EXPEDITA COR DE JAMBO
Expedita, cor de jambo, corpo de deusa, cabelos de índia, boca de pecado, peitos de artista de cinema, era cobiçada pelo mundo masculino, que só tinha o direito de ver com os olhos e lamber com a testa.
Seu dono e senhor era o fazendeiro de rosto vermelho e olhos azuis, dono de imenso rebanho bovino, das maiores fazendas da região,de quase todas as casas – inclusive a dela – do bairro do Cruzeiro e adjacências, falava-se até em baús entupidos de notas graúdas guardados a sete chaves na bela casa branca situada na subida para a Rua da Lapa.
Tinha boa vida, vestia-se com elegância, só usava do bom e do melhor, seus vestidos eram feitos sob medida, cobriam o corpo e mostravam os contornos – e que contornos! -, mas ali só o velho e rico senhor chegava, abraçava e amava.
A vizinhança tinha medo de se aproximar. Ainda estava recente a surra de cipó de boi ministrada no enxerido jogador de futebol que, se julgando bom de drible, tentou driblar a vigilância montada em torno de Expedita e provar da fruta.
Ela vivia assim, de beleza e de suspiros, debruçada na janela da vistosa casa, olhando o tempo passar.
Até que chegou na cidade o circo de Xexéu.
Todo mundo só falava do circo e do trapezista que voava de um lado a outro da lona sem cair do trapézio.
Dorinha dançava rumba, Xexéu fazia graça, Severino era o principal ator do drama “A Louca do Jardim”, mas o trapezista tirava o brilho de todos, enchia as vistas das moças.
Expedita foi ao circo, o Amo deixou.
Sorriu com as palhaçadas de Xexéu, aplaudiu a rumbeira, chorou com o sofrimento da “Louca do Jardim”, mas quando o trapezista se pendurou no trapézio, exibindo o peitoril vistoso, a cara de artista de cinema e as pernas volumosas, Expedita cegou.
Não tirou mais os olhos, não saiu mais de perto do circo e de tanto insistir, acabou se encontrando com o ídolo e futuro novo senhor.
O circo foi embora num meio de semana. Na véspera a casa do Cruzeiro ficou vazia. Expedita fugira com o trapezista.
O fazendeiro sofreu nos primeiros dias, mas logo arranjou uma substituta para a deusa de jambo.
E quando anos mais tarde o circo voltou, ele sentou na primeira fila para aplaudir Expedita voando no trapézio abraçada ao seu trapezista.
3 Comentários
Só essa estória de trancoso hoje, velho escriba ? Assim, tá ruim. É preguiça de escrever ou estás dodói ?
Tô arriado, suspeita de Covid. Quase não sai
Te cuida, Tião, pragente voltar a tomar uma na feira da Torre!