MARCOS PIRES
Minha mãe, Creusa Pires, participou da fundação da AMEM, que poucos abnegados tocam até hoje. A sigla quer dizer Associação Metropolitana de Erradicação da Mendicância. A ideia original era colocar naquela fazenda urbana os desvalidos da sorte para que pudessem recuperar sua dignidade e serem reintegrados à sociedade. O financiamento do trabalho seria bancado por doações do povo. Ao invés de dar esmolas no meio da rua, cada pessoa faria uma doação à AMEM. Infelizmente a ideia perdeu-se no caminho.
Cresceu muito a cidade e mais ainda a mendicância. Depois da pandemia a situação chegou ao extremo. Poucos são os sinais luminosos em que não existam famílias (com crianças expostas, é necessário registrar) ostentando cartazes onde pedem ajuda. Dói na minha alma constatar como nossa sociedade não conseguiu resolver esse gravíssimo problema de inclusão. Não há nada mais terrível do que um cidadão ser forçado a pedir uma esmola para alimentar sua família. Porém meu lado cidadão tem outra vertente, a da solução do problema. Se o poder publico se mostra cada vez mais ineficiente para enfrentar essa chaga da humanidade, creio que o povo vai mais uma vez ter que assumir o protagonismo. Claro que esse não é um problema só nosso. No Rio e em São Paulo ele existe. Vi isso em Nova Iorque, um pouco menos na Europa. Mas me preocupo é com aqui e agora. Fico constrangido com a fome alheia. É suficiente? Claro que não.
Alguns pedintes sabem ter estilos próprios; há os insistentes, os penitentes e até os agressivos. Mais agressiva é a fome. Constrangimento nenhum irá superar a miséria. Dor maior do que ver seu filho com fome e não ter o que ter pra dar é impossível.
E a população a tudo assiste, acostumando-se a conviver com a miséria alheia por não querer começar a discutir o problema.
Às vezes comparo essa situação com um sapato novo que aperta o pé mas que usamos na certeza de que com o tempo ele irá ficar folgado e nos dar conforto. No caso dos pedintes é o pé que continuará a inchar e ocupar mais e mais espaço no sapato, aumentando o desconforto, tornando-se dor permanente e lá na frente, num dia que espero jamais aconteça, gangrenando e apodrecendo todo o corpo.
Mais do que nunca lembro da sensatez de Creusa Pires. Como seria bom se não precisássemos dar esmolas, contribuindo com um organismo que curasse essa ferida supurada que infecta nossa sociedade por culpa exclusiva dos (des)governos que só tem olhos para seus bolsos.
A banda Skank já cantou: “Eu tô cansado, meu bom, de dar esmola, essa cota miserável da avareza, se o país não for pra cada um, pode estar certo não vai ser pra nenhum”.
Termino invocando Gonzagão: “Uma esmola a um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.
3 Comentários
Marcos Pires, perdão pela ocupação deste espaço, mas gostaria que o outro Marcos (o Marinho) refletisse sobre a devassa que a Prefeitura de João Pessoa faz aqui na Falésia do Cabo Branco, nos seguintes termos: “Desculpe-me Tião, mas volto a comentar a atitude criminosa da PREFEITURA DE JOÃO PESSOA lá na Falésia do Cabo Branco e adjacências, para dizer (não rebater, pois o respeito e o admiro bastante) ao nobre jornalista MARCOS MARINHO, o qual concorda com o engenheiro Noé Estrela – que relacionou o caos causado aqui pelas obras em execução no Cabo Branco a fenômenos naturais. A comparação é compreensível, mas não é correta: cada pedacinho de praia tem seu próprio “DNA”. Lá em Cunhaú (não conheço a realidade de lá) pode, sim, está ocorrendo um equilíbrio dinâmico na deriva litorânea, mas aqui não, absolutamente! Aqui repito: as intervenções físicas em curso pela PREFEITURA DE JOÃO PESSOA são uma barbárie ecológica, uma desfaçatez contra a ENGENHARIA, além de deletérias e ineficientes (aos olhos da ENGENHARIA). As duas obras, tanto a drenagem como o suposto enrocamento, são ações antrópicas que degradam o meio (ou todo o) ambiente. As águas pluviais estão sendo lançadas no mar diretamente sobre a praia sem qualquer estrutura dispersora: isso em engenharia é inadmissível, em qualquer situação ou terreno. Imagine, digno jornalista Marcos Marinho, num trecho de praia oceânica? Com relação ao arremedo de enrocamento não é diferente. Veja bem. Estamos falando de um trecho de praia com elevada entropia, dado o fluxo de energia trazido pelas ondas do mar, naturalmente. Onde essa energia era dissipada no plano sedimentar, causando, sim, erosão e com ela formava-se um terraço de abrasão, há, hoje, um amontoado de pedras, algumas verdadeiros matacões. Não temos mais o terraço de abrasão! Temos lá um monstrengo, disforme, sem nenhuma efetividade ao que se propõe, mas impactante negativamente sob todos os aspectos (bióticos, paisagístico, etc…). É essa, sem dúvida, a causa de tudo que está acontecendo, negativamente, nos trechos vizinhos a jusante dessas obras. Permito-me, pedindo minhas escusas, repetir o porquê. Vejamos. Primeiro ponto a destacar é que, após o barramento dos rios tributários, os fluxos sedimentares que poderiam advir do sistema fluvial diminuíram significativamente, o que potencializou o déficit sedimentar na região. Segundo ponto, em uma praia oceânica – que é o caso -, uma intervenção física (antropogênica) de grande porte e agressiva na Zona Intertidal maior, que tem como limite uma falésia viva, equivale a um avanço do mar, na mesma extensão da largura da estrutura, com um agravante excepcional, negativamente: de forma abrupta, diferentemente do avanço do mar quando se dá de maneira natural, que é extremamente lento. As obras foram executadas sobre o terraço de abrasão no sopé da Falésia do Cabo Branco, na Zona Intertidal Maior, e alteraram, sobremaneira, a Zonação Morfológica local, com o consequente aumento da quantidade de energia negativa, como resposta ao adicional das energias cinética e potencial, transportadas pelas ondas do mar. Não há mais espaço para o espraiamento e as ondas investirão contra uma estrutura reflexiva, elevando o nível de incerteza e o grau de aleatoriedade sobre os fatores hidrodinâmicos locais, com reflexos nos trechos vizinhos, especialmente em relação às correntes longitudinais que estão interferindo na deriva litorânea, mediante desequilíbrio do já ameaçado balanço sedimentar, em razão de outros fatores, como, por exemplo, a interceptação de dunas e, como linhas atrás afirmado, o barramento de rios tributários. É como se, de repente, o mar tivesse avançado cerca de quatro metros em média, e o que é pior: as estruturas (enrocamento de pedras soltas) agridem princípios e requisitos basilares da ENGENHARIA em situações tais. Cito apenas dois, mas há outros tantos: o primeiro, diz que as ESTRUTURAS DE ENGENHARIA DEFENSIVAS devem ser dimensionadas a partir de dados e informações obtidos em monitoramento contínuo de larga escala, algo em torno de 30 anos; pelo que se sabe, os dados que referenciam essas estruturas foram extraídos de um monitoramento de 3 anos, além de outros descontínuos e de menor período. Segundo, as ESTRUTURAS DE ENGENHARIA DEFENSIVAS devem observar formas geométricas dispersoras, para diminuírem a aleatoriedade energética do embate das ondas do mar contra elas (as estruturas), dissipando, assim, parte dessa carga de energia, potencializada, ainda mais, por conta da alteração nas zonas de surfe e de arrebentação das ondas. Para dizer o mínimo: as obras, inclusive a “suntuosa” e desnecessária rede de drenagem de águas pluviais, são onerosas, extremamente impactantes negativamente, ineficientes, inoportunas, inadequadas, além do mais não há transparência, tampouco planejamento, menos ainda ENGENHARIA! As pedras soltas desse enrocamento, superpostas ao “deus dará”, abstraindo-se dos bons critérios de engenharia, e sem qualquer contenção, vão migrar para dentro do mar, a cada evento de tempestade. A situação só tende a piorar! Nossos netos vão dizer lá na frente: houve falha da engenharia. Mas eu digo agora para evitar tal julgamento injusto, no futuro: aqui há FALTA DE ENGENHARIA!!! Por fim, dizer que é razoável a comparação, mas não é prudente comparar o que está acontecendo aqui na Praia do Cabo Branco, pós-intervenção, com a Praia de Barra do Cunhaú, citada pelo nobre jornalista Marcos Marinho, a quem admiro e respeito. Sob a perspectiva da ENGENHARIA, a estratégia é equivocada: o nível eustático do mar continuará elevando-se, não tem jeito, e a indomável energia das ondas, agora potencializada, irá alcançar, em um futuro não muito distante, a encosta da nossa sofrida Falésia do Cabo Branco. É uma pena, mas ninguém quer enxergar, infelizmente!!!” Parabéns Marcos Pires pelo texto.
Tanto o governo estsdual como o municipal distribuiram cestas básicas à população.
Minha diarista mora numa comunidade, e cria uma neta que estuda em escola estadual que fez a distribuição de cestas com os alunos.
Segundo a minha diarista o governo estafual entregou a cada aluno uma cesta com: 2 kg de arroz, 1 kg de feijão. 1 kg de farinha, 1 pacote de biscoito, 1 pacote de fubá, 1 kg de açúcar, 1/2 jg de café, 1 pacote de macarrão, e nenhum material de higiene.
A PMJP distribuiu cestas com os mesmos ingridientes , mas aumentou a quantidade de arroz, e acrescentou 2 lstas pequenas de sardinhas e material de higiene: escova de dente, creme dental, sabonete, sabão em pó. Não lembro se tinha álcool, mas me parece que tinha.
Quando eu perguntei à minha diarista se só havia 2 latinhas de sardinha, ela respondeu na bucha: fazer o quê? o governo sempre acha que pobre só come farinha. E eu ainda insisti falando que podiam ter dado 1 kg de charque, mas ela logo calou a minha boca quando disse: “patroa, charque é coisa de rico, custa 30 conto o quilo”.
Depkis de 4 meses de pandemia, a minha diarista retornou trazendo consigo um balde de realidade que derramou na minha cabeça .
Parabéns Santos.,
Seu comentário constitui um Tratado de Engenharia e Meio Ambiente, uma análise crítica bem fundamenta dessa intervenção interminável na Falésia.
Sugiro ao Tião que publique na página principal para que os seus leitores possam ter acesso a esses abalosados argumentos.