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Domingueiras do Tião

18 de dezembro de 2022

ZÉ MAGAREFE

Rosa rezara aos pés da santa, Nossa Senhora do Bom Conselho, pedindo graças para o filho de cinco anos. Não pedia nada para ela, perdera o gosto, a vaidade. Viúva de luto fechado, não desejava outra coisa na vida que não fosse ver o filho crescer e se manter por conta própria.

Naquele dia esquecera a hora de voltar e, quando deu fé, o sol já se punha no Alto dos Bezerra.

Pegou na mão de Mundinho e seguiu para o Sítio Várzea, onde morava com ele na casinha por trás dos montes, pequena, sem luz elétrica, de um cômodo só, herança única do falecido.

Na parede do Açude Velho Zé Magarefe, vizinho de sítio, espreitava.

Vigiava a viúva fazia tempo, desejava um chamego que sempre lhe era negado.

Naquela boca de noite aconteceu.

Investiu sobre a mulher, ignorou a criança, serviu-se dela e, para eliminar testemunhas, matou-a com cinco facadas.

Mundinho viu tudo, jogado num canto da estrada.

Zé, terminado o serviço, foi embora.

Rosa ficou estendida na estrada, furada de faca, se esvaindo.

Parentes tardios surgiram para chorar a morta e cuidar da criança.

Um tio de São Paulo levou Mundinho para morar com ele.

**

O sítio não mudara muito nesses 17 anos, constatava Mundinho. As mesmas casas conjugadas, a bodega de Pedro Crente, a capelinha, o curral com sua porteira de madeira grossa. Havia de novo um restaurante a receber os lordes da cidade, que ali apareciam para experimentar o bode com cuscuz de Dona Quitéria.

A casinha da mãe fora demolida. Não sobrou nada, nem o alicerce.

E a casa de Zé Magarefe continuava no mesmo endereço.

**

Era hora do descanso pós almoço.

Zé comeu bem. Encheu o bucho, bebeu dois canecos d`água, acendeu o cigarro de fumo e deitou na rede armada na sala para o deforete.

Estava ali espiando a cumeeira da casa enquanto as galinhas ciscavam no terreiro e o galo tarado as perseguia atrás de fazer ovo.

Mundinho espiou por debaixo da porta, viu a rede, o corpo dentro dela e apontou o 38, de onde saíram seis bocas de fogo. Seis tiros foram disparados, quebrando o silêncio da tarde. Seis buracos se abriram na rede, por onde o sangue jorrou. (Do livro “PERDIÇÃO” ,que escrevi mas ainda não sei se vou publicar).

 

NIVER DE SAMUEL

E de repente o menino se fez homem, embora continue sendo menino para este avô coruja, que o enche de beijos e abraços à cada encontro.

Samuel de Lucena Ramalho, filho da minha Niâni com o seu Amilka, sempre foi o xodó da família exatamente por ter sido o primeiro e único neto homem. Hoje não é mais o único porque chegou Pedro Felipe, de Felipe. Mas essa falta de exclusividade não diminuiu o xodó, o respeito e o amor.

Hoje é o seu aniversário e quero aqui expressar a alegria de poder testemunhar sua vida, seu crescimento, a mudança da voz, o homem que está surgindo.

E tenho absoluta confiança na bondade de Deus em me permitir participar de novos aniversários e, quem sabe, de poder abraçar e botar nos braços os que virão por ele e se tornarão meus bisnetos.

Feliz aniversário, Samuca. Daqui a pouco vou vê-lo para lhe cobrir de beijos.

 

NIVER DE MAYARA

Mayara é minha sobrinha, filha do mano Edmilson e de sua Nélia. Embora eu teime em achá-la a eterna menina peralta, anuncio orgulhosamente que ela se tornou uma excelente profissional da advocacia. Advogada daquelas que brigam pelo constituinte e não tem medo de brigar, é, depois da toga, uma doce menina, excelente filha, amorosa sobrinha.

Para ela, que aniversariou na semana, o meu beijo de tio.

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