O CHUPÃO
Atribui-se a Litinha Bucho Furado a fofoca que tomou conta da cidade e escandalizou homens e mulheres.
Zé de Nena fora pego no local do crime, melhor dizendo, com a boca na botija, ou na xoxota, como queiram.
E a própria Litinha, alvo de tão prazeroso exercício sexual, correu a botar má fama no seu companheiro de cama.
– Zé de Nena foi pego chupando Litinha ! – era a notícia que se dava.
Provocando as reações mais deslavadas.
– Seboso! Na minha casa não bebe mais água -, dizia, com cara de nojo, o amigo Chico Penca.
-Como pode! -, respondia Dió, para quem certas partes do corpo humano não eram dignas de receber um beijo.
O certo é que o pobre do Zé de Nena passou a ser evitado, marginalizado, jogado fora pelos antigos amigos e pelos meros conhecidos.
Quando bebia água na casa de algum desavisado -e água não se negava a ninguém -, mal dava muito obrigado e virava as costas, o caneco de alumínio era amassado e jogado no lixo.
Primeiro dos três filhos de Né da Prensa, Zé era o único a não demonstrar pendão para a música.
Edinho tocava triangulo, Quinca, pandeiro e cantoria, mas dos três o único que pôs modernidade no ato sexual foi Zé, chupou buceta num tempo em que essa prática era condenada, considerada imundície, coisa do cão.
E pagou o preço.
As raparigas só iam com ele para experimentar a sensação de se verem bolinadas pela língua do enxerido, principalmente depois de Litinha contar que a chupada de Zé fora tão violenta que a sua xoxota ficara vermelha e os cabelos do cu bateram palmas.
As moças prendadas da cidade lhe negavam namoro, nos forrós, se alguém lhe concedia uma dança, passava o tempo todo de cara virada para não sentir o bafo e os bodegueiros exigiam que carregasse um copo de sua propriedade para beber cachaça sem contaminar os copos da freguesia.
Até que apareceu Doralice.
Moça corajosa, aceitou o namoro com Zé de Nena. E deu o sim para o casamento.
O que lhe valeu uma enxurrada de censuras.
Mas a todas elas respondia com um sorriso de felicidade.
– Doralice, minha filha, você vai casar com um chupão? -perguntou-lhe Cícera Gorda em tom de censura.
– Vou exatamente por isso. Mas pode tirar o cavalinho da chuva, a partir de agora ele só vai chupar a minha”.
EM CAMPOS DO JORDÃO
O amigo Herbert Fitipaldi esteve visitando Campos do Jordão ao lado da amada esposa. Guerreiro, homem trabalhador, amigo dileto, caráter retilíneo, gente que admiro e quero bem, foi desanuviar a vista para retornar com todo gás à labuta no Tribunal de Justiça.
CABEÇA DE BODE
A turma se reuniu no Mercado Central para beber cachaça e comer carne e cabeça de bode, como bem contou João Costa, um dos integrantes do grupo. Aí eu identifico, além de João, Chico Pinto, que não bebe e Otacílio Trajano, que bebe. Ainda vejo Antonio David e Hildeberto Barbosa.
Mas deixemos no ar a escrita de João: “No Mercado Central. Cabeça e carne de bode com cachaça. Mói de jornalistas bêbados, dois em abstinência total. Nada substitui o fuxico”.
Sem Comentários