VENEZA
A iniciação sexual dos rapazes começava cedo. Nos aceiros dos açudes, olhando o espetáculo das mocinhas em flor se banhando nas águas da Pichilinga, eles faziam a festa. Se esgueiravam pelas copas dos matos a procura do melhor ângulo, da melhor visão daquele mundo proibido, e o céu descia até eles em forma de prazer.
Quando não era assim, apelava-se para a colaboração das bezerras de Miron Maia, das jumentas de Zé Vermelho e, claro, da famosa burra de Seu Marçal, a inesquecível e disputadíssima Veneza.
Veneza era cobiçada por homens e meninos. Vivia solta no matagal do Açude Velho, seu pelo vermelho brilhava mais do que a água do açude e seu silêncio cumplice era uma garantia para os amantes fugazes de que suas escapulidas jamais seriam denunciadas.
Até homens bem-casados trocavam suas mulheres por um abraço de Veneza.
A burra de Seu Marçal era uma unanimidade. Merecia uma estátua, se não isso, ao menos um nome de rua ou, quem sabe, uma praça, a Praça de Veneza da Pichilinga.
Os rapazes não tinham a facilidade dos tempos modernos. Quem tinha dinheiro corria ao cabaré, quem não tinha morria na mão ou na garupa de Veneza.
Ou então se socorria com Arlinda, tida como doida mas uma verdadeira amada amante de muitos, dezenas, quem sabe centenas de imberbes e taludos.
Ela dizia que fez caridade até ao prefeito, mas o povo não acreditava nisso, achava que contava vantagem para se promover.
E o grande T… completava o time do prazer. Sobre ele eu conto um acontecido. Mantinha em seu ateliê uma coleção de gibis com histórias de casais fazendo sexo. Dava aos visitantes um desses e quando o desacostumado via aquilo, claro que ficava excitado. Aí T… entrava em cena: “Venha pra cá que lhe alivio”.
Certa vez me deu um desses gibis, eu li de trás pra frente, de frente pra tras, do meio pro fim e pro começo, até que, desinteressado, joguei a revista em cima da mesa e fui embora.
Dia seguinte um colega de Ginásio passava em frente ao ateliê e T… debruçado na janela, o chamou para revelar um segredo:
– Eu acho que aquele Tuta de Miguel Fotógrafo é fresco.
2 Comentários
Tião, você chegou a ter um romance com Veneza?
Homi, isso é pergunta que se faça? Basta deduzir.