VALENTE E TEIMOSO
Meu avô materno, Antônio Cazuzão, era primo próximo da mulher do coronel José Pereira, dona Alexandrina. Mas pertencia a banda pobre. Agricultor, sem leitura, morava no mato. Casou duas vezes.
Da primeira esposa não lembro nem o nome. A outra, minha vó Olinta, conheci de perto, mas a perdi quando tinha apenas nove anos.
Dos filhos de meu avô com minha avó Olinta lembro bem, pois com todos convivi.
Eram eles Emília, Severino, José, Nequinho e Jovelina.
Tio Severino era avarento. Sentava à mesa de minha casa com uma xícara de café à frente e tirava o pão do bolso, aos pedaços, para não o compartilhar com os sobrinhos.
Tio Zé fazia doces, cocadas de umbu, quebra-queixo e até bolos. Vendia tudo na feira. Não chegou a casar, amigou-se com uma morena a quem chamávamos de Preta e adotou uma menina, Emília.
Tio Nequinho era nosso xodó. Nunca casou. Era padeiro e adorava um carteado. Enquanto viveu morou com minha avó e com minha Tia Jove, que também preferiu ficar solteira. Ele fazia piscica, uma torta à base de manteiga a qual somente os padeiros tinham acesso. E os sobrinhos dos padeiros também.
Tia Jove foi uma espécie de segunda mãe para todos nós. Tinha a casa dela, mas passava o tempo todo na nossa casa, cuidando da gente e dando pitaco na administração do lar. Devota de Nossa Senhora, era Filha de Maria. E adorava arriscar a sorte no jogo do bicho.
Mas voltemos ao Vovô Antônio.
Era ignorante e teimoso. Pelo que minha mãe contava, quando emburrava com uma coisa, nada o demovia.
Certa vez matou um porco e levou a carne para vender no açougue de Princesa.
Como não tinha licença da Prefeitura, foi intimado pelo fiscal a desocupar a tarimba, pois outro vendedor teria direito ao espaço.
Ele disse que não desocupava. E fez mais: não saía e não vendia.
Quando algum freguês desavisado se aproximava e perguntava quanto era o quilo do porco, Vovô Antônio Cazuzão respondia:
– Né pra vende nam.
A Polícia foi chamada, em vão. O velho continuou onde estava, sem sair e sem vender.
– Daqui não saio, daqui ninguém me tira.
O jeito foi chamar Dona Xandu, a prima ilustre.
E lá vai dona Xandu de Zé Pereira para o açougue salvar o pescoço do primo.
– Antônio, deixe de besteira. Vamos embora, leve a carne, eu compro toda.
E só então Antônio Cazuzão desocupou a tarimba do açougue.
Mas ainda teve o atrevimento do olhar para o soldado e insultar:
– Viu aí?
Do meu novo livro “Lembrar para não esquecer”
SECRETÁRIO VAVÁ
Vavá da Luz, que já foi gerente de hotel, viajante do mundo, cantador de viola e derretedor de corações, está prestes a bater um record mundial: passar 20 anos como secretário de turismo de Ingá.
Também não é para menos. Vavá é artigo de luxo e tê-lo como auxiliar de uma Prefeitura é mais que orgulho para o prefeito, é uma necessidade.
SEM TUNINA
Tunina morreu. Era uma figura impar de Princesa. Viveu bem, 90 anos são muitos anos, mas vai deixar saudades, principalmente no coração de Chico de Nadir, seu amado.
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