosar e gozar. Por isso os poderosos temiam o Zé, na mesma proporção que os leitores amavam.
Foi um jornalista que fez da honestidade seu paradigma. Tanto isso é verdade que sempre morou na mesma casinha da Vasco da Gama, sempre andou num carrinho usado e jamais mudou o estilo de vida.
Um jornalista à moda antiga.
2 Comentários
Caro Tião de deus! lembro-me bem dele e, mais ainda, do personagem. Ele era, o personagem, não o autor, o nosso Péricles. O seu personagem, agora ele, o Zé da Silva, era o nosso Amigo da Onça. Eu gostava da forma com que ele espalhava o seu humor em uma ou duas linhas no máximo. No mínimo, apenas uma. Ficou claro. Mas Cecílio Batista não sabia, tenho a certeza, que estava ali inaugurando o que mais tarde a turma de O Pasquim batizaria de Picles. Se as frases bem-humoradas do Cecílio ainda não eram picles, chegavam perto deles. Talvez não fossem porque o seu humor, apesar de muitas vezes ácido mas nem tanto, não traziam o que muitos Picles tem, que são os “sintomas” de aforismos. Nada de “aforisma”. Essa é coisa inexistente. Pois bem. Lembro-me bem daquele sujeito encostado num poste do nosso histórico Ponto de Cem Réis, com luz própria, brincando com as palavras. O mesmo Zé, mas sempre com uma frase diferente. Às vezes também, disso a lembrança faz questão de gritar (quase que escrevo “lembrar”), as frases eram muito mais críticas que humorísticas. Mas, por virem do Zé da Silva, todos sorriam porque sabiam que na realidade ele, Zé da Silva, dizia aquilo porque não poderia dizer outra coisa. O imprevisto. A casca de banana em que o sujeito escorrega e ai, o outro, esse ainda em pé, cai na gargalhada. Putabraço. Ótima lembrança. Ótima série. E obrigado por nela inserir (epa!) este Malabarista de Palavras.
Lembro do Cecílio e seu gravador
Sou sobrinho da radialista Irece Botelho Falecida recentemente e sempre acompanhava Ela nas reportagens nos seus programas de rádios na API e nas entrevistas com artistas. Conheci muitos antigos das rádios através dela inclusive você meu caro.