DONA EMÍLIA
Eu tinha cerca de nove anos quando adoeci de uma doença que me obrigou a ficar de cama. E foi depois dessa quarentena que eu comecei a gostar de adoecer, graças aos mimos que minha mãe me fez durante aquele período acamado, trancado num quarto e somente sabendo que o mundo exterior ainda existia porque ouvia o galo do vizinho cantar todas as manhãs.
A todo instante chegava ao meu alcance bolacha Maria ou creme-craker, com café, leite ou chá.
Dona Emília me criou mal-acostumado. Aliás, criou a todos os nove filhos. Para ela ninguém jamais cresceu. Continuamos sendo seus meninos, suas crianças, mesmo carregando cada um nas costas o peso dos anos e dos desenganos.
Nunca se mostrou triste aos nossos olhos. A vida lhe foi ingrata depois da viuvez, os filhos escassearam as idas ‘a sua casa aqui em João Pessoa, alegando afazeres outros, mas nunca se escutou dela um protesto, uma reclamação. Quando avistava um deles era para exclamar, sem conter a alegria: “Meu filho!”, e dar aquele abraço gostoso, aquele abraço de mãe.
Uma mãe que sabia chorar de saudade do filho mais novo que partiu da vida, mas que escondia as lágrimas para não dividir o choro com o filho mais velho que ainda vivia.
Mãe Nila, das caminhadas pelas veredas de Princesa, levando o almoço para o amado Miguel que, na roça, fabricava a comida das crianças. Mãe Nila que, depois dos afazeres de casa, sentava-se na calçada da frente para cantar suas saudades acompanhada pelo cavaquinho mágico de Zé Birrim, o filho mais velho. Mãe Nila que tinha prazer em cozinhar bode com feijão verde nos dias de domingo, para ver sua casa se encher de filhos, netos, noras e genros.
Era quando a casinha do Geisel perdia seu jeito solitário e revivia os tempos em que os filhos ainda não tinham partido para fazer vida noutras plagas, cumprindo o dizer bíblico que manda o filho abandonar os pais para se unir ‘a mulher que lhe dará outra família, “…porque a sina das mães é esta sina: amar, cuidar, criar e depois perder”.
E seus olhinhos miúdos se enchiam de felicidade, voltava a ser menina/moça, a mesma menina/moça que um dia foi avistada por um jovem fotógrafo chegado das Alagoas e logo se tornou sua noiva. Um noivado ligeiro, um casamento vexado e um amor que viveu mais de 40 anos.
Faz tempo que não participo daquele almoço domingueiro do Dia das Mães. Nem sei contar mais quantos anos se passaram. Só sei que faz muito tempo.
Ela morreu sozinha, numa enfermaria de Hospital. Na visita do domingo, pediu pra ir embora. Já não falava, apenas o balbuciar de sua boca implorava para deixar aquela cama de enfermaria e ir embora. Fiz ver a ela que seria mais indicado a sua permanência. E ela aceitou os argumentos, como aceitava tudo que lhe diziam. Minha mãe jamais contestou nada. Era conformada com tudo e tudo fazia para agradar aos outros.
Quando a segunda-feira se anunciou, pelo toque do telefone adivinhei que chegara a hora. Dona Emília se fora, depois de meses e meses em cima de uma cama, vítima de AVC.
POSSE DE ALDO
Em mãos o convite para a posse do conterrâneo e amigo Aldo Lopes de Araújo na Academia Paraibana de Letras. Eita como estufo o peito de orgulho ao digitar essa notícia! Mas vamos à posse: Será dia 17 do corrente mês de maio, no auditório Celso Furtado da APL às 18:30 horas. A Academia fica na Rua Duque de Caxias, 25/37, centro de João Pessoa e se exige o traje passeio completo.
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