Destaques Sem categoria

DOMINGUEIRAS DO TIÃO

25 de abril de 2021
VINTE E NOVE, TRINTA

A Juarez Távora, da Torre, não era aquele inferno de carros subindo e descendo em que se transformou de noventa para cá. Tinha seus movimentos, mas eram movimentos inocentes. O ônibus dirigido por Ouro Pinto subia para o Expedicionários e ele mesmo voltava algum tempo depois, fazendo o percurso de retorno ao Mercado Central, onde ficava o terminal rodoviário urbano. No meio da Avenida havia o restaurante Braseiro Continental, especializado em galeto na brasa. Fui muitas vezes ali para jantar com dona Cacilda, nos tempos de trocados curtos e de viagens de coletivos.

Tinha o cinema Metrópole, na confluência com a Bento da Gama, para onde acorriam os jovens nas tardes de domingo para as matinês e os namoros.

Mas o que era bom mesmo ficava na Aragão e Melo, que mais tarde tornou-se meu endereço por tempos demorados. Ali a programação começava com uma meiota de Engenho do Meio, tendo moela de galinha como tira-gosto, na barraca do Zeca, até que o Bandeirantes da Torre, que funcionava no mesmo local, abrisse as suas portas para a roda de samba no pé e a chumbregação com as cabrochas da Torrelândia, tidas e havidas como as mais quentes da cidade.

O Bandeirantes disputava as preferências com a Malandros do Morro, localizada no mesmo bairro, pras bandas da Beira-Rio. A Malandros era uma escola de samba acostumada a ganhar títulos carnavalescos e, nos tempos sem momo, abria seu salão para as danças de fim de semana, ao mesmo tempo em que servia de abrigo às piniqueiras que afloravam nos seus limites como andorinhas atraídas pelas torres de igrejas.

Naquele tempo eu era metido a bonito. Tinha os cabelos longos, usava barba comprida, andava sempre vestindo calça boca de sino e calçando sapato Cavalo de Aço. Era a moda da época.

Tinha chegado recentemente de Princesa, onde aprendera a namorar todas as moças do lugar e as que chegavam em visita, de modo que, naquela sexta-feira, me preparei para tirar o atraso, já que fazia dias que não conhecia o que era chamego.

Entrei no Bandeirantes, depois dos preparativos na barraca do Zeca, esperei que o salão ficasse cheio e, quando a festa estava animada,  chamei a primeira para uma boa dança. Levei um corte. Chamei a segunda, a terceira, a quarta e já estava perto da décima, quando desisti. Frustrado, voltei para a barraca e meti a cara na Engenho do Meio. Lá para as tantas, porém, vi uma bela morena me espiando lá de longe. Certifiquei-me que era para mim mesmo que ela olhava e, diante da certeza, fui lá, convidei-a para uma dança, ela aceitou e ficamos a noite inteira dançando e namorando, namorando e bebendo, bebendo e dançando. Até que, pertinho da madrugada, o guerreiro, que era eu, pegou no sono. Adormeci no seu colo, feliz da vida, realizado na maior das emoções.

O dia já ia amanhecendo, quando minha amada, tocando carinhosamente no meu ombro, acordou-me, chamando para ir embora . A orquestra nem estava tocando mais. Levantei-me, pus o braço no seu pescoço e saímos pela Aragão e Melo, desfilando.Só que notei um negócio meio estranho. Minha companheira caminhava  de um jeito estranho, ou seja, batia nos meus quartos com os seus quartos e, ao mesmo tempo em que batia, subia e descia como se fosse um vinte e nove, trinta.

Foi então que percebi: ela tinha uma perna curta, a bunda torta e se apoiava numa muleta de pau, que eu não percebi durante a noite por causa da Engenho do Meio com moela de galinha do Zeca da Barraca.

 

NIVER DE RAMALHO

Esta semana os amigos e familiares de Ricardo Ramalho se juntaram para cantar parabéns pelo seu aniversário. Ricardo é filho de Ramalho Leite e de Marta, marido de Marcileide e pai de três rapazes e de uma moça. Meu vizinho em Bananeiras, um amigo que ganhei nos tempos recentes e que faço questão de preservar por ser uma jóia rara nesse mundo repleto de bijouterias.

A ele os meus parabéns e os de Dona Cacilda.

 

COMANDOU PESSOALMENTE

As fotos que me chegaram mostram o prefeito Cícero Lucena comandando pessoalmente o Corujão da Vacinação. Isso é bom. Com o dono da casa à frente das operações não há como dar errado.

Daqui a pouco estarei diante da moça que vai furar meu braço. Vou deixar pra comentar a coisa como um todo depois desse encontro.

 

A FOTO E O FATO

Eu vi, ninguém mostrou: o Presidento e seus ministros (o conterrâneo Marcelo Queiroga estava lá) ao lado de Sikêra Júnior, todos sorrindo felizes exibindo a imagem de um “CPF Cancelado”, que é a denominação dada pelo comunicador ao bandido que foi morto pela polícia ou em duelos entre gangues.

Triste cena. Pessoas que deveriam celebrar a vida, festejando a morte.

 

Você pode gostar também

7 Comentários

  • Reply CICERO DE LIMA E SOUZA 25 de abril de 2021 at 06:55

    PARABENS PREFEITO. A SOCIEDADE VAI ENALTECER ESSE FIRME POSICIONAMENTO.

  • Reply CHICO FLORENCIO 25 de abril de 2021 at 09:44

    Tião, um memorialista excepcional. É o que chamo, texto fotográfico. Um dia ele ainda vai descrever em detalhes os 9 meses que passou na barriga da mãe! Desde a concepção até a expulsão do paraíso!

  • Reply Bruno 25 de abril de 2021 at 10:44

    Tião, deixa de hipocrisia, ou então pega um bandido qualquer e leva pra morar contigo….
    Deixa de conversa fiada, e para de defender bandido….
    Bandido bom é bandido morto.
    E ponto final….

    • Reply Sebastião 25 de abril de 2021 at 17:13

      Posso levar tua irmã? É que sou mais chegado, entende?

  • Reply Zé Bedeu 25 de abril de 2021 at 11:13

    Fim dos tempos

  • Reply Luis Melo Rego 25 de abril de 2021 at 18:30

    Tiao, não adianta, a milícia tá no comando,infelizmente!!

  • Reply luiz 25 de abril de 2021 at 18:52

    O ministro da daúde aparenta envergonhamento. Aproveita e sai desse meio.

  • Deixar uma resposta

    Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.