Domingueiras do Tião

O OLHAR DE JOSÉ AMÉRICO

O ministro José Américo de Almeida era baixinho e míope. Usava óculos fundo de garrafa, enxergava pouco e falava trincando os dentes. Mas se impunha só pelo olhar. Gonzaga Rodrigues conta numa de suas crônicas que, recolhido ao seu retiro em Tambaú, já velho e aposentado, o ministro foi convidado para uma solenidade no Palácio da Redenção, e, quando entrava na bela construção que tão bem conhecia já que fora governador, o guarda, que não sabia de quem se tratava, tentou barrar seu acesso. O ministro o olhou com aquele olhar de autoridade. Não disse uma palavra, bastou o olhar e o guarda, intimidado, pediu desculpas e tirou o braço do meio.

José Américo, a quem tive acesso só uma vez durante uma visita do então presidente da Assembleia Legislativa, Evaldo Gonçalves, ao seu reduto oceânico, era simples. O monstro sagrado gostava de deitar numa rede. Foi lá que ele nos recebeu. E ao saber de onde eu vinha, falou-me do coronel José Pereira Lima com uma simpatia que eu não imaginava existir.

Sem ver direito e sem poder escrever, ditava seus livros para Lourdinha Luna datilografar. Dizia: “Bote aí”!, e dali saiam as frases e parágrafos que se transformaram em obras imortais como Reflexões de uma cabra, 1922; A Paraíba e seus problemas, 1923;A bagaceira, 1928;O boqueirão, 1935;Coiteiros, 1935;Ocasos de sangue, 1954;Discursos de seu tempo, 1964;A palavra e o tempo, 1965;O ano do nego, 1968;Eu e eles, 1970;Quarto minguante, 1975;Antes que me esqueça, 1976 e Sem me rir, sem chorar, 1984.

Mas eu falava de como ele impunha sua autoridade só com o gesto de olhar. E concluo que isso faltou ao ministro Alexandre Morais no Aeroporto de Roma. Ele não se impôs e terminou agredido.

 

MEU NOVO LIVRO

Chama-se “Perdição” o meu novo livro, que deve chegar às minhas mãos até quinta-feira. Editado pela Bagaço do Recife, o livro reúne pequenas histórias, umas tristes, outras engraçadas, vividas numa cidade fictícia ( mas não tão fictícia assim) chamada Perdição, localizada num vale cercado de serras altas e verdes. O prefácio é do crítico literário Hildeberto Barbosa e as “urêias” do escritor e conterrâneo Aldo Lopes de Araújo.

 

SOUSA LINDA

Por muitos anos trabalhei na cidade de Sousa, nela fiz amizades eternas e de lá trouxe saudades que não morrem. Esta semana os sousenses comemoraram mais um aniversário de emancipação política e eu aproveito para saudar os filhos da terra que considero apaixonados pelo torrão natal: Zé Alan Abrantes, Raimundo de Doca, João Marcelino, Gabriel do Troodon, Inaldo Leitão,Chico Pinto, Johnson Abrantes, Ademar Nonato e Maria Lucena Lopes.