Marcos Pires
Em 1989 a eleição presidencial foi “solteira”; seria escolhido somente o Presidente da República e Lula e Collor chegaram ao segundo turno num cenário parecido com o que se mostra hoje.
Por uma dessas trapaças da sorte eu fui contratado para ser o advogado de Fernando Collor na Paraíba. E apesar de ainda acreditar, naquela época, que votar mudaria alguma coisa, não votava nelle. Era um trabalho profissional que me deu imenso prazer porque tive parceiros fantásticos, como Ivan Burity, que coordenava a parte política e excelentes advogados que hoje são Excelências.
O que importa contar é que a campanha estava tão violenta que num determinado momento foi necessário comprar um revolver calibre 38 para um arremedo de segurança que supostamente nos protegia. Naquela época compravam-se armas em qualquer esquina. Me recomendaram um cidadão chamado Leão. Liguei e consegui comprar o revolver para o nosso segurança. Quando vi a arma, me impressionaram a qualidade e o preço. Decidi comprar uma igual para mim. Liguei novamente para o tal Leão e comprei o segundo revolver. Ocorre que trabalhava conosco um faz tudo apelidado de Hulk pelo seu tamanho; um metro e vinte. Hulk começou a me encher para comprar um revolver para ele também; nada muito grande, um calibre 22 já seria legal. Era compatível com seu tamanho.
Liguei mais uma vez para Leão e encomendei o terceiro revolver. Quando ele me entregou a arma, sem saber que cada um dos 3 revolveres comprados era para uma pessoa diferente, foi muito sincero: “- Olha, Dr. Marcos, esse já é o terceiro revolver que o senhor me compra em dois dias. Será que não é melhor contratar também um cara decidido para resolver essa questão aí? ”
Lembrei do fato porque estou temendo a radicalização que a atual disputa eleitoral está imprimindo ao povo brasileiro. Não se trata do bem contra o mal, de quem está certo contra quem está errado. No máximo são ideias diferentes para um mesmo fim, qual seja o bem do país. Mas nada de bom resultará se os brasileiros mantiverem esse grau de beligerância.
O Brasil é maior do que tudo isso. Nós somos o Brasil.
Por fim gostaria de lembrar que os dois candidatos que disputaram aquela eleição em 1989 foram Presidentes da República em tempos diferentes; um deles foi enxotado do mandato; o outro está preso.
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