O TELEX
Quem vê os milagres do computador e da internet, nos dias de hoje, mal lembra dos tempos em que se fazia um texto batendo na tecla queixo duro da Oliveti manual, errando e sendo obrigado a apagar tudo com borracha ou botando um monte de x em cima. Não lembra nem mesmo do finado telex, que quando chegou foi saudado como milagre do avanço tecnológico, e hoje é peça de museu. De fato, o telex era o fino da moda na década de 70. Mandava textos para Oropa, França e Bahia e ainda recebia os textos de lá, sozinho, sem carecer ninguém mexer nos seus botões. Quando instalaram o primeiro telex na agência do Banco do Brasil de Cajazeiras, o vigilante Antonio de Nezinho, que dormia dentro do banco, acordou com a zoada da máquina fazendo aquele matraquear infernal. Espantado, ajeitou as calças e correu feito doido, esquecendo o revólver, o quepe e a garrafa de café que sempre levava para espantar o sono. Pulou o muro, debandou para os lados do cabaré de Lilia e somente no outro dia, com o sol bem alto, apareceu perante o tesoureiro, Seu Santino, para pedir as contas. Seu Santino ainda ponderou, pedindo para ele ficar. Mas Antonio de Nezinho, irredutível, fincou pé na demissão: -Fico não, Seu Santino, que já morreu muitos funcionários aqui dentro e agora as máquinas deram para bater sozinhas, de noite. Eu sou vigia de gente viva.Num ganho para tocaiar alma. |
A CARTA
vejam a carta que Antonio de Júlia enviou para Júlia, sua mãe, morto de saudades:
“Mãe:
Tou mandando duas carta. Uma dentro da outra, porque se uma num chegá a outra chega.
Peço que a sinhora num arrepare o pá de sapato. Num achei o número quarenta. Mas tou mandando dois de vinte, qui somando dá a merma coisa. Tou mandando também dois vistido. Um pra a sinhora metê em casa e outro pra metê na rua.
Sim, mãe, mande me dizê se o cavalo do meu primo já cubriu a égua da minha irmã. E também se a besta da minha avó já emprenhou.
Olhe, mãe, se o cabaço de Maria já tivé no ponto, mande o meu primo fazê dele duas cuia, ante que ele engi. Tem mais, se a sinhora tivé apertada, se afroxe com o burro que deixei aí.
Segue dinhêro pra a sinhora limpá o rego da frente e deixe que o de trás eu limpo quando chega aí. Tou mandando mais quinhentos real pra a sinhora metê dento da mala. Alevante bem a roupa e soque no fundo.
Se a sinhora tivé cum necessidade, vá se virando com a mandioca de meu tio, inquanto a minha ingrossa.
Avise a minha noiva que eu só vou lá quando a coisa tivé bem dura aqui.
Segue quatrocento real e mais cem pra a sinhora se virá poraí. Não mando quinhento porque agora mermo num posso.
Mãe, num se esqueça de metê joäo na iscola. E deixe Maria que eu meto quando chegá.
Mãe, os Passarim aqui tá morrendo tudo. Faz pena. O priquito da vizinha cumeu arguma coisa qui fez má, e está inchado. Até a minha rola hoje amanheceu bamba.
Mãe, diga a seu João da venda que eu não mandei o dinhêro dele, porque quando me alembrei já tinha fechado a carta.
Por hoje é só.
Do filho que há três dia ta de Madêra pra cima.”
NIVER DE DEIJACI
O confrade e amigo Deijaci Araújo comemorou, ao lado dos filhos, mais um aniversário.
Gente boa, gente fina, sertanejo do Vale do Piancó, conterrâneo de Mané Raposo, Deijaci parece ter bebido água na fonte da juventude, pois o tempo passa pra todo mundo e pra ele só faz retroceder.
Que tenha muitos anos pela frente.
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