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Domingueiras do Tião

19 de novembro de 2023

O PODER DE UM BOM BENDITO

Disse-me um ministro evangélico que o caso do pastor preso no Róger não se assemelha ao do padre preso em cela especial. O do Róger, segundo o ministro, pegou o dinheiro dos fiéis para investir na construção da igreja. Como, no final, não repôs o que foi tirado, pagou com a liberdade. Ao padre coube a acusação de se apropriar do que não era dele para dele fazer uso em proveito próprio e, dizem, de alguns afortunados.

Mas  eu quero falar sobre as orações do pastor no presídio. Diz o seu advogado que ele está obrando milagres. Já curou dez presos, outros estão na fila e converteu outro tanto com suas pregações.

Pregar e cantar hinos é salutar e dá resultados.

Conhecido sacristão do sertão candidatou-se a vereador e nas procissões entoava “o caminho do céu, foi jesus quem fez e para vereador vote no trezentos e três”. Foi eleito em primeiro lugar.

E o caso de Maria!

Toda vez que Zezé saia a caçar, Maria botava um couro de bode na janela para avisar a Geraldo que o caminho estava livre. Um dia Zezé voltou mais cedo, Maria não teve como tirar o couro do “quadro de avisos” e Geraldo encostou. Não encontrando a janela sem o ferrolho, forçou a abertura e Zezé, alertado, engatilhou a espingarda disposto a enfrentar o ladrão. Foi então que Maria, altamente religiosa, disse ao marido que se tratava de uma alma penada, que iria embora se ela entoasse a cantiga de expulsar assombrações.

E cantou:

Ó alma  que está penando

Vai pro reino da gulóra

Meu marido tá em casa

Me alembrei do couro agora.

 

A BAGACEIRA

Acho que já contei essa aqui, mas se contei, conto de novo.

Renato Carrôla juntou os panos de bunda em Sousa, pegou o primeiro ônibus que passou na rodoviária e viajou para João Pessoa. Tinha assuntos a resolver no Banco do Brasil, referentes a um empréstimo agrícola em dias de vencer e que, se não pagasse, o Banco lhe tomaria os oito hectares de terra que possuía às margens do Açude de São Gonçalo.

Viagem longa, de muitos buracos e curvas perigosas. A Capital só apareceu aos olhos de Renato quando a noite densa cobrira os céus do litoral. Aquele mundão de luzes acesas deslumbrou os olhos do visitante, que nunca tinha arredado os pés do sertão. Desceu na rodoviária e ficou impressionado com o amontoado de carros indo e vindo, vindo e indo, ônibus, trens, motos, uma misturada impressionante.

Entrou no primeiro taxi que parou na sua frente, alojou-se no banco do passageiro e ordenou:

-Me leve na casa de Johnsim!

-Quem diabo é Johnsim? -, perguntou o taxista. E Carrôla:

-Mas taí, num sabe quem é Johnsim? Pense num motorista atrasado!

Falava do acadêmico de Direito Johnsom Abrantes, muito conhecido nos longes de Sousa e do Lastro, mas uma figura ainda virgem em termos de notoriedade na Capital do Estado.

O certo é que, de muito perguntar, terminaram, ele e o motorista, chegando à república onde Johnsom morava com os irmãos no Bairro da Torre, nas proximidades da Malandros do Morro, onde Carrôla instalou seu pavilhão e fez pouso, atraído pelos requebros das sambistas e das piniqueiras faceiras que davam o seu em troca de um olhar.

Johnsom escalou o irmão Bessanger para ciceronear Carrôla na Capital. A primeira visita foi ao Banco do Brasil. Carrôla entrou na agência da 1817 e foi logo perguntando pelo gerente. O guarda ensinou:

-Moço, pra falar com o gerente o senhor tem chamar o elevador”. Carrôla obedeceu:

-Alô, seu elevador!”. Foi de novo advertido pelo guarda:

-Chame pelo botão!”

Carrôla segurou o botão da camisa e, levando até a boca, gritou bem alto:

-Alô, elevador!

Bessanger acabou com o suplício do conterrâneo, apertou o botão, o elevador chegou, ambos entraram, Carrôla ao chegar no quinto andar puxou a carteira e perguntou “quanto foi a corrida?” e ao ser informado que não era nada, festejou: “Eita, desse jeito é bom demais. Me espere aí, viu, que quando eu voltar quero que o senhor me deixe na rodoviária”.

Era Festa das Neves, a padroeira de João Pessoa. Carrôla, festejando o bom final do seu problema com o Banco do Brasil, foi com Bessanger tomar umas na Bagaceira. A farra durou até de madrugada e terminou num estranhamento entre o bravo sertanejo e uma quenga da Maciel Pinheiro, que depois de beber, comer e encher o bucho, não quis lhe dar de graça. O bate-boca foi grande, chamaram a polícia, a polícia chegou, Renato Carrôla se atracou com um cabo velho e os dois rolaram em cima do mijo, mesas e cadeiras voaram pra todo lado, até que, dominado, o bagunceiro ia ser levado pra cadeia, quando apareceu o deputado Bosco Barreto e mandou soltar o conterrâneo. Sentindo-se o próprio, Carrôla dirigiu-se ao soldado mais valente e ordenou:

-Me dê seu nome pra eu mandar Johnson tirar sua farda.

Pronto, recomeçou tudo de novo. “Teje preso!”, gritou o soldado. Bessanger Abrantes se meteu no meio: -Se ele for, eu vou também”. Foram os dois. Dormiram na cela e no outro dia, como castigo, foram obrigados a limpar os banheiros e varrer a calçada da Central de Polícia

 

MAIVADO E JOÃO PINTO

Marcos Maivado Marinho, de quem sou fã, passou a tarde desfrutando a hospitalidade do CT de Serra Branca ao lado do presidente da Associação Campinense de Imprensa, o eterno João Pinto.

O que conversaram não foi divulgado.

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1 Comentário

  • Reply Edmundo dos Santos Costa 19 de novembro de 2023 at 08:41

    JÁ ESTOU COM OS OVOS INCHADOS DE TANTO OUVIR CABRAS SAFADOS, LÍDERES RELIGIOSOS DE TODAS AS MARCAS E PATENTES, REPETIREM, INCANÇAVELMENTE OS NOMES DE CRISTO E DE DEUS, SEMPRE QUE ABREM SUAS BOCARRAS, PORTAS DE TÚMULOS CAIADOS, COM A MERA FINALIDADE DE ENGANAR GENTE BESTA E GENTE QUE, SE FAZENDO DE BESTA, TAMBÉM TIRA PROVEITO DA SITUAÇÃO DECORRENTE DA IGNORÂNCIA DE MULTIDÕES – É O FAMOSO USAR O SANTO NOME EM VÃO – QUEM FOR OTÁRIO QUE SE ESFORCE E META A MÃO NO BOLSO PARA SUSTENTAR VAGABUNDOS E FALSIFICADORES DOS ENSINAMENTOS DO CRISTO.

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