MEU TEMPO 1
Meu pai era homem de poucas letras e muita sabedoria. Talvez, por isso, tenha exigido o máximo de todos os filhos. Não os queria fora da escola.
Dos 9 que criou, não se formou quem não quis. Por ele todos teriam cursado uma universidade. Quando se referia a mim dizia que eu seria “o bacharé de Migué”.
Quando fui reprovado na segunda série do Gama e Melo pela professora Clemens Maia (a culpa foi toda minha), não levei uma surra porque me escondi. E, de volta, aprendi a nunca mais ser reprovado.
Papai era um homem sem defeitos, pelo menos na minha ótica. Humilde, independente, solidário, amoroso, vigoroso, valente quando era preciso ser, ele reunia todas as qualidades de herói que um pai precisa ter.
Na minha visão de filho apaixonado, ele jamais fraquejaria. Venceria tempestades, ultrapassaria barreiras, seria eterno.
Talvez, por isso, tenha sentido um baque enorme quando o vi estático no caixão do adeus.
Achava que ele jamais morreria.
E o choque foi tão grande que adoeci da sua doença e quase fui junto.
Quando ouvia Aloysio Pereira, quase aos 90 anos, falar do seu pai chamando-o de papai e reverenciando sua memória, dizia para mim: “somos iguais em matéria de amor paterno”. E éramos. Hoje Aloysio está junto ao seu Zé Pereira. Eu fiquei por enquanto esquentando o lugar e aguardando a minha vez.
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Grande Tião