A última eleição indireta de governador da Paraíba ficou marcada na minha lembrança não pela eleição em si, pois já vira outras, mas por ser, além da última, aquela em que, pela primeira vez, alguém levantou a voz contra os militares até então intocáveis. Aconteceu em 1978, no plenário da Assembleia Legislativa.
Eu trabalhava em O Norte, fazendo a cobertura política. Vivia vasculhando a vida dos chamados homens públicos e, confesso, até então fazíamos um enjoado feijão com arroz, sem graça e sem atrativo.
O governador era Ivan Bichara Sobreira, um pacato cajazeirense alçado ao cargo de governador biônico por ser casado com uma sobrinha do ministro José Américo de Almeida. Ele fez um Governo sem sobressaltos, mas na hora de escolher o seu substituto, penou as maiores amarguras, porque o poderoso grupo de João Agripino impôs o nome do deputado Antonio Mariz, tido como comunista, e isso foi demais para o grupo conservador responsável pela sustentação política de Ivan bichara.
Mesmo assim, Mariz se impôs. Em Brasília os conchavos davam-no como o escolhido. Ninguém duvidava, só o velhinho de Tambaú pensava diferente, e quando Zé Américo achava uma coisa, a nação batia continência, concordando.
O certo é que, às vésperas do anuncio do nome escolhido para substituir Ivan, Mariz foi dormir como governador e acordou sem sê-lo. O nome anunciado, para surpresa geral da nação paraibana, foi o do secretário de Educação e Cultura Tarcisio de Miranda Burity que, apesar de brilhante jurista e educador aplaudido, era um neófito em política, já que jamais fora testado nas urnas.
Assim que a novidade propagou-se, o mundo pegou fogo por essas bandas. Antonio Mariz mandou dizer lá de Brasília que ia para a briga. João Agripino foi obrigado a apoiá-lo e surgiu, então, a dissidência semelhante àquela comandada por Maluf, em São Paulo, de que resultara sua eleição no colégio contra o candidato dos meganhas. Aqui, a Assembleia Legislativa rachou ao meio e aconteceu o inesperado: duas chapas foram registradas junto ao Colégio Eleitoral para a disputa pelo Governo.
Lembro da chegada de Mariz a João Pessoa. O homem foi levado em carreata do Aeroporto Castro Pinto ao centro da cidade, uma multidão lotou a Praça João Pessoa para o comício da rebeldia. Pela primeira vez o MDB juntou armas com a Arena dissidente de João Agripino e houve quem avaliasse como certa a vitória de Antonio Mariz.
No dia da eleição, galerias entupidas, discursos inflamados, Luiz Bronzeado, delegado da Arena, chamou da tribuna Antonio Mariz de comunista e João Agripino, que falou em seguida, deu-lhe uma reprimenda que gerou, da galeria, o grito de um fanático: “Acunha, ministro!”
Salvo maiores enganos, recordo que votaram em Mariz (e na chapa formada por Valdir dos Santos Lima como candidato a vice-governador e Ernani Sátyro como candidato a senador biônico) os deputados Ramalho Leite, Edivaldo Motta, Manoel Gaudêncio e Antonio Nominando Diniz, além dos deputados do MDB e delegados vindos do interior.
A chapa vitoriosa, no entanto, foi a de Tarcisio Burity, que tinha como candidato a vice Clóvis Bezerra e, para senador biônico, Milton Cabral.
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