Destaques

Domingueiras do Tião

10 de julho de 2022

OS DOIDOS DE PERDIÇÃO

E no reino moravam os doidos. Não tinham casa, mas tinham o mundo. O teto deles era o céu. De dia, com o sol a alumiar seus espaços. E de noite, com as estrelas a vigiar seus sonhos.

Cocó era o Rei da Preguiça. Chico Raposa não falava, se expressava pela dança. E Isaias do Cágado aboiava chamando de volta um amor de juventude que lhe derreteu o juízo.

Havia Mané Pitito com suas manias extravagantes. Passava o dia andando pelas bodegas e bibocas, pedindo uma cachaça a um, uma piola de cigarro a outro, e quando o sol se punha e a noite chegava, aprumava o passo na direção do cemitério onde dormia no caixão da caridade.

Bate Birro tinha fama de um passado soberbo, rico, mas na velhice vivia sozinha num barraco de taipa, pitando seu cachimbo de canudo de mamona e cozinhando a comida num fogão de pedras irregulares, usando como lenha borrachas de pneus.

A velha Muvara andava sem rumo, com uma toalha cobrindo seus ombros curvados e amparando o corpo num pedaço de pau.

Ela era mãe do doido  V, o famoso V que fraquejava do juízo no meio do ano, desembestava na doideira matando jumentos com facadas na barriga, até ser levado para a Colônia na Capital do Reino, onde ficava bom, voltava curado, até ficar doido outra vez.

Seu Musa teve um período de loucura na juventude. Descendente de escravos, musculoso, subiu certa vez pela estrutura que segurava um catavento enorme instalado na Lagoa da Perdição, agarrou-se com as hélices na ânsia da pará-las. Foi tirado de lá todo cortado e ensanguentado. Na velhice transformou-se num bom velhinho a sorrir para todos e a responder “sim sinhô” aos que o cumprimentavam.

Rasga Mortalha era malcriada, respondia com desaforos os chamados de “Rasga Mortalha” da meninada. Mais desaforada do que ela só Ana Pé de Banha, dona de um vozeirão que se fazia ouvir a quilômetros de distância. Bem diferente da doçura consentida de Arlinda, a doida mais caridosa do lugar, responsável pelo encaminhamento sexual de grande parte da juventude e do rejuvenescimento do desejo em idosos aposentados.

Maria Catabi morava onde deixavam, ora numa casa, ora num bueiro, não falava, não sorria, nunca se maldizia.

Mas se aos humildes faltava teto, aos doidos ricos nada faltava. Lagatão tinha casa de morada, casa de comércio e casas de aluguel. Nem sempre foi fraco do juízo. Ficou assim após uma decepção no amor.

Tozinho foi o único que perdeu o juízo por causas estranhas ao próprio juízo. Intelectual, poliglota, professor bem sucedido nos reinos do sul, foi confundido com subversivo pela Revolução, preso e torturado. Apanhou tanto que ficou ruim da cabeça. De volta ao reino, viveu o resto do seu tempo pescando piabas com uma garrafa nas águas do açude velho.

 

CHICO E NUNES

Chico Pinto já foi repórter do batente, depois virou advogado, depois se aposentou, depois voltou à ativa como comerciante e agora, aos 70, retorna aos poucos à lide literária. Zé Nunes veio depois, mas ao contrário de Pinto e do autor destas linhas, enveredou pela literatura e fez dela profissão. Hoje integra os quadros do IHGP e está lutando para ocupar a cadeira que foi de Sitônio Pinto na Academia Paraibana de Letras.

Os dois se encontraram na Livraria do Luiz sábado último e reviveram os bons tempos de A União, a velha União de tantas lembranças doces.

 

NOVA LIVRARIA

Foi com muita festa e com o lançamento do livro da amiga Aracilba Rocha, que foi aberta a nova livraria do Luiz no Mag Shoping de Manaíra.

Mas não pensem que a velha e tradicional Livraria da Galeria Augusto dos Anjos vai fechar. As duas funcionarão ao mesmo tempo, para deleite dos seus frequentadores.

Vejam as imagens da festa, pelas lentes do mágico Antonio David.

 

COM O PAPA

O jovem presidente da Associação dos Procuradores do Estado da Paraíba, Procurador Flávio Lacerda, foi recebido pelo Papa Francisco.Ele e a esposa Cecília Vitorino. O encontro se deu no Vaticano e Flávio, que é católico praticante juntamente com a esposa, disse que sentiu uma sensação diferente ao receber a benção do Sumo Pontífice.

 

Você pode gostar também

2 Comentários

  • Reply Wergniaud Antonio Breckenfeld Alexandre 10 de julho de 2022 at 06:51

    “E no reino moravam os doidos. Não tinham casa, mas tinham o mundo. O teto deles era o céu. De dia, com o sol a alumiar seus espaços. E de noite, com as estrelas a vigiar seus sonhos.”

    Quem faz abertura de uma crônica com um texto desta qualidade, além de escritor, possui a sensibilidade de um grande Poeta.
    Parabéns ao bardo!

  • Reply Zé Bedeu 10 de julho de 2022 at 09:35

    Gostei dos doidos de perdição.

  • Deixar uma resposta

    Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.