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Domingueiras do Tião

2 de janeiro de 2022

Quando Renato Carrôla quase acaba a Bagaceira da Festa das Neves no cacete

Renato Carrôla juntou os panos de bunda em Sousa, pegou o primeiro onibus que passou na rodoviária e viajou para João Pessoa. Tinha assuntos a resolver no Banco do Brasil, referentes a um empréstimo agrícola em dias de vencer e que, se não pagasse, o Banco lhe tomaria os oito hectares de terra que possuía às margens do Açude de São Gonçalo.

Viagem longa, de muitos buracos e curvas perigosas. A Capital só apareceu aos olhos de Renato quando a noite densa cobrira os céus do litoral. Aquele mundão de luzes acesas deslumbrou os olhos do visitante, que nunca tinha arredado os pés do sertão. Desceu na rodoviária e ficou impressionado com aquele amontoado de carros indo e vindo, vindo e indo, onibus, trens, motos, uma misturada impressionante.

Entrou no primeiro taxi que parou na sua frente, alojou-se no banco do passageiro e ordenou:

-Me leve na casa de Johnsim!

-Quem diabo é Johnsim? -, perguntou o taxista. E Carrôla:

-Mas taí, num sabe quem é Johnsim? Pense num motorista atrasado!

Falava do acadêmico de Direito Johnsom Abrantes, muito conhecido nos longes de Sousa e do Lastro, mas uma figura ainda virgem em termos de notoriedade na Capital do Estado.

O certo é que, de muito perguntar, terminaram, ele e o motorista, chegando à república onde Johnsom morava com os irmãos no Bairro da Torre, nas proximidades da Malandros do Morro, onde Carrôla instalou seu pavilhão e fez pouso, atraído pelos requebros das sambistas e das piniqueiras faceiras que davam o seu em troca de um olhar.

Johnsom escalou o irmão Bessanger para ciceronear Carrôla na Capital. A primeira visita foi ao Banco do Brasil. Carrôla entrou na agência da 1817 e foi logo perguntando pelo gerente. O guarda ensinou:

-Moço, pra falar com o gerente o senhor tem chamar o elevador”. Carrôla obedeceu:

-Alô, seu elevador!”. Foi de novo advertido pelo guarda:

-Chame pelo botão!”

Carrôla segurou o botão da camisa e, levando até a boca, gritou bem alto:

-Alô, elevador!

Bessanger acabou com o suplício do conterrâneo, apertou o botão, o elevador chegou, ambos entraram, Carrôla ao chegar no quinto andar puxou a carteira e perguntou “quanto foi a corrida?” e ao ser informado que não era nada, festejou: “Eita, desse jeito é bom demais. Me espere aí, viu, que quando eu voltar quero que o senhor me deixe na rodoviária”.

Era Festa das Neves, a padroeira de João Pessoa. Carrôla, festejando o bom final do seu problema com o Banco do Brasil, foi com Bessanger tomar umas na Bagaceira. A farra durou até de madrugada e terminou num estranhamento entre o bravo sertanejo e uma quenga da Maciel Pinheiro, que depois de beber, comer e encher o bucho, não quís lhe dar de graça. O bate boca foi grande, chamaram a polícia, a polícia chegou, Renato Carrôla se atracou com um cabo velho e os dois rolaram em cima do mijo, mesas e cadeiras voaram pra todo lado, até que, dominado, o bagunceiro ia ser levado pra cadeia, quando apareceu o deputado Bosco Barreto e mandou soltar o conterrâneo. Sentindo-se o próprio, Carrôla dirigiu-se ao soldado mais valente e ordenou:

-Me dê seu nome pra eu mandar Johnsom tirar sua farda.

Pronto, recomeçou tudo de novo. “Teje preso!”, gritou o soldado. Bessanger Abrantes se meteu no meio: -Se ele for, eu vou também”. Foram os dois. Dormiram na cela e no outro dia, como castigo, foram obrigados a limpar os banheiros e varrer a calçada da Central de Polícia

 

O corredor

O vereador João Gonçalves comandava uma entrevista coletiva, a mando do prefeito Chico Franca, para mostrar à imprensa de João Pessoa a abertura da Avenida Airton Sena, aquela que liga a praia do Bessa ao Varadouro, quando um repórter perguntou qual o trajeto da nova via.

João, empostando a voz para se dar mais importância, explicou:

-Ela começa no Viaduto do Forrock e termina na oficina de Seu Pedim.

Suspensório

Convidado pelo advogado Johnson Abrantes para viajar a Brasília, o prefeito Luiz Sá preparou-se devidamente comprando uma bonita roupa de casimira na loja de Mestre Zequinha.

Começaram a viagem no Recife, onde pegaram o avião. Já instalados, o prefeito ouviu a aeromoça avisar, pelo serviço de som, que estava na hora de apertarem os cintos. Aí ele deu o alarme:

-Jonhsin, o que é que eu faço?! Minha calça é de suspensório!”

Oiças e ventas

O despachante Beto Montenegro procurou o otorrinolaringologista Dr. Sabino, em Cajazeiras, queixando-se de mouquice:

-Doutor, peido com toda a altura do mundo e nada escuto -, reclamou.

Doutor Sabino passou um remédio e Beto foi embora. Voltou 15 dias depois, eufórico:

Doutor Sabino, a coisa melhorou muito. Posso dar até uma bufinha que o ruído chega fácil, fácil aos ouvidos. E deu uma para mostrar que estava falando a verdade.

Foi quando doutor Sabino, protegendo o nariz com um lenço perfumado, sugeriu:

-Agora nós temos que curar é a sua sinusite.

A testa

Pedro Baiacu, figura muito conhecida em Campina, dormia em sua casa quando o acordaram informando que um bandido havia atirado na sua filha caçula, acertando a “perseguida” da coitada.

Revoltado, no dia seguinte, ele desabafava no Calçadão:

-Campina está um caos.Imaginem vocês que atiraram na região pubiana da minha filha!

-Que diabo é região pubiana, seu Pedro? – indagou um ouvinte.

-É a testa da priquita, seu imbecil!

Estupro

Estupraram a filha do dono do circo que estava armado em Cajazeira e botaram a culpa num anão que lá morava. Anãozinho de nada, não batia na bolacha do joelho da moça, uma galega de 1.80 metros.

Levado para a Delegacia, o anão apanhou para confessar o crime. E só não morreu porque o deputado Bosco Barreto, advogado dos pobres e oprimidos, apareceu por lá e conseguiu soltá-lo.

Já na rua, Bosco e o anão pararam num bar para tomar uma. E enquanto bebiam, Bosco quis saber do anão a verdade verdadeira.

-O pior, doutor Bosco, é que fui eu mesmo -, confessou o anão. E diante do abestalhamento de Bosco, que não entendia como aquele pedaço de gente conseguiu alcançar a galegona, ele explicou:

-Encostei ela num canto de parede, joguei um balde na sua cabeça, me pendurei nas “azêias” e…”

O tiroteio

Quando o senador Humberto Lucena morreu, o radialista Maurício Alves foi escalado por Antonio Malvino, da Rádio Sanhauá de Bayeux, para transmitir o enterro.

Maurício cobriu o evento desde a saída do caixão do Palácio do Governo. E quando a comitiva chegou ao cemitério Senhor da Boa Sentença e foi parada para que os cadetes da Polícia Militar prestassem uma homenagem disparando salvas de tiros, Maurício deu o seu show de encerramento, avisando:

-Malvino, neste momento o corpo do senador Humberto Lucena está sendo recebido a bala no cemitério.”

O horário

Aloysio Pereira contratou um locutor de João Pessoa para falar na sua Rádio Princesa, com o fito de dar mais status à emissora. Ele e Orestes apresentavam o grande jornal, quando Diogo, o locutor importado, anunciou:

-Senhores ouvintes, é precisamente 12 horas.

Orestes, que engolira atravessado o locutor importado, valeu-se da escorregada dele para desmoralizá-lo em público:

-Caros ouvintes, queiram perdoar a mancada do colega. Quando ouvirem “é doze horas”, ouva-se “são meio-dia”.

A iluminação

A Rádio Tabajara da Paraíba enviou Ivan Bezerra e Eudes Toscano para cobrirem um jogo entre o Botafogo e o Esporte do Recife, no Estádio dos Aflitos.

Três horas da tarde, o sol claro e quente, a partida quase iniciando, os repórteres a postos, Eudes inicia a transmissão pedindo que Ivan dê suas primeiras opiniões sobre o jogo.

Ivan, que cochilava pelo olho de vidro, pega o microfone e começa:

-Como sempre, a iluminação dos Aflitos está péssima, não dando as mínimas condições para a realização da partida.

Eudes o interrompe no ar:

-Ivan, tu tas de óculos escuros!

Ivan tira os óculos e continua:

-Meus amigos, agora melhorou consideravelmente.

Aos peidos

Visitando correligionários na zona rural, Chico Bocão, vereador de Patos Espinharas, chegou à casa de um eleitor, sendo recebido por uma criança. Perguntou pelo pai, sendo informado que ele saíra a serviço. Indagou pela mãe e o menino disse que ela estava no banheiro.

-Intonce ela vai demorar -, afirmou Chico, já querendo ir embora, quando o menino o interrompeu para avisar:

-Que nada, seu vereador. Ela já saiu daqui da sala aos peidos” .

Presidente Kenga

O vereador Chico Bocão ia para a Câmara de Patos no seu jipe Willys e escutou no rádio o Repórter Esso informar, em edição extraordinária, que acabara de ser assassinado o Presidente Kennedy, da América do Norte.

Ao chegar na Câmara, dirigiu-se ao plenário, assumiu a tribuna e, com ares de intelectual, anunciou:

-Quero informá que mataro o Presidente Kenga, que morava pras bandas do Rio Grande do Norte”.

Água contaminada

Quando assumiu a Prefeitura de Juarez Távora, na década de 60, José Chaves arranjou um caminhão pipa para distribuir água com a população. A água servida, no entanto, era tão suja que parecia café.

Preocupado com aquilo, o médico da cidade o procurou para adverti-lo de que a água poderia contaminar o povo.

Resposta do prefeito:

-Ora, doutor, pobre só fica contaminado enquanto não urina”.

Fisiologismo

O prefeito Manoel Ilton,também conhecido por Manoel do Bar,fez uma festa no Lastro para receber o Projeto Cidadania, do governo do Estado.

Soltou foguetões e botou banda de música para recepcionar a comitiva, tendo o cuidado de convidar o locutor Chico de Joel, da Rádio Progresso de Sousa, para transmitir o evento.

Chico, ciente do seu dever radiofônico, trata logo de fazer uma entrevista com o prefeito, perguntando em que consistia o tal projeto. O prefeito, todo falante, ajeita a gravata e explica:

-O Projeto Cidadania, caro repórter, consiste no atendimento ao cidadão nas áreas de lazer, saúde, educação, esportes e alimentação, entre outras necessidades fisiológicas.

O suicida

Chico do Cigarro, figura bastante conhecida em Sousa, tentava pela quinta vez se eleger vereador, e resolveu apelar:

-Meus amigos, se desta vez eu não for eleito, serei capaz de dar um tiro no ouvido”.

A multidão, então, respondeu em coro:

-Já morreu! Já morreu!

Falante

Sebastião Marinho foi vereador em Bonito de Santa Fé. Homem de poucas letras, tratou de comprar um dicionário para aprender palavras difíceis que usava nos discursos, pouco preocupado com o significado delas.

Certa vez, durante comício que promovia em frente à Igreja, afirmou, emocionado:

-Benitensios! Quem vos fala é o vereador matuto e cínico. Falo para um eleitorado imbecil e asseguro que os homens do meu partido são todos degenerados. Sou grande no tamanho, porém não tenho dignidade moral.”

Os coxos

O ex-deputado Otacílio Queiroz foi fazer um comício em Cacimba de Areia e carregou consigo uma comitiva toda especial. A exemplo dele, que puxava de uma perna, levou a tira-colo “Ciço Coxo”, que também puxava da perna, Zé Biu, que para andar se valia de um par de muletas e Euclides Gouveia, com o braço engessado por causa de um acidente.

Quando desembarcaram em Cacimba de Areia e se dirigiam ao palanque, caminhando, foram parados por uma senhora que, alarmada e curiosa, interpelou o Doutor Otacílio:

-Meu senhor, onde se deu essa virada?”

Helmano e o din din

Helmano foi um dos repórteres mais contestadores do jornalismo paraibano na década de 80 . Foi trabalhar no jornal O Norte. Todo final de mês ia para a Maciel Pinheiro e pegava uma gonorréia. Aconselhado por Josinaldo Malaquias, procurou o Dr. Jacinto Medeiros. De início, teve que levar 40 massagens de próstata.

Reclamando da vida explicou:

– Eu tinha até vontade de dar o “butico”. Depois das “dedadas” de Dr. Jacinto, desisti. O pior é que depois de cada “ massagem” o cu ficava em brasa e eu tinha que me sentar numa bacia com água e gelo.

Ouvindo isso, Josinaldo aconselhou:

-Por que não enfias um din-din?”

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1 Comentário

  • Reply Airton Calado- Campina Grande 2 de janeiro de 2022 at 09:25

    Parabéns pela retrospectiva

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