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Domingueiras do Tião

24 de julho de 2022

NOS TEMPOS DE MENINO

Meus amigos de infância se chamavam Dionísio de Vitalina, Mundinho de Rosa, Wilson e Antônio Buchinho, Mário Simplício, Mitonho de Mourão, João e Zé de Lúcio,Tonheca e Chico de Ana, João de Cacilda, Linha de Cabo Amaro, Ernani de Ulissses, Zé Lambreta, Teté Passarinho e Zé de Biu.

Éramos pobres, morávamos no Bairro do Cancão, o mais pobre da cidade, nossas casas não possuíam banheiros, jogávamos o barro na Pedra do Urubu, protegidos da rua por imensa cerca de aveloz. E os banhos eram de cuia.

As brincadeiras eram singelas, os brinquedos  também. Nossos carros eram de latas, nossos bois eram os ossos que sobravam dos bois de verdade e nos dias de chuva, construíamos açudes no meio da rua com o barro molhado transformado em paredões que pouco duravam, levados que eram pelas águas rebeldes da invernada.

Quando não chovia, nos aventurávamos pelas veredas do Açude Velho para os mergulhos na Pedra Grande, no Banheiro dos Homens e na prainha da Barragem.

Nossas mães brigavam, não queriam que nos arriscássemos nos mergulhos daquelas águas profundas. Por isso a tentativa de esconder os banhos nos lambuzando na terra poeirenta. Tentativas inúteis, pois sempre sobravam os olhos vermelhos a denunciarem a traquinagem.

Nos dias de festa ficávamos a deliciar as vistas com as rodas de fogo de Pedro Fogueteiro e chegávamos ao delírio quando o boneco do Judas era estraçalhado pelas bombas acionadas por Pedro e os confeitos eram espalhados pelo chão.

O Cancão era nosso reino, o Açude Velho nosso esconderijo, a chuva, nossa folia e as festas a parte mais alegre.

Não tínhamos ambições maiores, nosso reino era aquele, aquela rua de piso de barro, de ladeiras, de gente humilde e alegre.

Sequer sonhávamos que um dia tudo acabaria, que um dia os meninos se fariam gente grande e partiriam para outras aventuras, enfim, que a rua deixaria de ser rua e se transformaria em praça e que o Açude Velho de nossos banhos e aventuras seria transformado, pelas mãos do homem, na latrina da cidade.

Mas isso é outra história para eu contar depois.

 

CUSCUZ EM DONA FRANCISCA

Fui com meu irmão Bibiu comer cuscuz com bode em Dona Francisca, nas Mangabeiras.

Cuscuz quentinho, bode fumaçando de quente, gosto de quero mais.

Cheiro de nossa terra, comida feita com amor, tempero caseiro, sabor lá de nóis.

 

 

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