opinião

DE BANANEIRAS A BARBACENA

24 de abril de 2022

RAMALHO LEITE
Chegou às minhas mãos um exemplar de “Conegundes, operário da liberdade e da cidadania” publicado sob os auspícios da Fundação Ulisses Guimarães, e que trata da trajetória política do bananeirense Manoel Conegundes da Silva, que pelos idos de 1950 largou o Colégio Pio XI em Campina Grande e partiu para as Minas Gerais onde terminou o colegial e graduou-se em matemática. Imiscuiu-se na política estudantil e recebeu do seu colega Sebastião Nery esse depoimento: “…de 1952 a 1954, na Faculdade de Filosofia de Belo Horizonte, se tivéssemos feito uma eleição para escolher o bom, o melhor entre nós, ninguém ganharia dele.Tinha uma cabeça, uma vocação, um amadurecimento político surpreendente”.
Conegundes, ao sair de Bananeiras, onde nascera em 1930, deixou a cidade  dominada pelos Rocha, herdeiros de Estevam José da Rocha – O Barão de Araruna, que depois acolheram os Bezerra Cavalcanti em seu seio e passaram a dominar a cidade. Na Constituinte de 1934 o representante de Bananeiras era o coronel José Antonio da Rocha. Na de 1947, dois deputados constituintes foram eleitos: Clovis Bezerra Cavalcanti e Pedro de Almeida, este casado com uma Rocha. Sem esquecer o pedaço que pertencia aos Coutinho e aos Lucena, que no frigir dos ovos, mesmo desunidos politicamente, formavam um mesmo bloco familiar. Havia até um ditado popular: “aqui, quem não é Coutinho, é coitado; quem não é Cavalcanti é cavalgado; quem não é Bezerra é boi!” Eram rapadura do mesmo tacho…
O movimento militar de 1964 já encontrou Conegundes professor de matemática da Escola Preparatória de Cadetes do Ar em  Barbacena, cidade dominada desde seus primórdios por duas famílias, Bias Fortes e Andradas, os últimos, descendentes do Patriarca da Independência. Eles se revezavam no comando da política local e deram até governadores a Minas. A vez de um Andrada, contudo,  na Presidência da República, dentro do esquema “café com leite”, foi tolhida pela Revolução de 30. Nesse clima de acirrada disputa foram arrancar Conegundes da sua cátedra para organizar o MDB na região e enfrentar as duas famílias, agora sob o manto do mesmo partido, a ARENA, utilizando-se do artifício da sub-legenda. Para enfrentar esse poderio econômico e político, Conegundes se valeu das regras impostas pelo regime e iniciou sua participação na política.
Seria alvo de perseguição e prisões. Em uma delas,  seu “carcereiro” mandou que ditasse o que quisesse para o escrivão e fosse para casa. A decisão do delegado não foi acatada pelo Comandante da PM local, e junto a outras autoridades de Barbacena, foi levado para o Quartel do Exército.O ex-governador Bias Fortes ligou para o general Mourão Filho e reclamou que “em Barbacena só vão presos os amigos de Bias Fortes”. Em função dos companheiros de cárcere, Conegundes recebeu  alvará de soltura e seu nome  começou a ganhar as ruas e a simpatia dos mineiros.
A partir de 1970 Conegundes participou de todas as eleições, sendo o mais votado para deputado estadual em Barbacena, derrotando os maiorais da terra, mas não logrando a conquista do mandato.Essa vitória ocorreria em dose dupla,em 1982, com a sua eleição para deputado e a conquista da prefeitura local por um seu correligionário e companheiro dos revezes anteriores.O cenário político de Barbacena e a história de Conegundes ao enfrentar oligarquias fortes política e economicamente, em muito se assemelham com a que travei na sua cidade natal. Se Conegundes tivesse exercitado seus predicados em Bananeiras, talvez eu tivesse lhe cedido o espaço que conquistei a duras penas. Mas ele preferiu a Serra da Mantiqueira e se tornou “um paraibano que orgulha Minas Gerais”, para repetir Sebastião Nery, e a Paraíba também, acrescento eu.

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