A FESTA
Não fui ver a festa, fiquei em casa. E sei que ninguém notou minha ausência.Sou consciente da minha pequenez e desimportância. Mas não fui para não ver a população espremida num espaço apertado, distante dos privilegiados que pagaram fortunas por camarotes luxuosos, banheiros perfumados e cozinha de primeira.
Meu amigo Maguila foi e descreveu o sofrimento que passou para ver o cantor de sua predileção. Viu de longe, lá distante. De nítido somente o som que chegava aos seus ouvidos. E para descansar as pernas já usadas pelos anos, escorou-se numa estaca, onde ficou, ora descansando a perna direita, ora a esquerda.
Uma parente sua que usou o banheiro químico contou que só não afundou no mijo que inundava o piso porque calçava botas de canos longos, muito em moda no brejo por causa do frio e por serem elegantes, combinando com saias de couro brilhantes, blusas do mesmo estilo e chapéus a la Chororó.
O São João virou negócio, não é mais aquela festa que cheirava a comida de milho e era regada a forró pé de serra. Transformou-se em espetáculo para quem tem como pagar e se esbaldar. Ao povo restou o humilhante curral, cada vez mais apertado e com prazo de validade findando.
VENÂNCIO E HIGINO
Recebi a grata visita do amigo e colega Venâncio Medeiros, que se fazia acompanhar do não menos querido Higino Dantas. Eles caminhavam pelas brenhas da Chã do Lindolfo e passaram aqui no meu escondidinho para dois dedos de prosa.
O CHAPÉU DE CHICO
Chico Ferreira, o advogado que me salva das arriscadas emboscadas da vida, encontrou Chico Pinto, o meu amigo de 40 anos. E aproveitou para ser fotografado com o chapéu de Pinto na cabeça, com jeito de magnata e ares de barão. Pinto, para quem não sabe, é o maior colecionador de chapéus de João Pessoa. Pegou essa mania depois que ficou careca.
SEM SOLTAR A RAINHA
Eu não vi, quem viu foi minha filha. Na subida da ladeira depois da igreja de Bananeiras um mototaxista transportava um passageiro que, por seu turno, transportava uma garrafa de rainha numa das mãos. Depararam-se com um caminhão fechando a ladeira e o mototaxista, para não bater no caminhão, deu um ré brusco até bater, de bunda, num poste. A moto se desequilibrou, o passageiro também, mas caiu com o braço pra cima segurando a garrafa de rainha. Pode até ter se machucado, mas o divino líquido foi salvo sem qualquer arranhão.
1 Comentário
Ontem tomei uma rainha, foi muito mel.