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Domingueiras do Tião

6 de novembro de 2022

AS MORTES

A paz do lugar de vez em quando era quebrada pelo pipocar dos tiros ou pelos gritos de dor dos que morriam de facada.

Ainda era alvo de comentários nas ruas e nos bares, nas reuniões sociais e nos intervalos da missa a tragédia, seguida de vingança, que banhou a cidade de sangue.

Num dia de feira, com a cidade de Perdição tomada de gente, João  saiu de casa com pensamento ruim. Botou o revólver na cintura disposto a tirar a limpo o que lhe dissera Chico do Cigarro, com o devido aprovo de Rafael Zoin, sobre o procedimento da sua mulher durante suas ausências prolongadas.

No começo não quis acreditar. Glória era um anjo de candura, mulher decente, sua primeira e única namorada. Mas Rafael e Chico juravam que era verdade: ela, mal ele dobrava a esquina do vapor dirigindo seu caminhão Chevrolet 66 com carga para Rio Branco, abria a porta para Tonho Risadinha entrar sem hora para sair.

Foi uma semana de fuxicos, de disse-me-disse, de noites indormidas.

A perturbação era tanta que ele passou a ouvir cochichos pelas esquinas, gente apontando o corno à cada passagem sua, uma verdadeira loucura.

Não nascera para ser corno. Não admitia. Mas não tinha coragem para abordar o assunto com a mulher.  Havia dentro dele a dúvida. Será? Não será? Que diabos!

O melhor era pegar Tonho Risadinha e com ele esclarecer tudo.

Naquele sábado, com o revólver nos quartos, adentrou no Bar Primeira Lapada, àquela altura cheio de gente bebendo em pé por falta de mesas, todas ocupadas.

Encostou-se no balcão, pediu uma bicada, engoliu e pediu outra.

As orelhas queimavam, as tripas roncavam ao contato com a cachaça, o álcool subia-lhe à cabeça, a fronte latejava.

Não ouvia o palavreado dos bêbados ao seu redor. Só o martelar da informação levada por Rafael Zoin e Chico do Cigarro: “Sua mulher está recebendo homem em casa quando você viaja. Tonho Risadinha entra por trás sem hora para sair”.

**

Tonho não levou em conta o sonho da mãe. “Não saia de casa, tive um sonho ruim”, advertira a velha. “Besteira, mãe, se seus sonhos valessem alguma coisa a senhora tinha acertado no bicho”, desdenhou.

Moço formoso, cortejado pelas mulheres do lugar, Tonho se achava o próprio artista dos filmes que passavam no cinema de Zé Gojoba. Alto, branco, cabelos encaracolados, olhos miúdos, boca pequena, olhava a todos com o mesmo sorriso maroto de quem se achava acima do bem e do mal.

Não tinha medo, isso era uma característica sua. Não temia nada, nem ninguém. E andava armado. Um revólver branco, niquelado, presente do irmão mais velho, do qual não se apartava nem para dormir.

Bebeu o café de uma só golada e saiu à rua, em meio à feira.

Conversou com Chibata, o motorista do Véi Isidro, perguntou o preço do fumo a Antônio Tranca Rua, assobiou para os requebros de Maria, a popozuda da zona e, não tendo mais o que fazer ali, dirigiu-se ao Bar Primeira Lapada para observar a movimentação etílica dos matutos.

**

João tinha um pai cuidadoso. Já velhinho, o pai de João gostava de estar perto do filho. Para aconselhar, ouvir suas aventuras pelas estradas do mundo, saber das novidades, contar das suas dores reumáticas.

O velho soube da presença do filho no bar e foi ao seu encontro no exato momento em que João e Tonho iam às armas. O primeiro a disparar foi João . Atirou no exato momento em que a mãe de Tonho se jogou na frente da bala, recebendo o balaço no peito.

Vendo a mãe caindo ensanguentada, Tonho atirou em João e desta vez foi o pai a interceptar o projétil. Já caiu morto. João atirou de novo e desta vez acertou no coração de Tonho.

Vendo a desgraceira, João correu pelo beco da feira e se atirou sobre a cerca de pedras de Ontoim Lambu no exato momento em que Beralquino, chegado ao local alertado pelos disparos e empunhando um rifle papo amarelo, atirou de longe, mirando nas costas do fugitivo. Foi um tiro e uma queda.

E a feira de Perdição terminava naquele sábado com um saldo de quatro mortos, dois fofoqueiros e uma adúltera. (Do meu novo livro, ainda sem data para publicar e sem eu saber ainda se vou publicá-lo, “Perdição”.)

 

NIVER DE FELIPE

Esta semana Felipe Marques de Lucena, meu filho e de dona Cacilda, comemorou mais um aniversário. Meu garoto chegou aos 41 anos e eu fiquei imaginando como o tempo correu. Aquele menino travesso, pequenino e magro, que adorava uma briga, que subia nos muros e gostava de correr livre pelos caminhos do velho Funcionários II, hoje é um senhor de 41 anos, pai de dois lindos filhos, de profissão definida e cheio de responsabilidade. Que Deus o proteja sempre.

 

NIVER DE ISRAEL

Israel é meu sobrinho, filho do mano Edmilson e de sua Nélia. Nasceu um dia antes de Felipe. Tipo, chego primeiro, sondo o ambiente e te aviso. Menino de ouro, sobrinho amado, grande profissional da contabilidade, gente finíssima.

 

NIVER DE FERNANDA

O meu confrade Marcos Maivado Marinho deixou a “maivadeza” de lado e, coberto de ternura, festejou o aniversário de Fernanda, sua neta número quatro. Foi um domingo de muito mé, de muito bolo e de muitos parabéns pra você.

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1 Comentário

  • Reply Zé Bedeu 6 de novembro de 2022 at 09:06

    Tião, me tire uma dúvida por gentileza. Se o camarada for eleito Presidente três vezes ele tem direito a pedir a música no Fantástico? Abraço meu nobre, luta continua!

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