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DODÔ FOTÓGRAFO E O RETRATO DO PAPA

25 de maio de 2019

RENA BEZERRA

1
Natural do Sítio Areias
De São José de Princesa,
Dodô um homem de bem
Letrado por natureza,
Sempre fino e educado
Vem duro no seu legado
Mostrando toda firmeza.

2
Viveu com muita dureza
Da luta de seu roçado,
Se o ano chovia bem
Fartura tinha adoidado,
Mas quando o ano era seco
A chuva pegava o beco
Sertão era castigado.

3
Por ver tudo esturricado
E o sertão ficando ingrato,
Ali na sua vivenda
Mesmo na boca do mato,
Ele não fez diferente
Pensou como muita gente
E partiu de imediato.

4
Sem documento e contrato
Se despediu do Nordeste,
Por outras terras estranhas
Ele ia fazer o teste,
E disse pensando assim:
Eu vou de Itapemirim
Me abufelar com o Sudeste.

5
Legítimo cabra da peste
Chegou e sem se enfadar,
No outro dia já foi
Pr’uma firma trabalhar,
Era ali que ele queria
Trabalhar com valentia
E um bom dinheiro juntar.

6
Pra mais dinheiro ganhar
Dificuldade não via,
Além do que trabalhava
Às oito horas por dia,
Outro emprego ele arrumou
Noutra firma se encaixou
De noite pra ser vigia.

7
Aumentou a correria
Ele se enfadou de fato,
Pra trabalhar os dois turnos
Não lhe saía barato,
Pra casa um dia voltando
Viu cartaz anunciando
Curso de tirar retrato.

8
Dodô de imediato
Se sentiu abduzido,
Com aquele anunciado
Ele ficou atraído,
Dizendo: Amanhã irei
Vê isso que eu avistei
Se vai ter algum sentido.

9
Folgou e já convencido
Que era isso que queria
Quando chegou ao SENAI
Ali se inscreveria,
Para a nova profissão
E fazer com perfeição
Curso de fotografia.

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Numa semana já via
Que a coisa era diferente,
Ele já tava por dentro
Do flash, do foco e lente,
E nos seis meses exato
Ele bateu o retrato
De seu diploma excelente.

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Já pronto para o batente
Ele já estava a mil,
No quartinho que morava
Um pequeno estúdio abriu,
Mas o melhor da etapa
Foi ele saber que o papa
Viria para o Brasil.

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Retratista varonil
Nunca vê dificuldade,
E Dodô fez um estudo
Pra mapear a cidade,
Só assim não perderia
A chance e conseguiria
Retratar a Santidade.

13
Examinou a vontade
Esquina, beco, avenida,
Cada alameda que tinha
Naquela rota inserida,
E escolheu de primeira
O alto de uma figueira
Para a foto ser batida.

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Ali já tava escolhida
A sua colocação,
Só tava faltando o dia
Pra sua consagração,
Quando João Paulo II
Num ato santo profundo
Abraçava a multidão.

15
E o dia chegou então
Dodô foi pra seu lugar,
No alto daquela árvore
Queria fotografar,
O Papa na avenida
Mas uma forte investida
Iria lhe atrapalhar.

16
Antes do Papa passar
A polícia descobriu,
Dodô no alto da árvore
E todo o plano ruiu,
Fizeram ele descer
Deram ordem pra prender
E pra cadeia seguiu.

17
Dodô nada reagiu
Explicou o que queria,
Mostrou sua fujifilm
Amiga do dia a dia,
E disse só escalar
A árvore para tirar
Do Papa fotografia.

18
A polícia lhe ouvia
Mas soltar não prometeu,
Enquanto que o Papa João
Toda a cidade correu,
Enquanto um mal entendido
Tem nosso Dodô detido
E a foto ele não bateu.

19
Depois que se esclareceu
Isso já no outro dia,
Nosso maior retratista
Pra Princesa voltaria,
Começando novos planos
E sendo por muitos anos
O rei da fotografia.

20
Dodô assim venceria
Por amor a profissão,
Hoje está aposentado
Tõe é que segue a missão,
De fazer fotografia
E mostrar com maestria
As belezas do sertão.

Poeta cordelista
Rena Bezerra
25/05/19

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