DESCULPA, PAI!
É engraçado, pai, como eu o deixava sozinho naquela casinha do Geisel, quando o senhor chegava de viagem do interior. Naquele tempo eu achava que, só pelo fato de ir buscá-lo na rodoviária e transportá-lo até o lugar de descanso, estava fazendo a melhor coisa do mundo. Pai, confesso de coração aberto, que eu sequer imaginava que o senhor gostaria de conversar comigo, trocar idéias, falar do tempo, das chuvas no sertão,da boa roça que o senhor sempre plantava e outras coisas mais, tão do seu agrado.
Eu não fazia isso e nem sentia que isso lhe fazia falta.Era filho e, como todo filho no vigor da juventude, estava mais preocupado com meu umbigo do que com o jeito de pensar daquele velhinho que se contentava com tão pouco.
E quantas vezes lhe transportei da rodoviária para a casinha do Geisel e vice-versa, sem nunca me lembrar de perguntar se o senhor estava gostando, se sentia falta de alguma coisa, se queria conversar, se estava tudo bem.
Lembro, sim, de uma passagem: certa vez cheguei na casinha e o convidei para dar uma volta. Fomos ao Valentina e voltamos, andamos pouco mais de dez quilômetros naquele fusquinha velho, enferrujado e de pneus carecas, mas guardei na memória aquele sorriso largo, de orelha a orelha, que o senhor ostentou durante todo o trajeto.
Pois foi, pai. O tempo que eu poderia ter aproveitado ao seu lado, gastei na barraca do cajueiro, na bodega da esquina, no bar da praia. O senhor sempre foi a baraúna invencível que não carecia de nada e por isso jamais me preocupei em ficar do seu lado matando o tempo, trocando idéias, falando de nós.
Faz 38 anos, pai, que o senhor se foi. E somente agora, quando ultrapassei a idade que o senhor tinha naquele 84 que quero esquecer, vejo-me velho, cansado, com vontade de conversar e sem ter quem me ouça. E anseio pelo seu colo, pelo seu aconchego, pelo seu cheiro de matuto e pelo seu abraço de pai. E misturado a isso peço desculpas por tudo aquilo que a gente deixou de viver, por culpa exclusivamente minha.
ASFORA, UMA MORTE, UMA POLÊMICA
Não tem nada ainda para o lançamento presencial do livro “Afora, uma morte, uma polêmica”, do desembargador e agora escritor Leandro dos Santos. Mas a obra já está à disposição do leitor na Livraria do Luiz, ali na Galeria Augusto dos Anjos, centro de João Pessoa.
Trata-se, como explica o autor, de um trabalho de pesquisa de cerca de oito meses, nos autos da ação penal que investigou a morte de Raymundo Asfora. Leandro dos Santos faz um relato de todas as provas, mas com uma leveza para não ficar técnico, e deixa que cada leitor firme sua convicção sobre homicídio ou suicídio.
Ao blog o desembargador avisa em primeira mão: Em março de 2022 ele fará o lançamento presencial em Campina Grande, quando fará 35 anos da morte do tribuno.
CHOLA, O ETERNO
Chola Morato é a cara de Monteiro. Durante muitos anos trabalhamos juntos e à cada ida a Monteiro me surpreendia com uma novidade. A derradeira delas foi a música. Na casa de Nanado Alves ele brilhou mais do que o artista. Dedilhou o violão, cantou músicas de Roberto Carlos, fez solos mágicos e entoou modas de saudade.
Faz tempo que não o vejo, mas qualquer dia desses, quando o coroca deixar, a gente se encontra para fazer tudo de novo.
GERBASE E DA LUZ
Sebastião Gerbase, o poeta do cuscuz e das modinhas românticas, completou 55 anos de casado com Daluz e comemorou versejando. Cabra arretado, amigo de longos janeiros, juntos estudamos, juntos nos formamos e, quando podíamos, juntos degustávamos aquele cuscuz com bode na feira da Torre ao lado de Paulo Mariano, Luciano Arroz, Tadeu Florencio e Emanuel Arruda.
Mas eu não vim aqui falar de cuscuz, vim falar desse casal maravilhoso que preserva um casamento por tanto tempo, num tempo em que casar se tornou um exercício banal, uma coisa fora de moda.
Que cheguem às bodas infinitas, sempre se amando e querendo bem.
HISTORINHA DE DOMINGO
José Dantas foi vereador em Borborema. Gostava de ser ouvido mas nunca de ser interrompido. Quando alguém entrava na sua fala, esbravejava:
– Não me apartei em vírgula…espere que eu faça ponto!
Era seu costume repetir algumas frases, verdadeiras sentenças, como por exemplo:
-Quem mata velho são três Q – Queda,Qatarro e Qaganeira.
5 Comentários
Tiao, vc botou pra torar nas lembranças do seu pai .
Prezado Tião, apesar de não lhe conhecer pessoalmente, sou assíduo leitor do seu blog. Sempre digo que você escreve bem, mais hoje você se superou. Tudo o que você escreveu sobre seu pai me fez lembrar que cometi os mesmos erros que você, e hoje me arrependo muito. Confesso que chorei ao ler sua crônica. PARABÉNS. Espero um dia lhe conhecer pessoalmente.
Que texto maravilhoso. Real.
Me deixou comovido as lembranças de seu pai, porque eu também tenho esse sentimento, de não ter aproveitado o tempo que dispunha prá ter conversado mais com meu pai, belíssima narrativa, parabéns.
Tião, de tudo que você falou sobre seu pai, chaga-se a conclusão:!SE ARREPENDIMENTO MATASSE, VOCÊ SERIA UM HOMEM MORTO.