Frutuoso Chaves
O lobo-guará, bicho em extinção, sai da toca, nesta primeira quarta-feira de setembro, para o bolso de uns poucos felizardos. Poucos, sim, desde que sejam comparados ao imenso contingente de desvalidos neste Brasil de 211,7 milhões de habitantes, pela última contagem do IBGE.
O guará compõe o verso da cédula de 200 reais. A turma de até um salário mínimo – que soma um terço da força total de trabalho do País – terá, agora, mais um constrangimento: apenas seis delas em muito ultrapassarão aquilo que recebe para o sustento familiar, a cada 30 dias.
Li, na Agência Brasil, a informação de que esta é a sétima cédula da família do Real e que delas circularão 450 milhões de unidades. Também, que seu lançamento é providência destinada a conter o aumento da demanda por papel moeda.
Eu, que pouco entendo de macroeconomia, não concebo como se combate emissão de papel com a emissão de mais papel. Converso com os meus botões e eles arriscam o palpite: ao invés da futura impressão de duas de cem se imprimirá uma de duzentos. E a inflação que se dane.
Os mesmos botões não deram palpite acerca do editorial daquele jornalão segundo o qual os passos do lobo-guará dificultarão o combate à lavagem de dinheiro. Reduzir a circulação da moeda nacional diminuiria a ocorrência de crimes financeiros, escreveu o editorialista.
Seja como for, me bateu, agora, uma saudade desmedida do Cruzeiro. Não estou a falar da revista com circulação de um milhão de exemplares, no fim da década de 1950, quando um Brasil que então lia mais do que lê hoje, possuía somente 50 milhões de habitantes, ouviu IBGE?
Eu falo das cédulas impressas por Getúlio Vargas. Especificamente, da nota de 5 que trazia o Barão do Rio Branco na frente e, nas costas, “Conquista do Amazonas”, a tela belíssima de Antonio Parreiras. Fosse novinha, estalando, tinha valor de outra ordem: o motivado pela visão mais nítida daquela indiazinha. É que ainda não existia a Playboy e a internet sequer era imaginada.
Quase 1960, perto de deixar os estudos primários no Recife para o retorno à casa paterna no Pilar de José Lins, eu ganhava 5 cruzeiros da tia a quem ajudava nas compras feitas na feira livre do subúrbio de Cavaleiro.
Getúlio nem mais existia, posto que já havia metido uma bala no peito. Pois bem, aquele dinheirinho, imune ao processo inflacionário, recebido a cada domingo, me garantia um ano de gibis, cinema e picolés. Isto, depois de um copo de vitamina no Mercado Público, manhã cedo, com um bolinho de saia.
Os filhos, ainda pequenos, não acreditavam que um ser humano com suas idades fosse capaz de gastar com vitamina de banana. Achavam que era esforço meu a fim de convencê-los a tomar, toda santa manhã, aquilo que tinham de graça.
Já saídos da adolescência – fase em que os pais tudo conversam com os filhos – também se recusavam a crer na história da indiazinha na cédula de 5.
Pensando bem, dou-lhes razão. É mesmo difícil acreditar que houve um tempo em que nosso dinheiro comprasse tanto e fossem tão poucas as nossas exigências. Mas que sinto saudade, lá isso, sinto.
Sem Comentários