RUA DA LAPA
A mocidade começava cedo a frequentar as moças da Rua da Lapa. Era o cabaré de Estrela, abrigo de lindas moças “desencaminhadas” que moravam separadas das demais mulheres da cidade por serem, como diziam, raparigas.
Os velhos também faziam ponto , com uma diferença: enquanto aos rapazes era permitido o prazer fugaz, muitas vezes dado por amor sem cobrar nada além do beijo apaixonado, aos velhos se permitia bancar puta em troca da exclusividade na cama. Uma exclusividade que só existia nas aparências, pois quando estes se ausentavam as suas amadas amavam de verdade os que não tinham posses para manter uma mulher financeiramente.
A Rua da Lapa foi, portanto, o pasto dos meninos se pondo rapazes. Nela a timidez ia embora, o medo perdia espaço para a intrepidez e o gosto de pecado se fazia maior do que o sabor das hóstias oferecidas por João Mandu.
E de quantas que nela moravam eu guardo na lembrança:
Rita Quarto de Bode, Lindalva, Lurdes Branca, Toinha Baú, Bola, Expedita de Aderbal, Eridan, Pixuita, Rosa Caracaxá, Lurdes de Zé de Totô e, claro, Estrela, a maior de todas, a mais respeitada, a mulher das buchadas, das linguiças caseiras e esposa fidelíssima de um Pedro Caboclo chegado da cidade grande para passar um verão e, apaixonado, perpetuou-se por todos os invernos.
Guardo na lembrança a reação de Lurdes Branca a uma cantada do compadre dias depois do compromisso assumido na Fogueira de São João:
-Comadre que trepa com compadre tem cem anos de atraso!”
Rita era a cunhada. Zé Birrim fora seus arreios. E embora fizesse as caridades familiares ao cunhado ainda imberbe, gemia na hora H o nome do amado, dizendo aos ouvidos adolescentes do mancebo em flor, “me mata, meu Birrim!”.
NIVER DE MARCOS PIRES
Marcos Pires entrou no time dos setentões. Comemorou no sábado, entre palmas e cantares, durante café da manhã na Padaria Bonfim. Não fui porque estava longe comemorando outro aniversário, o de Dona Cacilda.
NIVER DE CACILDA
Foi aqui em Areia, longe de tudo e de todos, que nos juntamos para comemorar o aniversário dela, Dona Cacilda, minha “mulé”, que insiste em se chamar de idosa e eu insisto em chama-la de gatinha.
5 Comentários
Tião, velho Tião, também conhecido aqui em Princesa, quando menino, pelo apelido de Tuta, cabra bom. Êsse assunto do antigo e inesquecível Cabaré de Estrêla, localizado na Rua da Lapa, já abordado nesse blog diversas vezes e deverá ser sempre lembrado, porque faz parte da história da nossa cidade. Rita Quarto de Bode foi quem tirou meu “CABAÇO” no dia que completei 16 anos. Boquinha da noite de um sábado muito chuvoso. A partir daquele dia eu só procurava Rita. Todo sábado e no mesmo horário. Rita me orientou até segurar a bacia com água para lavar meus “possuídos” e mostrar que a toalha estava limpa. Muitos dos rapazes da época, hoje senhores e notáveis doutores nas diversas áreas de atuação profissional, também frequentavam o velho lupanar da Rua da Lapa, embora com medo de serem vistos. Hoje, com 72 anos, mantenho guardada na mente minha pobre e saudável juventude vivida na terra que me viu nascer, Bairro Maia, Princesa Isabel.
O amigo Tião tem um carinho especial por Rita quarto de bode.
Parabéns Dona Cacilda! Muita paz, saúde e luz.
Obrigado amigo
Impressionante como você escreve bem, um Ascendino Leite e por escrever tão bem os fatos pitorescos do nosso sertão, um Jorge Amado paraibano! Sua cultura é igual a minha, o que você fala, eu vivi em Conceição, era criança mas lembro que Pixuita fez ponto lá pra acalentar corações tristes e decepcionados. Sua coluna é um retorno diário à nossa cultura sertaneja que ganhou vida na capital! Abraço