Marcos Maivado Marinho
Ainda desorientado com a pífia votação para deputado estadual na eleição do último dia 7, quando obteve apenas 8.316 votos, o bem sucedido empresário Arthur Bolinha (PPS) resolveu acabar o sonho de virar também um Midas na área da comunicação social e pediu distrato no contrato de arrendamento celebrado ano passado com a família Ribeiro para comandar a antiga Cariri AM, hoje 101.1 FM.
A rádio, apesar de ter mudado toda a programação para se adaptar à migração para o sistema de frequência modulada com vistas a atrair bons patrocinadores, sequer conseguiu despertar a atenção das agências de publicidade, e isto em face dos baixos índices de audiência que ainda continuam despencando.
Como na realidade a área de mídia não é mesmo a praia do empresário, que hoje diversifica seus negócios entre a construção civil e confecções, ele não se mostrou mais disposto a bancar a empreitada e agora, contratualmente, tem 60 dias para devolver as chaves aos Ribeiros
APALAVRA não conseguiu completar ligações para Bolinha, que também não deu retorno para a redação, mas a decepção política teria tido um peso enorme na decisão, uma vez que ele apostou tanto que a rádio impulsionaria a candidatura que até o número escolhido para a urna eletrônica ele associou à emissora – 23.101.
CENTRO DE DISCUSSÕES
Mesmo antes de oficialmente existir, em setembro do ano passado a rádio 101.1 FM de Campina Grande já granjeou para si um imenso espaço virando centro das discussões de um meio (a radiofonia) que na cidade, há alguns anos, já não era alvo de quase mais nada, por se subjugar às decisões tomadas na Capital a partir dos grandes sistemas de comunicação lá sediados.
Distante 130 quilômetros do mar, de onde emanam as ordens para a maioria das emissoras campinenses, a 101.1 começou a transmitir seu sinal experimental para teste de equipamentos, mas de modo irônico se anunciou como “uma nova onda em Campina”.
Inaugurada em dezembro, a 101.1 prometia ser – em tempos de crise e racionamento – divisora de águas no mercado local, o que não veio a se concretizar embora tenha causado algum tipo de ebulição no meio inquietando radialistas, publicitários e ouvintes, todos ansiosos pelo que acabou não vindo.
A “nova” emissora na verdade só apresentou duas novidades: seu estreante executivo-arrendatário, o milionário Arthur (Bolinha) Almeida, e os equipamentos de Frequência Modulada (FM). O resto, incluindo o cheiro do mofo impregnado nas paredes e antenas, se manteve velho e adormecido.
Empreendedor nato e vitorioso, Bolinha num primeiro momento se entusiasmou passando a participar – ora como entrevistado, ora como entrevistador – em praticamente todos os programas da grade e garantia não somente uma NOVA ONDA, mas total mudança de conceito e gestão, algo capaz de revolucionar todo o mundo radiofônico da Rainha da Borborema, retirando-o da mesmice e da subserviência ao que vem de fora, em especial os ditames gerados pelos “ases” dos microfones de João Pessoa com programas em rede e suas imposições de ideias.
Como agora se percebe, o sonho acabou e Bolinha inclui no seu festejado currículo uma derrota de certa forma vergonhosa.
MUDANÇA DE NOME
A 101.1 é sucedânea da CARIRI AM, controlada acionariamente pela família Ribeiro (vice-prefeito Enivaldo, deputado federal Aguinaldo, deputada estadual Daniella…), e esperava-se viesse a manter o mesmo nome e a mesma identidade quando do processo de migração AM-FM, mas a primeira decisão do novo “time” foi a de sepultar o CARIRI – talvez algo “demodê” para o conceito de novidade que se desejava nela imprimir.
“Enterramos o saudosismo”, avisou na época a empolgada jornalista Luanna Farias, assessora de imprensa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campina Grande (CDL-CG) recrutada às pressas pelo presidente da entidade, não por coincidência o mesmo Arthur Bolinha arrendatário da 101.1, para ajudar no relacionamento inicial entre a emissora e o público.
A decisão desse enterro, na verdade um soco de peso-pesado na memória histórica de Campina Grande, dividiu opiniões.
– “Jamais irão enterrar o saudosismo! Faz parte da vida, ele é ontem, alicerce do hoje, fortaleza do edifício do futuro! Um edifício tão grande, sem andares, pois sua construção é contínua, graças aos acontecimentos diários da história, que nunca para!”, protestou pelo Facebook um dos ícones da radiofonia campinense, o professor da UEPB Gilson Souto Maior, respeitável ás do passado nos microfones da cidade.
– “Retrovisor virado para o futuro. O nome CARIRI ficou no passado, assim como ficou o rádio AM”, aplaudiu o esperançoso Josinaldo Ramos, talentoso multimídia que empresta seu ‘GOGÓ’ profissional a uma FM do Sistema Correio no Município de Queimadas, região metropolitana de Campina, e alimentava o sonho de voltar para uma emissora da Rainha da Boirborema.
– “Esse enterramos o saudosismo dói”, lamentou sem maiores delongas o ex-vereador Marcos Marinho, radialista que anos atrás na Cariri AM juntamente com Junior Gurgel e Dagoberto Pontes liderou o Ibope da cidade no horário do meio dia mesmo sob a forte concorrência dos programas em rede gerados na Capital.
Mudar o nome da rádio, em se tratando da CARIRI, foi um grande insulto a Campina Grande. É como uma espécie de “estupro” cultural e histórico, sem amparo em nenhuma justificativa convincente e este fator certamente contribuiu para a derrocada ora anunciada.
PRIMEIRA RÁDIO DE CAMPINA
A CARIRI, no dia 13 de Maio de 1948, entrou para a história campinense como a primeira rádio profissional de Campina Grande.
Suas transmissões iniciais tiveram as digitais de José Jataí, Hilton Motta, Gil Gonçalves e mais alguns jovens, reunidos no bairro de Bodocongó.
Aqueles jovens, sem recursos e sem apoio comercial para seguir adiante com o projeto, não tiveram outra alternativa dias depois a não ser fechar temporariamente a rádio. Mesmo assim, o marco inicial estava registrado, já que a emissora foi ao “ar” antes que a lendária rádio Borborema, que só estrearia alguns meses depois, ligasse seus transmissores.
A CARIRI tem uma longa e sofrida história. Veio a ser vendida ao senador Epitácio Pessoa Cavalcanti, sendo instalada logo após no “Edifício Pernambucano”, localizado na rua João Pessoa, centro da cidade. Porém, o filho do ex-governador João Pessoa, morto em 1930, acabou por falecer justamente quando procurava modernizar os equipamentos da rádio. Mais uma vez a CARIRI fecharia suas portas.
Após um período no “limbo”, Severino Cabral, sempre atento à cultura em sua longa trajetória política, comprou a emissora em 1959, mas estranhamente não chegou a botá-la para funcionar.
E chegou a vez da CARIRI ir parar nas mãos do visionário Assis Chateaubriand, que acabou incorporando-a aos seus “Diários e Emissoras Associados”.
Em 7 de maio de 1982 a CARIRI mudou seu nome para “Rádio Sociedade”, que trabalharia no prefixo ZY1674, potência irradiada de 1.00 kw.
Finalmente, em 1996 voltou a ser CARIRI e em 1999 foi arrendada à Igreja Universal do Reino de Deus.
Em 2008, depois de pendenga judicial com ex-diretores associados, ação que ainda não teve seu desfecho e encontra-se em grau de recurso n’outras instâncias do Judiciário, a família do atual vice-prefeito Enivaldo Ribeiro assumiu o controle da rádio, modernizando-a com novos equipamentos e fortalecendo sua equipe de radialistas.
Adotando uma gestão familiar, a CARIRI não conseguiu decolar em audiência apesar de ter, de forma terceirizada, recrutado bons nomes para os seus horários. Há dois anos veio a ser arrendada ao Grupo Duraplast, mas o insucesso gerencial a impediu também de decolar. E agora viu frustrada a aposta na força de Arthur Bolinha e na modernidade da Frequência Modulada para sair do limbo e dar a volta por cima.
NOMES NACIONAIS
A Rádio CARIRI lançou diversos artistas e grupos de renome nacional, como ‘Marinês e sua Gente’, ‘Abdias’, ‘Genival Lacerda’, ‘Rosil Cavalcanti’, dentre outros. Por seus microfones passaram os mais respeitados e competentes profissionais da radiofonia nordestina.
1 Comentário
Isso é o espelho de como a mídia era usada por coronéis para se manter no poder. Hoje, rádio, jornal impresso e TV, apesar de ainda importantes, perderam espaço para as redes sociais. Bolsonaro, com ajuda da inteligência norte americana e da Cambridge Analítica(empresa de marketing ultilizada por Trump, especialista em difusão de fake news em redes sociais), faz uma campanha brilhante e avassaladora, usando como substrato o terreno fértil do ódio. O Brasileiro vai pagar muito caro.