Assim que o sol nasce e eu me levanto, cumpro a missão de ir ao pé de siriguela fazer a colheita do dia.
Faz duas semanas que siriguela aqui é mato.
E dela fazemos uso para várias coisas.
Inclusive para tirar o gosto da Cachaça Serra Limpa, que me foi imposta pela dona da casa em razão da sua condição de conterrânea do dono da marca e depois reforçada pela preferência da vizinhança, consumidora confessa da única cachaça orgânica do Estado da Paraíba.
O pé de siriguela que nos fornece frutos chegou aqui por acaso.
Fora derrubado em terreno onde se ia construir casa nova e, no transporte do tronco semimorto do local da derrubada até o lixo, Seu Gilvan, o transportador, perguntou-me se tinha interesse em vê-lo plantado em nosso chão.
Mesmo duvidando da possibilidade daquele tronco reviver, topei a parada e em menos de meia hora ele estava lá enfincado na terra.
O tempo passou, chuvas caíram, irrigação foi feita nos períodos não chuvosos e finalmente o tronco renasceu, reviveu, ficou majestoso e agora, nesse tempo de cruel pandemia e isolamento rigoroso, nos brinda com uma safra de encher os olhos e, mais que os olhos, o bucho.
Não que ele seja o único a adular o nosso paladar. Desde que chegamos aqui para demorar tempo indeterminado, não compramos fruta para fazer o suco do almoço.
Primeiro vieram as acerolas. A geladeira ainda está cheia.
O maracujá veio em seguida.
E a goiabeira, em sua segunda safra, bota cada goiaba do tamanho de uma manga espada.
O pé de manga Tommy frutificou pela primeira vez este ano. Botou cinco belas mangas e está florando novamente.
Sim, ia esquecendo do limoeiro. Não lembro a data que comprei limão em supermercado e feira.
Mas o agricultor que vos fala ainda se farta com os pés de alface, a rúcula, o coentro e os tomates cereja.
A única coisa que foi plantado aqui e não teve futuro foi o pimentão.
Mas a gente nem sempre tem tudo o que quer.
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