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Domingueiras do Tião

8 de setembro de 2024

ZÉ PEREIRA DO CARNAVAL

Lançava meu livro em famosa cidade do cariri, que, por coincidência, recebia a visita de ilustre filho, igualmente ministro de Corte Superior.

A festa estava linda, maravilhosamente linda, até cantor tinha, com violão e tudo o mais.

A fina flor da sociedade compareceu. Vi deputado, vi prefeita, a Câmara de Vereadores por inteiro, só faltou me darem um título de cidadão, mas aí já seria querer demais.

De repente entra o ministro, o salão silencia respeitosamente. Sou apresentado ao homem, ele recebe um exemplar de “A Guerra de Princesa”, abre, olha, folheia e interroga:

– Você é de Princesa? É a terra de Zé Pereira, não é? Me diga uma coisa, esse Zé Pereira é aquele do carnaval?

Fiquei com vergonha de responder.

 

O sorriso da ex-secretária

Trago comigo a imagem daquela secretária particular olhando pra mim com um sorriso que denotava satisfação e zombaria, como a dizer: “Quem eras tu, quem sois agora”.

O mandato do prefeito Chico Franca acabara, o novo prefeito estava empossado e eu, já ex-secretário de Comunicação Social, fui convidado pelo meu substituto, jornalista Carlos César, para ir ao seu gabinete passar-lhe algumas dicas de como funcionava a Secretaria.

Marcamos para as 9 horas, cheguei pontualmente, mas Carlos, por motivos que não lembro, ainda não estava.

Reencontrei a minha ex-secretária, sentada atrás do velho birô postado próximo a porta de acesso ao gabinete do chefe.

Perguntei pelo secretário, ela disse que ele não estava. Fiz ar de contrariado, sentei-me na poltrona destinada às visitas e de lá vi minha antiga “amiga” esboçar um sorriso de desdém para a auxiliar  ao seu lado.

Aquela frase muda que entendi e gravei: “Quem eras tu, quem sois agora”.

Depois, morta de piedade, perguntou se eu não preferia esperar pelo secretário lá dentro do gabinete.

Não foi preciso. Carlos chegou, apertou minha mão e convidou-me a entrar com ele para uma conversa sigilosa.

Uns 30 minutos depois me despedi do secretário, acenei para minha zombeteira ex-secretária e fui embora.

E ela até hoje não soube que seu emprego foi mantido a meu pedido.

 

Anísio Raça

Anisio Raça não tinha as cabeças dos dedos, mesmo assim tocava violão. E tocava bem. Na festa dos meus nove anos começou a tocar na hora do almoço e só terminou de madrugada, ao fim do estoque de cachaça.

A festa foi grande. Só vi a parte que a idade permitia, o resto soube pelos comentários.

Era Anísio no violão e Luiz de Zé Vermelho no clarinete. E papai cantando uma música do tempo dele, que dizia mais ou menos assim:

Eu não bebia, foi você quem me ensinou

Pouco a pouco, até que me aviciou

Bebo, não é da conta de ninguém

Você não bebe nada e vai morrer também.

Anísio cantava, tocava e bebia. Lembro dele esquentando sardinha coqueiro em fogo de cachaça. A aguardente Altiva, de Vitória de Santo Antão,  era inflamável. Bastava tocar o fósforo para pegar fogo.

Era um companheiro de farra do meu pai. Ele, Expedito Burrego, Expedito Mandu e Cabo Arruda. Este último, o mais íntimo e mais contínuo. Dois amigos inseparáveis. Papai costumava dizer que “Arruda tem uma bufa que ninguém aguenta”. Dizia sorrindo. Coisa de amigos que se tornaram compadres.

Edmilson, afilhado de Cabo Arruda, ouviu papai comentar sobre os exageros do compadre. “Arruda mente muito”, disse na frente de Edmilson.

Mais tarde, quando Cabo Arruda chegou para os papos etílicos, Edmilson, na santa inocência de menino, disse para o padrinho:

– Papai disse que o senhor mente muito.

Levou uma surra.

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1 Comentário

  • Reply Zé bedeu 8 de setembro de 2024 at 13:31

    Tião, o poder é bicho danado. Ele não modifica as pessoas, ele dá a oportunidade das pessoas mostrarem quem realmente são.

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