GORÓ
Goró morreu como queria, rodeado de garrafas de aguardente e de amigos de rostos inchados, pescoços finos e barrigas proeminentes. Se encantou para esse mundo para por ordem nos bares celestiais.
Filosofou até na hora de fechar os olhos, dizendo para dona Biu, sua generosa e sempre fiel consorte, que havia chegado o seu momento. E ainda teve topete para desafiar a enfermeira que teimava em lhe enfiar uma mangeira de ar, argumentando que não pretendia morrer com o nariz entupido. E morreu na mesma hora, sem direito a saideira que lhe molharia a goela e esquentaria suas tripas antes que as lombrigas do Boa Sentença as devorassem.
Foi um velório à altura do grande homem. Ali estavam os companheiros de jornadas antológicas, amigos do copo e das madrugadas indormidas, dos banhos de rio e das buchadas que só dona Biu sabia cozinhar, das anedotas que matavam de rir quem as escutassem, das carraspanas que duravam de carnaval a carnaval e só não causavam ressaca porque a miserável morria logo com o raiar do sol, debaixo de uma gostosa talagada de Engenho do Meio.
Goró sorria dentro do caixão. Todos viram seu sorriso matreiro, safado, enganador, mangando das velhas que rezavam o terço encomendando sua alma e pedindo salvação para aquele perdido no vício.
Aníbal, que viria a ser o próximo da lista, guardava sua garrafinha de cana no bolso da bunda e disse que teve vontade de dar um gole ao ilustre morto, só não o fazendo porque Dona Biu não desgrudava dele. Lá fora, debaixo do pé de sombreiro que Goró plantou, regou e fez crescer, o resto da turma se preparava para romper a noite de sentinela bebendo o “todynho” que Goró imortalizou.
Em vez de choro, cuidava-se de escolher o sucessor do rei e nenhum candidato se atrevia a inscrever-se, em respeito à sua presença na sala principal da casa. E se ele levantasse de repente para recriminar os que desejavam substitui-lo sem haver a certeza absoluta de sua partida definitiva?
Somente quando o carro da funerária encostou para levá-lo ao cemitério, é que se concluiu que Goró estava indo de vez habitar outras paragens, preparar o terreno para os próximos viajantes, os futuros moradores da casa desconhecida, do bar onde se bebe e não se morre mais.
E o percurso do Funcionários II até o Boa Sentença foi feito a pé, ao som de Adeus Ingrata.
PEDRO DA BARRACA
Em 2011, Seu Pedro da Barraca entregou a faixa de governador a Ricardo Coutinho. Esta semana os dois se reencontraram no seu aniversário de 91 anos. Ricardo e a esposa Amanda foram abraçar o aniversariante e lhe entregar um exemplar do livro do ex-governador. Foi um encontro repleto de emoções.
FEIJOADA DO ABELARDO
A grande pedida hoje é a Feijoada do Abelardo, no Lovina Beach. Reúne a fina flor da sociedade e o cabra sai de lá de bucho cheio e peidando de alegria. Juro que vale a pena conferir.
ALDO NA TERRINHA
Aldo Lopes não deu pra quem quis na sua passagem pela terrinha neste final de semana. Deve ser por isso que ele pensa seriamente em trocar Natal por João Pessoa.
EDITAL
Emanuel Arruda avisando que já está pronto o edital para os interessados em se inscrever à imortalidade da Academia Princesense de Letras e Artes.
1 Comentário
EITA! Ressuscitou Leon Trotsky! O alter ego de Aldo Lopes. Um vivente no morro dos ventos uivantes do Marinho, ex Olimpo de Zeus. Refúgio para seus fastios do convivio com os simplórios mortais!