A PASSEATA
Foto meramente ilustrativa
Tão logo foi proclamada a vitória de Antonio Nominando Diniz sobre Joaquim Mariano e Miguel Rodrigues, uma passeata gigantesca começou a se formar em frente à Casa Grande dos Diniz, na Praça José Nominando, para comemorar a vitória.
Chegava gente dos bairros e da zona rural. Os bares da Rua São Roque foram autorizados a fornecer bebida a granel a quem quisesse beber. E caminhões, jipes, rurais e ônibus transportavam eleitores dos lugares mais distantes para a festa da vitória.
O candidato vitorioso discursava em cima de um palanque improvisado anunciando tempos novos para a cidade de Princesa. E o povo aplaudia aquecido pelo álcool das prateleiras de Maria do Ó, de Pompilio Antas, de Arlindo Silva, de Mirabô Teodósio e de Toinho Fernandes.
A campanha fora difícil. Antonio Nominando abandonara a Assembléia Legislativa para reconquistar a Prefeitura, nas mãos dos Pereira fazia tempo. Ele sozinho enfrentando dois candidatos poderosos, Joaquim Mariano, ex-prefeito de Manaíra, homem rico e querido pelo povo de Princesa e Miguel Rodrigues, comerciante e, embora tímido, carregando nos ombros a responsabilidade de representar a família do coronel, já que era casado com uma prima dele.
Muitos não acreditavam na vitória de Nominando, tão difícil a campanha se apresentava. E com a abertura das urnas,a festa teria que ser a maior da história da cidade.
A passeata sairia da Praça José Nominando, circundaria o pátio da igreja, desceria até a metade da Rua Nova, entraria pelo beco de Severino Barbosa até alcançar a Rua do Cruzeiro e o Cabaré de Estrela, de lá voltando pelo mesmo caminho até chegar de volta à Rua Nova, quando então dobraria à direita para circundar a Praça Epitácio Pessoa, passando em frente ao Palacete dos Pereira.
Foi aí que a coisa esquentou. Os Pereira avisaram que na frente do sobrado ninguém passaria. E da ameaça a ação foi um pulo. Cinquenta homens fortemente armados foram colocados por detrás do muro do palacete com ordem para disparar na multidão, assim que ela passasse pela praça.
Um emissário foi enviado aos chefes da passeata, que a essa altura já retornavam do Cruzeiro para cumprir o resto do roteiro.
Não houve ponderação que desse jeito. A turba assanhada e encachaçada não abria mão de afrontar o lado adversário. Estava armado o confronto. Era questão de minutos para acontecer o banho de sangue.
Um capitão que o Comando da Polícia mandou a Princesa para dar mais segurança à eleição evitou a tragédia.
Assim que a passeata surgiu na esquina da padaria de Tião Basílio, à frente o candidato eleito e mais algumas figuras de proa da cidade, como o jovem médico Zezito Sérgio e o vice-prefeito Miron Maia, foi barrada pela Polícia, que enfileirada e apontando seus fuzis, interrompeu o tráfego a partir da esquina e até a praça. Houve bate-boca, mas a Polícia não arredou o pé de onde estava.
Alguém gritou: – Vamos invadir a cadeia!
E assim foi feito.
O capitão, com seus policiais, correu por um atalho e chegou na velha cadeia da Tenente Oliveira antes dos manifestantes. Que tentavam entrar na força e na marra, quase arrombando a porta da frente.
Foi ali que houve um diálogo entre o capitão e o médico.
Tentando acalmar os ânimos, o capitão chamou Doutor Zezito Sérgio de Zezito, e este, ofendido e exaltado, não o deixou prosseguir:
-Me respeite, sou titulado, me chame de doutor Zezito.
Nesse meio tempo, o velho líder Nominando Muniz Diniz, pai do prefeito, dirigiu-se às pressas ao telégrafo para denunciar “as arbitrariedades” do capitão ao governador do Estado.
O capitão deixou Princesa pela madrugada, os manifestantes, que ainda se recuperavam dos excessos da véspera, não o viram partir.
Antonio Nominando tomou posse dias depois.
E fez um bom governo.
A FEIJOADA
A primeira vez que compareci a um almoço de governador foi em 1977. Dona Mirtes, mulher de Ivan Bichara, ofereceu uma feijoada à imprensa e, paa a coisa acontecer em alto estilo, o local escolhido foi o Hotel Tambaú, o mais chique da cidade.
O Tambaú nunca deu sorte a governadores. Dois antes antes, um chefe de Estado ali fez uma farra e saiu de lá todo borrado. A fama da cagança ganhou mundos. E ganhou fundos também.
E não é que na feijoada de Dona Mirtes a coisa se repetiu!
Claro que não se repetiu com o governador, nem com a primeira dama, mas com a rapaziada da imprensa. Acostumados com a fava da 13 de Maio e a sopa rala do Viaduto, os coleguinhas entraram na feijoada da primeira dama com gosto de gás. Só Jackson Bandeira repetiu o prato cinco vezes.
E acompanhando a famosa feijoada, além das orelhas de porco, carne de charque gorda, tripa, bucho, carne de sol, carne de porco e paio, havia cerveja a rodo, uísque, cachaça e um tal de vinho chileno tinto que entrava fácil que só faca em melancia.
O evento aconteceu no final da manhã de um sábado. No domingo, o panavueiro cobriu. A caganeira atingiu desde o Funcionários II, onde eu morava, aos cajueiros do Bessa, esconderijo de Fernando, da Secom.
Na segunda-feira, poucos apareceram nas redações para trabalhar. E quem se aventurou a ir, mostrava um rosto de defunto azedo, a cara pálida, os olhos fundos e roxos.
1 Comentário
Essa feijoada foi a vingança da primeira-dama contra a imprensa.