NOSSO TEMPO
Vivíamos num tempo de muitas aventuras e nenhuma preocupação. Tanto fazia ter dinheiro no bolso como estar liso, com dinheiro ou sem dinheiro a vida era uma eterna aventura. E não poderia ser diferente, pois o cofre de Cícero Lima estava sempre cheio e disponível para socorrer os amigos carentes.
Cícero foi um menino pobre que veio do Curimataú tentar a vida na cidade grande, trazendo consigo uma maleta feita de tábuas, duas mudas de roupas e um mundo de sonhos.
Enfrentou barreiras quase intransponíveis, tentou desistir, insistiu, persistiu e venceu. Virou jornalista, depois assessor de deputado, diplomou-se bacharel em Direito, especializou-se em advocacia criminal e foi o primeiro repórter de rua a ter carro próprio e apartamento na praia, virado para o mar.
Claro, com um status desses arregimentou uma legião de amigos e de amigas, que se juntavam no seu apartamento nos finais de semana para “rezar”. E foi numa noite de “rezas” esplendorosas que aquele jornalista magrinho, com um lado torto, enganchou-se com uma bela morena, os dois rolaram no tapete da sala e o amor durou a noite toda, ele achando que estava emburacando na selva amazônica e ela se agarrando nele, tentando aprumar o que estava torto. No dia seguinte, alquebrado, mas ancho, chegou-se ao anfitrião e confidenciou, com ar de vitória:
– Que morena arrochada, Cícero, esfolei a rola.
E Cícero, cruel:
– Tu passaste a noite furando o tapete!
Ficaram famosos os desfiles de moças loiras e morenas no apartamento de Cícero nas noites de sábado. Logo cedo do dia ele passava na loja e comprava calcinhas para elas usarem enquanto desfilavam para os gulosos olhos dos convidados. Depois disso, bem, não vou contar porque não sou inconveniente.
Só sei que houve o caso da mulata que pediu para fazer amor na praia e teve que conviver com a areia salgada invadindo os seus interiores durante uma semana.
Essas lembranças e outras mais foram evocadas na manhã deste sábado enquanto comíamos um saboroso cuscuz com carne de bode e mocotó no restaurante do Dó, no Mercado da Torre. Na mesa, Cícero, Edmilson Lucena e o Tião Bonitão que voz fala, ainda com o joelho atrofiado.
DAMIÃO DE ZÉ DE QUINCA
Damião é um velho companheiro de infância. Filho do maior fazendeiro de Princesa, Zé de Quinca, mudou-se para João Pessoa e agora integra a comunidade do Bairro dos Estados, muito embora não renuncie a uma visita ao Mercado da Torre, onde o encontrei na feira de sábado.
VELHOS TEMPOS
Lembrar é não ter vergonha do passado, e eu encontrei no arquivo esta relíquia do Bar do João, comigo o companheiro Gilson. Faltou Dudu, mas Dudu se foi com Assis Canário beber a cana de São Pedro.
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Tião, naquele tempo, Ciço era assessor de ELIAS MONTEIRO, então prefeito de Barra de Santa Rosa, o homem mais “culto” do Curimataú Paraibano. ELIAS usava chapéu de massa, calça coronha e botina. Conheci os dois numa festa no Sítio do saudoso “João Mouco”, conterrâneo do jornalista Ciço.
Cicero foi também assessor de Aécio Pereira.